quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Iguais aos Outros?

Iguais aos Outros?

Felippe Amorim


“e lhe disseram: Vê que estás velho e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o tem todas as nações.” (I Samuel 8:5)



Ao lermos o texto acima podemos inicialmente pensar que o problema deste episódio foi o pedido do povo. Mas o fato de pedir um rei para Israel não é um problema do ponto de vista bíblico.

Deus já havia previsto muito tempo antes que Ele estabeleceria um rei sobre seu povo. Em Gênesis 17: 6 e 16, Deus já tinha mencionado a Abraão e Sara que viria um rei sobre seu povo. Jacó também recebeu a mesma promessa em Gênesis 35:11 e Gênesis 49:10. O Senhor já havia, inclusive, estabelecido as regras da monarquia em Deuteronômio 17:14-20, onde Ele fala que o rei deveria governar a partir de Sua Palavra.

Como vimos acima o problema não estava com o pedido feito a Samuel. O real problema, portanto, estava nos motivos que levaram o povo a pedir um rei.

O período dos Juízes foi de intensos perigos externos. Diversos povos ameaçavam a integridade física e territorial do povo escolhido. Dentre eles estavam os amorreus (norte) e amonitas (oriente). As Escrituras deixam aparente que o povo que mais os incomodava eram os filisteus, que após a decadência dos Hititas obtiveram o monopólio das armas de ferro, o que dava a eles vantagens bélicas ( I Samuel 13:19-21).

Essas ameaças de invasão dos povos vizinhos foram um dos motivos que levaram o povo a solicitar o estabelecimento de um rei.

Os problemas não se restringiam às questões bélicas. Havia problemas mais sérios ainda, relacionados à liderança espiritual do povo. Samuel estava velho e, portanto, próximo de morrer. No período dos juízes era comum que, após a morte de um desses líderes, se passasse muito tempo sem liderança até que outro juiz fosse estabelecido. Como Samuel estava próximo de morrer, certamente o povo estava temeroso de ficar outro período longo sem uma tão necessária liderança.

Esta situação se agravava porque os filhos de Samuel, que seriam a sucessão natural dele, não seguiam seus passos, pelo contrário, eram completamente afastados dos padrões de Deus(I Samuel 8:3).

O problema com a liderança em Israel teve um efeito direto sobre a atitude do povo em relação aos líderes e ao próprio Deus.

Devemos analisar também o próprio pedido feito pelo povo a Samuel. Nele estão contidos alguns elementos importantes para a compreensão daquela complexa situação.

Um primeiro aspecto é a precocidade do pedido do povo. Deus havia prometido estabelecer uma monarquia entre seu povo, mas o tempo deste estabelecimento era o Senhor que determinaria e não o povo(Gn 17:6, Nm. 24:17, Dt. 17:15, Dt. 17:15). Não esperar pelo tempo de Deus foi um dos aspectos errados daquele controvertido pedido feito pelo povo.

Na sequência do texto de I Samuel 8:5, podemos perceber outro aspecto falho deste episódio. O povo pediu “um rei para que nos governe”. Até então Israel era uma teocracia, portanto Deus os governava. Os anciãos, no entanto, rejeitaram a liderança divina e pediram a liderança de um homem. O próprio Deus no diálogo com Samuel atestou isso(I Sm. 8:7).

Há ainda um próximo erro contido no pedido do povo exposto no verso analisado. Existia um vontade imbutida no coração do povo: ser igual as outras nações. Essa foi a justificativa utilizada pelos anciãos para pedir um rei. Deus em diversas ocasiões havia advertido que o seu povo deveria ser distinto dos demais povos da terra(Ex. 8:23, Ex. 19:5,6, Lv 20:6,7, Dt. 7:6).

Os anciãos de Israel foram de encontro a uma recomendação expressa de Deus: Ser diferente. Esta oposição aos desígnios de Deus não poderia trazer outra coisa, senão maldição. Samuel chegou a advertir o povo sobre as consequências de instituir uma monarquia naquele momento (I Sm 8:11 a 18).

