sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O Amor Nasceu


O Amor Nasceu
(Publicado no Site www.advir.com.br  em nov/2010)
Felippe Amorim

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. (Isaías 9:6)


            Existem alguns textos na Bíblia que imperceptivelmente são usados com mais frequência em determinadas épocas do ano. Embora o nascimento de Jesus seja um evento importante em qualquer época do ano, quando nos aproximamos do Natal os olhos dos pregadores se voltam de forma especial para estes trechos das Sagradas Escrituras.
            Ao analisarmos o relato dos evangelistas sobre o nascimento do Messias algumas perguntas surgem e suas respostas são muito relevantes para nós. Quais as lições que podemos tirar das circunstâncias que envolveram o nascimento de Jesus? Quais os propósitos de Deus para este evento? Que efeitos ele deve ter em nossa vida?

O Anúncio

            Lucas, em seu evangelho, descreve o momento em que a virgem Maria foi avisada de sua missão.  A visita do anjo (Lc. 1:28-35) e seu diálogo com a escolhida nos revelam algumas características de Maria que a fizeram apta a receber esta grande responsabilidade. O anjo afirma: “O Senhor é contigo”(V.28). Nenhuma pessoa que esteja distante do Senhor pode receber grandes responsabilidades vindas do céu. Não foi coincidência esta saudação do anjo para com Maria. Ter o Senhor conosco é requisito essencial se queremos fazer a obra de Deus.
            Outro requisito que se encontrava na vida de Maria está no verso 30: “achaste graça diante de Deus”. Nenhuma boa característica dos seres humanos pode torná-los bons diante de Deus, pois quando nos colocamos diante do Altíssimo nossa situação miserável de pecadores logo aparece diante da santidade de Deus. Mas quando nos apropriamos da Graça de Deus, então podemos estar habilitados para exercer uma grande obra para Ele.
            O Espírito Santo foi o agente executor do plano divino em Maria(V. 35). A terceira pessoa da trindade tem atuado na vida de todos aqueles que se colocam nas mãos do Criador. Maria não havia conhecido homem algum. Para uma mulher virgem dar à luz um filho era necessário um milagre e naquele ocasião estavam unidos todos os elementos necessários para que se realizasse um. Comunhão com Deus e a ação do Espírito Santo, eis a fórmula para que aconteçam milagres.
           
Quem Esperava ?

            O evangelho de Mateus relata uma inesperada visita recebida por Jesus após seu nascimento. Os magos vindos do oriente (Mt. 2:1-3), foram os primeiros a se mobilizarem para homenagear o Rei dos reis que havia nascido. Estes homens eram considerados pagãos pelos judeus, mas foram exatamente os pagãos que estavam atentos para a chegada do Messias, enquanto a maioria dos judeus, povo a quem Deus confiou seus oráculos, estava completamente desapercebida dos eventos que ocorriam.
            Ellen G. White comentando este evento escreveu: “Ansiosos, dirigem os passos para diante, esperando confiantemente que o nascimento do Messias fosse o jubiloso assunto de todas as bocas. São, porém, vãs suas pesquisas. Entretanto na santa cidade, dirigem-se ao templo. Para seu espanto, não encontram ninguém que parecesse saber do recém-nascido Rei. Suas perguntas não despertavam expressões de alegria, mas antes de surpresa e temor, não isentos de desprezo”. (O Desejado de Todas as Nações, 61)
            No lugar onde mais deviam estar falando de Jesus, as pessoas estavam preocupadas com seus afazeres diários. Os magos esparevam que Jesus e seu nascimento fossem o principal assunto da cidade, mas, para sua surpresa, não era. Hoje os cristãos deveriam ter como principal assunto de suas conversas, os temas espirituais, mas, infelizmente, para uma parte dos cristãos o resultado do jogo de futebol, as questões da política nacional e até os fatos ocorridos nas novelas têm sido mais comentados do que Jesus e Suas palavras.


