domingo, 16 de janeiro de 2011

A Graça e a Lei:
Entendendo a relação entre elas
Felippe Amorim



Introdução

            O mundo cristão de vez em quando se depara com questões que balançam a fé de alguns. São temas importantes que nem sempre são tratados da melhor forma possível, e por isso muitas pessoas sinceras acabam se enveredando por caminhos que arriscam o destino eterno delas.
            Um desses temas é a relação entre a Graça e a Lei. Sobre esse assunto, muitas perguntas surgem, tais como: A graça é suficiente para me salvar ou preciso fazer algo? Se sou salvo pela graça, por que devo guardar a lei? Se Jesus é amor, Ele me condenará porque não cumpro a lei? Ainda devo cumprir a lei mesmo estando sob a graça?
            Graças a Deus que deixou na Bíblia argumentos suficientes para que possamos responder todas essas perguntas. Abaixo traremos uma pequena amostra (existem muitas outras) de passagens bíblicas que nos ajudam a compreender este tema.

A salvação: somente pela graça

            Certamente um dos assuntos mais lindos e gostosos de se estudar na Bíblia é a Graça de Cristo. Ao longo de todo o Livro Sagrado encontramos evidências desse inexplicável e incompreensível amor que nos salva apesar de nós mesmos.
            A mensagem é confortante e precisamos tê-la profundamente arraigada em nosso coração. A Bíblia apresenta o que devo fazer para ser salvo. No diálogo entre Paulo, Silas e o carcereiro lemos: “e, tirando-os para fora, disse: Senhores, que me é necessário fazer para me salvar?  Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”.(Atos 16:30,31). A condição humana pede um amor nas dimensões do amor de Deus pois, “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”(Rom 3:23). Todos estamos na condição de pecadores e, portanto, na condição de perdidos. Nossa justiça não serve para nos garantir a salvação e por isso somos “justificados gratuitamente pela Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”(Rom 3:24). Percebeu a palavra “gratuitamente”? Que graça! Paulo ainda completa: “concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”(Rom 3:28).
            A Bíblia é clara quando diz que a nossa salvação vem apenas de Jesus. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus;  não vem das obras, para que ninguém se glorie(Ef. 2:8,9). Ninguém poderá chegar no céu e dizer que se encontra lá por causa de seus próprios méritos. Todos reconhecerão que estarão salvos por causa do incrível amor de Deus tão bem descrito em João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
            Conta-se a história de um menino que morava nos EUA. Um dia ao passear com seu pai por um parque da cidade viu um grande monumento que ficava no meio do parque. O menino puxou a calça de seu pai e disse: “pai quero comprar o monumento para mim”. O pai comovido pela inocência da criança pediu que ela falasse com o policial que estava perto do objeto.
            O garoto se aproximou do policial e falou de sua intensão de comprar aquele grande objeto. O policial, com um sorriso no rosto, perguntou quanto o menino tinha no bolso. Depois de conferir o quanto tinha, disse ao policial que tinha cinquenta centavos e perguntou se com aquele valor ele compraria o monumento.
            O policial perguntou se o garoto era americano e a resposta foi positiva, então pediu que o garoto guardasse seu dinheiro e disse: este monumento não está à venda, todo o seu dinheiro não o compraria, mas por você ser americano ele já é seu.
            É assim com a salvação. Não está à venda, todo o seu dinheiro não a compraria, mas já pertence a todos aqueles que aceitam o sacrífício de Cristo.  

A graça nos isenta da lei?
           