Duras advertências foram feitas por Samuel. O rei recrutaria servos, imporia trabalhos forçados, cobraria elevados impostos e faria desaparecer a liberdade e a igualdade entre o povo. Mesmo diante de todas estas consequências os anciãos confirmaram seu pedido(I Sm 8:19 e 20).

Eles realmente estavam decididos a trocar a liderança de Deus pela liderança de homens. Deus em sua misericórdia atendeu o pedido do povo e através do resignado profeta Samuel ungiu Saul, mas as consequências das más escolhas do povo vieram sobre eles, porque as consequências de nossas ações inevitavelmente virão sobre nós. O problema do povo não foi pedir um rei a Samuel. Os problemas foram não esperar pelo tempo de Deus, rejeitar a soberania de Deus sobre o povo e querer ser iguais às outras nações.

Este episódio da história do povo de Israel deve ser motivo de meditação para os cristãos modernos. Os erros cometidos por eles devem ser evitados por nós. Uma das lições que podemos aprender é que quando a liderança do povo (pastores, anciãos, diretores, etc.) não está em plena condições físicas ou espirituais de liderar a igreja, sérios problemas podem vir sobre a congregação, inclusive a apostasia de grande parte dos irmãos. Quem está na liderança precisa vigiar tanto a si mesmo, quanto à sua família, para que não incorra nos erros de Samuel, era um fiel servo de Deus, mas não obteve sucesso na criação dos filhos.

Esperar pelo tempo de Deus, não tentando adiantar os planos dEle para nossa vida é outro desafio que temos enquanto Israel espiritual. Confiemos em seus desígnios!

Aceitar a soberania do Senhor sobre nossas vidas é outra condição essencial para uma vida feliz. Ele é o dono e todas as vezes que tentamos ocupar o lugar que só pertence a Ele, certamente acabaremos mal.

Outra preciosa lição que necessitamos internalizar é a de sermos diferentes do mundo. Infelizmente muitos estão crendo na satânica filosofia de parecer com o mundo para ganhar o mundo. Outros querem paracer pelo simples fato de realmente serem “menos diferentes”. A diferença incomoda e alguns cristãos não estão dispostos a pagar o preço.

Ellen White comenta este assunto da seguinte forma: “Os israelitas não compreendiam que serem neste sentido diferentes de outras nações era um privilégio e bênção especiais. Deus havia separado os israelitas de todos os outros povos, para deles fazer Seu tesouro peculiar. Eles, porém, não tomando em consideração esta alta honra, desejaram avidamente imitar o exemplo dos gentios! E ainda o anelo de conformar-se às práticas e costumes mundanos existe entre o povo professo de Deus. Afastando-se eles do Senhor, tornam-se ambiciosos dos proveitos e honras do mundo. Cristãos acham-se constantemente procurando imitar as práticas dos que adoram o deus deste mundo. Muitos insistem em que, unindo-se aos mundanos e conformando-se aos seus costumes, poderiam exercer uma influência mais forte sobre os ímpios. Mas todos os que adotam tal método de proceder, separam-se desta maneira da Fonte de sua força. Tornando-se amigos do mundo, são inimigos de Deus. Por amor à distinção terrestre, sacrificam a indizível honra a que Deus os chamou, honra esta de mostrarem os louvores dAquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.” (Patriarcas e Profetas, 607)

Há um imperativo divino. Devemos ser diferentes. A nossa roupa deve ser diferente, nossa alimentação deve ser diferente, nossa música deve ser diferente, enfim, os cristãos tem que atender ao chamado de Deus: sede santos, ou seja, separados.

A oração da igreja de Deus deve ser constantemente que o Senhor nos ajude a nos submetermos a Ele e aceitar os desafios que a Sua Palavra constantemente nos faz.

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