O propósito do nascimento.

            Todas as ações de Deus tem um propósito definido. O Nascimento de Jesus não foi diferente. As escrituras deixam claro qual foi. Em Lucas 2:10-11 lemos: “Nasceu o Salvador” e alguns versículos depois Simeão afirma: “Os meus olhos viram o salvador (V. 29-30).
            Aquele menino que nasceu em uma mangedoura em Belém, era o Salvador da humanidade. Jesus Nasceu para salvar. É Seu grande amor que nos garante a vida eterna (Jo. 3:16). O Rei do universo se fez criança, mesmo sabendo tudo o que sofreria: o desprezo, o descrédito, a rejeição e finalmente a cruz. Jesus escolheu nascer e viver entre nós com o objetivo maior de nos salvar e devolver-nos ao Éden, de onde nunca deveríamos ter saído.

Os efeitos do Nascimento

            Um ato de amor como o de Jesus, não pode deixar de causar uma reação em nós. Existem efeitos. Em  Lucas 2:34 Simeão profere palavras proféticas em relação à criança que estava em seus braços. Ele diz que Jesus seria “posto para ruína e levantamento” e seria “Alvo de contradição”.
            Em algum momento de sua história, cada ser humano se defrontará com Jesus e seus ensinos e de acordo com a decisão que tomar Jesus será posto para ele como “ruína ou levantamento”. A vontade do Salvador é “levantar” a todos, mas quem não o aceitar estará escolhendo inevitavelmente a ruína para sua vida.
            Finalmente Jesus seria alvo de contradição. Ao longo da história da humanidade Jesus tem sido amado e odiado, venerado e perseguido. Ele mesmo disse que quem com Ele não ajuntasse, espalharia (Mt. 12:30). Esta profecia tem se cumprido ao longo da história. A pergunta mais importante, porém, é :quais os efeitos do nascimento de Jesus em sua vida? Diante da contradição a qual Jesus é alvo, de que lado você está?
            Não adiantará Jesus ter nascido em Belém e revolucionado o mundo, se Ele não nascer em sua vida e revolucioná-la, dando a você felicidade e , principalmente, salvação. Abra seu coração a Jesus e permita que Ele nasça todos os dias.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

JOÃO BATISTA: UM GENUÍNO ADVENTISTA

JOÃO BATISTA: UM GENUÍNO ADVENTISTA
Publicado na Revista Adventista de Novembro/2010
Vinícius Mendes


A missão do povo remanescente escatológico prefigurada na vida e ministério de João Batista



“Mas para que saíste? Para ver um profeta? Sim eu vos digo, e muito mais que um profeta. Este é de quem está escrito: Eis aí eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior que João Batista; mas o menor do reino dos céus é maior do que ele.” Mt 11: 9-11



A missão de João Batista

O texto acima apresenta uma das mais categóricas afirmações de Jesus a respeito de uma pessoa. Cristo diz que João Batista foi o maior homem que nasceu neste planeta. A pergunta natural que surge após uma detida reflexão nesses versos é: que motivos levaram Jesus a fazer tão enfática declaração? As próprias palavras de Cristo no verso 10 revelam o motivo: João Batista foi quem recebeu a mais importante missão dada a um homem: preparar o caminho para o aparecimento de Jesus, em Sua primeira vinda. Se acrescentarmos ainda o fato de que João cumpriu fielmente essa missão, perceberemos com clareza a motivação de Jesus em declarar algo tão forte a respeito de uma pessoa de carne e osso como qualquer um de nós.

A respeito disso aplica Ellen White: “Preparando o caminho para o primeiro advento de Cristo, (João) era representante dos que têm que preparar um povo para a segunda vinda de nosso Senhor.” (WHITE, 101) Isso nos faz pensar que, se João Batista representa aqueles que prepararão o mundo para a segunda vinda de Jesus, nós como povo de Deus, vivendo mo limiar da história, muito próximos da volta de Cristo, deveríamos estudar a vida de João Batista e tentar extrair dela os princípios norteadores para que possamos cumprir cabalmente a solene missão que nos foi confiada e sermos declarados como grandes homens e grandes mulheres como ocorreu com João Batista.