            Há uma grande controvérsia a respeito da lei de Deus. Muitos acreditam que a morte de Jesus na cruz por nós, nos isenta de cumprir a lei. Mas não é isso que a Bíblia diz sobre a lei de Deus.
            Não resta dúvida de que somos salvos apenas pela graça, como vimos no tópico anterior, mas a graça de cristo não anulou a lei de Deus.
            A primeira coisa que precisamos é entender a função de lei. Em Romanos 7:7 lemos: “Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Contudo, eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás”. A função da lei nunca foi salvar. Como lemos anteriormente a lei serve para indicar o pecado. A ilustração do espelho é muito útil. Quando nos olhamos em um espelho e detectamos uma sujeira em nosso rosto não apelamos para que o espelho nos limpe. Vamos até a água para nos lavar. A lei é como o espelho, ao olharmos para ela vemos onde estamos errados, mas somente Jesus, a água da vida, pode nos limpar do nosso pecado.
            Apenas este versículo já seria o bastante para que concluíssemos qua a lei não foi abolida. Mas pode ser que ainda reste um pensamento de que a graça de Deus nos livra das obrigações da lei. Por isso leremos Romanos 6:1,2,14 e 15: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?[...] Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum”. É útil neste momento definirmos pecado: “todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é transgressão da lei”(1 Jo. 3:4).
            Diante destas passagens podemos concluir que a lei de Deus não foi anulada  pela morte de Jesus e ainda temos a obrigação de observá-la, pois esta é a vontade de Deus.
            Infelizmente alguns cristãos estão confundindo o pecado acidental, que é aquele que está presente na vida do cristão convertido, com o pecado por rebelião. A graça de Cristo é suficiente para perdoar o pecado acidental. Mas Deus reprova e condena o pecador consciente, ou seja, aquele que pratica o pecado por escolha.
            Deus fala sobre filhos rebeldes em Isaias 30: 1,8 “ Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que executam planos que não procedem de mim e fazem aliança sem a minha aprovação, para acrescentarem pecado sobre pecado! [...] porque povo rebelde é este, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor”. O novo testamento confirma a aversão de Deus ao pecado consciente. O autor de Hebreus diz no capítulo 10:12: “Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados”. Não há respaldo bíblico para transgredirmos a lei de Deus baseados na graça de Cristo.
            O fato é que uma grande parte dos cristãos não têm problema com 9 dos 10 mandamentos. Dificilmente veremos alguém defendendo o furto, o adultério ou a desonra a pai e mãe. O mandamento que incomoda é o quarto, o sábado. Por isso não podemos encerrar esta sessão sem citarmos Tiago 2:10: “Pois qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, tem-se tornado culpado de todos”. Portanto, mesmo após a morte de Cristo, ainda é vontade de Deus que guardemos todos os seus mandamentos.

Amo o Deus que me salvou de Graça

            Imagine que você recebeu um presente muito grande e caro de alguém que não tinha obrigação nenhuma de presenteá-lo. Certamente o seu sentimento em relação à pessoa que o presenteou seria de muita gratidão.
            O presente que recebemos de Jesus, a salvação, é maior do que qualquer que poderíamos receber. Nosso sentimento em relação a Ele é de amor. Dificilmente você ouvirá de um cristão que ele não ama Jesus.
            Nosso amor cresce mais ainda quando meditamos no desprendido amor de Deus. “Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós”(Rom. 5:8). Não tem como não amar alguém que me ama tanto.
            A Bíblia nos diz quais os sinais existentes na vida de alguém que ama Jesus. Em João 14:15 Jesus nos diz: Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.
            Outro título que os cristãos gostam de autodenominar-se é de “amigos de Jesus”. Todos queremos ser amigos do Grande Mestre. Jesus estabeleceu as “regras” desta amizade: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”(Jo. 15:14).
            Amar a Deus é mais que palavras. Amar a Deus envolve ação. “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos.  Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são penosos”( 1 Jo. 5:2,3).
            Imagine que um marido infiel foi descoberto por sua esposa, que depois de muito sofrimento resolveu perdoar seu marido e aceitá-lo de volta. Esse marido perdoado depois de pouco tempo voltou a trair sua esposa confiando que seria perdoado novamente. Esse marido não entendeu o perdão de sua esposa. Ela não o perdoou para que ele continuasse no erro.
            Quando Jesus nos perdoa, seu perdão deve nos levar a abandonar o pecado e buscar a fidelidade à sua vontade. A graça de Cristo é suficiente para nos perdoar, mas além disso a graça nos dá poder para deixarmos as trevas e andarmos na luz.

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