A origem de João Batista

Homens como João Batista não são produto do acaso. Vidas vitoriosas como a de João são resultado, em via de regra, de uma educação que vislumbra para os filhos a eternidade. Neste momento, seria relevante então meditarmos em que tipo de pessoas foram escolhidas por Deus para educarem o precursor do Messias e o que eles fizeram para preparar o futuro profeta.

“Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão e se chamava Isabel”. (Lc 1:5) Esse verso contém um detalhe essencial, o qual está na base da família que produziria um homem como João. O verso diz que o pai de João, Zacarias, era sacerdote e menciona o critério que ele utilizou para escolher a sua esposa: “era das filhas de Arão.” O sacerdócio foi dado a Arão e sua descendência perenemente (Ex 28 :1; Nm 7:19). Logo, essa expressão indica que Isabel era também da linhagem sacerdotal. Fica evidente, então, que Zacarias resolveu se casar com alguém que além de compartilhar a mesma fé que ele tinha, fora criada em uma família que servia ao Senhor no sacerdócio. Há aqui uma importante lição para nós. Um homem como João Batista só nasce em um lar de pais sacerdotes. Pais que estejam dispostos a oferecer suas vidas como oferta agradável a Deus. Pais que gastem tempo de qualidade, ao amanhecer e ao entardecer, apresentando-se a Deus.

Se houve um tempo em que cada casa deve ser uma casa de oração, é hoje. Pais e mães devem muitas vezes erguer o coração a Deus em humilde súplica por si e por seus filhos. Que o pai, como o sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde, enquanto a esposa e filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa tal, Jesus gostará de demorar-Se. (PP, 144)

Esse texto não poderia ser mais claro. Deus deseja que, de nossas casas, ascendam constantes orações aos céus. Pai e mãe devem ser parceiros nisso para que os filhos possam aprender tal rotina e desejar viver isso em sua vida adulta. E ainda, o detalhe mais lindo: Jesus gostará de demorar-se em casas assim. Essa mensagem é para jovens que ainda não decidiram com que vão se casar, evidenciando o tamanho da responsabilidade que têm ao decidir-se, como também para famílias estabelecidas, deixando clara a importância de implementarem uma vida sacerdotal.

Outro aspecto relevante no caráter dos pais de João Batista está expresso em Lc 1:6. “Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor.” Esse texto revela a atitude zelosa que os pais de João Batista mantinham. Eles procuravam tomar conhecimento de toda a revelação divina disponível a eles e viver à altura do que conheciam. Assim puderam moldar o caráter daquele que prepararia o caminho para o primeiro advento de Jesus. Fica para nós também um importante modelo de vivência como também de educação dos nossos filhos.

No verso 13 do cap. 1 de Lucas, podemos perceber que Zacarias era um homem que entendia o tempo em que vivia. “Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho; a que darás o nome de João.” Esse verso indica que Zacarias orava com base no cumprimento da promessa da vinda do Messias. Ele havia entendido, através do estudo das profecias, que aquele era o tempo em que Deus visitaria o Seu povo. Ele orava para que o Senhor cumprisse a Sua promessa. Precisamos entender o tempo em que vivemos, discernir os tempos e épocas e orarmos para que as promessas que Deus tem para nossos dias se cumpram, como, por exemplo, o envio da Chuva Serôdia e o retorno de Jesus.

João Batista foi forjado num lar cujos pais reuniam as características acima. Foi produto dessa educação e o resultado foi se tornar um proclamador da justiça.

Mensagem de João Batista

“Naqueles dias , apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” Mt 3:1e 2 João Batista tinha uma mensagem simples e direta para dar às pessoas de seu tempo. Ele sabia que o Messias estava prestes a surgir e que o povo não estava preparado para recebê-LO. O evangelista Mateus resume a mensagem de João em duas orações: a primeira contendo uma verbo no imperativo (exortando a uma tomada de decisão) “arrependei-vos” e a segunda, contendo uma frase explicativa, apresentando o motivo pelo qual as pessoas deveriam se arrepender “porque está próximo o reino dos céus.”

É interessante perceber que a mensagem de João Batista tem um conteúdo muito semelhante à mensagem que Deus espera que o povo remanescente em nossos dias dê ao mundo e que se encontra resumida na primeira mensagem angélica de Apocalipse. “Temei a Deus e dai-lhe glória porque vinda é a hora de seu juízo... .” Ap 14:7. Esta mensagem também é composta por duas frases, uma imperativa e outra explicativa, assim como a mensagem de João. Devemos dizer às pessoas que elas precisam temer a Deus, isto é, reverenciá-lo, voltar-se para Ele e abandonar os seus pecados e a causa disso é “porque vinda é a hora de seu juízo.” Nossa mensagem distintiva de um santuário celestial no qual ocorre um juízo investigativo deve nos inflamar a anunciar ao mundo que Jesus está voltando e que hoje é o tempo de que todos dispõem para preparo a fim de se encontrarem salvos quando Jesus voltar.

João não hesitou em dar a sua mensagem. Era uma mensagem direta e condenatória, mas ele a anunciou, dando um importante exemplo. O resultado dessa mensagem está expresso nos versos 5 e 6 de Mateus 3: “Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.” Que extraordinário! Uma mensagem simples, direta e sem rodeios atraiu milhares de pessoas, levando-as ao batismo. Nós precisamos evangelizar o mundo e, às vezes, devido às grandes dificuldades que enfrentamos, nos questionamos a respeito de como poderemos cumprir a grande comissão evangélica. João nos dá uma grande lição aqui. As pessoas precisam ser levadas a abandonar seus pecados. Nossa mensagem e, sobretudo, nossa vida, darão a elas esse recado. Era assim que João Batista fazia.

“Usava João vestes de pelos de camelo e um cinto de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre.” Mt 3: 4. Esse texto, de alguma forma, apresenta a estratégia que João usava para atrair as pessoas com o propósito de ouvir a sua mensagem. Diz Ellen White, comentando esse texto:

Ao tempo de João Batista, a cobiça das riquezas e amor ao luxo e a ostentação se haviam alastrado. Os prazeres sensuais, banquetes e bebidas, estavam causando moléstias e degeneração física, amortecendo as percepções espirituais. João devia assumir a posição de reformador. Por sua vida abstinente e simplicidade de vestuário, devia constituir uma repreensão para sua época. (White, 100)



João era diferente. Esse era o seu segredo. Enquanto o mundo ostentava, ele era simples. Na verdade, esse é o princípio que devemos tirar da vida desse profeta e aplicar em nossa prática como anunciadores do iminente retorno de Jesus. Se queremos que as pessoas de nosso tempo ouçam nossa mensagem, precisamos viver diferente da forma como elas vivem. Precisa haver uma clara distinção entre os servos de Deus e aqueles que não O servem. Por incrível que pareça, isso atrai. As pessoas estão em busca de referenciais. Nós temos uma mensagem diferente do estilo de vida do mundo. Precisamos tão-somente vivê-la e as pessoas estarão dispostas a ouvir o que temos a dizer.

É importante ressaltar ainda outro ponto. Veste de pelos de camelo é a roupa com a qual a Bíblia descreve a vestimenta de Elias. Isso é extremante significativo. João tinha como referencial um grande profeta do passado. Nitidamente imitava-o. É disso que nós precisamos. Ao invés de imitar os ícones que o mundo tem produzido na mídia e nos esportes, por exemplo, por que não imitar Jesus, seus discípulos, os reformadores e os pioneiros de nossa igreja. Não estou falando aqui de extremismos, como nos vestir da mesma forma que se vestiam essas pessoas. Estou dizendo que podemos extrair o princípio por trás dessa atitude de João. Devemos ter o mesmo amor à verdade e as almas que os grandes homens e mulheres do passado tiveram. Fazer de suas vidas objeto de nosso estudo e permitir que as características espirituais que modelaram suas vidas se apoderem das nossas. A Bíblia diz que nós somos transformados por aquilo que contemplamos. Se continuamente contemplarmos os ícones do mundo seremos como eles. Se contemplarmos a Jesus e Seus seguidores, através do estudo da Bíblia e do Espírito de Profecia, naturalmente o rosto de Jesus se imprimirá em nós. Assim fez João, assim podemos fazer.

O fim de João Batista

Em Mateus 11:11, Jesus apresenta João Batista de forma gloriosa. O Senhor diz que João foi o maior homem nascido de mulher. O paradoxo dessa afirmação é que enquanto Cristo dizia isso, o profeta estava encerrado em um cárcere do qual foi retirado para ser morto pelo ímpio Herodes. Que final! Às vezes fico pensando que João merecia um fim diferente. Depois de viver para pregar o evangelho, quem sabe uma digna aposentadoria, uma bela casinha de campo e a companhia de pessoas amadas seria o mais justo pagamento para um homem de Deus como foi João.

A verdade é que os caminhos que João Batista escolheu os levaram para um destino diferente desse. Ele era fiel à sua missão de condenar o pecado e foi isso que fez com relação à pecaminosa situação em que viviam Herodias e Herodes. O resultado foi prisão e morte. O interessante é que a esse homem preso e humilhado é que Cristo dedica uma de suas mais gloriosas declarações: “o maior nascido de mulher.” O comentário da senhora White é enfático a respeito disso:

Que em face da maneira de avaliar do Céu constitui grandeza? Não o que o mundo considera como tal; não riqueza, nem posição, nem nobreza de linguagem, nem dons intelectuais considerados em si mesmos. Se grandeza intelectual, à parte de qualquer consideração mais elevada, é digna de honra, então Satanás merece nossa homenagem, que suas faculdades intelectuais nenhum homem já igualou. (...) Valor moral, eis o que é estimado por Deus. Amor e pureza são os atributos que mais aprecia. João era grande aos olhos do Senhor. (WHITE, 219)

Esse é o tipo de homem e mulher que Deus espera contar em nossos dias. Gente grande aos olhos do céu. Gente que resolveu desprezar a glória dos homens e se apegar à Deus, custe o que custar. Olhando para o calabouço em que João Batista foi posto e sua decapitação, entretanto, ainda permanece um ar de injustiça. Parece que está faltando alguma coisa, como se a história dele não estivesse concluída. Essa é a impressão que tenho. No entanto, a senhora White acrescenta o seguinte comentário a respeito do caráter das pessoas que ressuscitaram com Jesus e ascenderam com Ele para o céu.

Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro e, ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. Eram os que haviam colaborado com Deus, e que à custa da própria vida tinham dado testemunho da verdade. Agora deviam ser testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos. (WHITE, 786)

Naturalmente, o texto acima não declara explicitamente que João Batista ressuscitou com Cristo, mas apresenta uma característica muito adequada àquela que marcou a vida de João. Não há dúvida de que João Batista “à custa da própria vida” deu testemunho da verdade. João morreu porque defendia a verdade. Tenha João Batista ressuscitado ou não, fica-nos a certeza de que os salvos o verão no céu. O fato é que resta-nos, tal como ele foi, sermos embaixadores de Deus, anunciando a breve vinda de Jesus, apropriando-nos da verdadeira grandeza.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Iguais aos Outros?

Iguais aos Outros?

Felippe Amorim


“e lhe disseram: Vê que estás velho e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o tem todas as nações.” (I Samuel 8:5)



Ao lermos o texto acima podemos inicialmente pensar que o problema deste episódio foi o pedido do povo. Mas o fato de pedir um rei para Israel não é um problema do ponto de vista bíblico.

Deus já havia previsto muito tempo antes que Ele estabeleceria um rei sobre seu povo. Em Gênesis 17: 6 e 16, Deus já tinha mencionado a Abraão e Sara que viria um rei sobre seu povo. Jacó também recebeu a mesma promessa em Gênesis 35:11 e Gênesis 49:10. O Senhor já havia, inclusive, estabelecido as regras da monarquia em Deuteronômio 17:14-20, onde Ele fala que o rei deveria governar a partir de Sua Palavra.

Como vimos acima o problema não estava com o pedido feito a Samuel. O real problema, portanto, estava nos motivos que levaram o povo a pedir um rei.

O período dos Juízes foi de intensos perigos externos. Diversos povos ameaçavam a integridade física e territorial do povo escolhido. Dentre eles estavam os amorreus (norte) e amonitas (oriente). As Escrituras deixam aparente que o povo que mais os incomodava eram os filisteus, que após a decadência dos Hititas obtiveram o monopólio das armas de ferro, o que dava a eles vantagens bélicas ( I Samuel 13:19-21).

Essas ameaças de invasão dos povos vizinhos foram um dos motivos que levaram o povo a solicitar o estabelecimento de um rei.

Os problemas não se restringiam às questões bélicas. Havia problemas mais sérios ainda, relacionados à liderança espiritual do povo. Samuel estava velho e, portanto, próximo de morrer. No período dos juízes era comum que, após a morte de um desses líderes, se passasse muito tempo sem liderança até que outro juiz fosse estabelecido. Como Samuel estava próximo de morrer, certamente o povo estava temeroso de ficar outro período longo sem uma tão necessária liderança.

Esta situação se agravava porque os filhos de Samuel, que seriam a sucessão natural dele, não seguiam seus passos, pelo contrário, eram completamente afastados dos padrões de Deus(I Samuel 8:3).

O problema com a liderança em Israel teve um efeito direto sobre a atitude do povo em relação aos líderes e ao próprio Deus.

Devemos analisar também o próprio pedido feito pelo povo a Samuel. Nele estão contidos alguns elementos importantes para a compreensão daquela complexa situação.

Um primeiro aspecto é a precocidade do pedido do povo. Deus havia prometido estabelecer uma monarquia entre seu povo, mas o tempo deste estabelecimento era o Senhor que determinaria e não o povo(Gn 17:6, Nm. 24:17, Dt. 17:15, Dt. 17:15). Não esperar pelo tempo de Deus foi um dos aspectos errados daquele controvertido pedido feito pelo povo.

Na sequência do texto de I Samuel 8:5, podemos perceber outro aspecto falho deste episódio. O povo pediu “um rei para que nos governe”. Até então Israel era uma teocracia, portanto Deus os governava. Os anciãos, no entanto, rejeitaram a liderança divina e pediram a liderança de um homem. O próprio Deus no diálogo com Samuel atestou isso(I Sm. 8:7).

Há ainda um próximo erro contido no pedido do povo exposto no verso analisado. Existia um vontade imbutida no coração do povo: ser igual as outras nações. Essa foi a justificativa utilizada pelos anciãos para pedir um rei. Deus em diversas ocasiões havia advertido que o seu povo deveria ser distinto dos demais povos da terra(Ex. 8:23, Ex. 19:5,6, Lv 20:6,7, Dt. 7:6).

Os anciãos de Israel foram de encontro a uma recomendação expressa de Deus: Ser diferente. Esta oposição aos desígnios de Deus não poderia trazer outra coisa, senão maldição. Samuel chegou a advertir o povo sobre as consequências de instituir uma monarquia naquele momento (I Sm 8:11 a 18).

Duras advertências foram feitas por Samuel. O rei recrutaria servos, imporia trabalhos forçados, cobraria elevados impostos e faria desaparecer a liberdade e a igualdade entre o povo. Mesmo diante de todas estas consequências os anciãos confirmaram seu pedido(I Sm 8:19 e 20).

Eles realmente estavam decididos a trocar a liderança de Deus pela liderança de homens. Deus em sua misericórdia atendeu o pedido do povo e através do resignado profeta Samuel ungiu Saul, mas as consequências das más escolhas do povo vieram sobre eles, porque as consequências de nossas ações inevitavelmente virão sobre nós. O problema do povo não foi pedir um rei a Samuel. Os problemas foram não esperar pelo tempo de Deus, rejeitar a soberania de Deus sobre o povo e querer ser iguais às outras nações.

Este episódio da história do povo de Israel deve ser motivo de meditação para os cristãos modernos. Os erros cometidos por eles devem ser evitados por nós. Uma das lições que podemos aprender é que quando a liderança do povo (pastores, anciãos, diretores, etc.) não está em plena condições físicas ou espirituais de liderar a igreja, sérios problemas podem vir sobre a congregação, inclusive a apostasia de grande parte dos irmãos. Quem está na liderança precisa vigiar tanto a si mesmo, quanto à sua família, para que não incorra nos erros de Samuel, era um fiel servo de Deus, mas não obteve sucesso na criação dos filhos.

Esperar pelo tempo de Deus, não tentando adiantar os planos dEle para nossa vida é outro desafio que temos enquanto Israel espiritual. Confiemos em seus desígnios!

Aceitar a soberania do Senhor sobre nossas vidas é outra condição essencial para uma vida feliz. Ele é o dono e todas as vezes que tentamos ocupar o lugar que só pertence a Ele, certamente acabaremos mal.

Outra preciosa lição que necessitamos internalizar é a de sermos diferentes do mundo. Infelizmente muitos estão crendo na satânica filosofia de parecer com o mundo para ganhar o mundo. Outros querem paracer pelo simples fato de realmente serem “menos diferentes”. A diferença incomoda e alguns cristãos não estão dispostos a pagar o preço.

Ellen White comenta este assunto da seguinte forma: “Os israelitas não compreendiam que serem neste sentido diferentes de outras nações era um privilégio e bênção especiais. Deus havia separado os israelitas de todos os outros povos, para deles fazer Seu tesouro peculiar. Eles, porém, não tomando em consideração esta alta honra, desejaram avidamente imitar o exemplo dos gentios! E ainda o anelo de conformar-se às práticas e costumes mundanos existe entre o povo professo de Deus. Afastando-se eles do Senhor, tornam-se ambiciosos dos proveitos e honras do mundo. Cristãos acham-se constantemente procurando imitar as práticas dos que adoram o deus deste mundo. Muitos insistem em que, unindo-se aos mundanos e conformando-se aos seus costumes, poderiam exercer uma influência mais forte sobre os ímpios. Mas todos os que adotam tal método de proceder, separam-se desta maneira da Fonte de sua força. Tornando-se amigos do mundo, são inimigos de Deus. Por amor à distinção terrestre, sacrificam a indizível honra a que Deus os chamou, honra esta de mostrarem os louvores dAquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.” (Patriarcas e Profetas, 607)

Há um imperativo divino. Devemos ser diferentes. A nossa roupa deve ser diferente, nossa alimentação deve ser diferente, nossa música deve ser diferente, enfim, os cristãos tem que atender ao chamado de Deus: sede santos, ou seja, separados.

A oração da igreja de Deus deve ser constantemente que o Senhor nos ajude a nos submetermos a Ele e aceitar os desafios que a Sua Palavra constantemente nos faz.