terça-feira, 22 de março de 2011

O chamado para a missão

Alguns acontecimentos são comuns na vida cristã antes da prontidão para o trabalho.





Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim. (Isa. 6:8)

Introdução



“Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário.” (Desejado de Todas as Nações, 195). É vontade de Deus que todos aqueles que se convertem sejam imediatamente inseridos no trabalho pela salvação de outros. Todo cristão é chamado para ser um missionário, sem exceção.

Apesar desta verdade bíblica nem todos aqueles que ingressam na igreja de Deus se comportam assim. Alguns aceitam o convite, enquanto outros nunca se dispõem a evangelizar. É verdade que nem todos têm o dom de dar estudos bíblicos ou pregar sermões com eloquência, mas podemos ser missionários usando os dons que Deus nos deu.

O profeta Isaías recebeu a oportunidade, que a nós também é dada, de pregar o evangelho e sua resposta foi: “eis-me aqui, envie-me a mim”. Essa resposta, segundo o próprio profeta, veio “depois disto”. Portanto, algumas coisas aconteceram antes dele aceitar a missão. O que leva algumas pessoas a dar a resposta de Isaías e outros a rejeitarem o chamado? O que acontece na vida de um cristão antes de ele aceitar o convite para a missão? A experiência do profeta Isaías nos ajuda a responder estas questões.

Contemplar a Deus



Em Isaías 6: 1-3 lemos o seguinte: “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo. Ao seu redor havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto, e com duas cobria os pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória”.

A primeira coisa que aconteceu na vida de Isaías antes que ele aceitasse o chamado foi comtemplar a Deus. Na descrição, o Senhor estava sobre um alto e sublime trono. Provavelmente, o profeta teve uma visão do lugar santíssimo do Santuário Celestial. Deus sabia que antes que o Seu mensageiro saísse para o trabalho, deveria contemplar a Sua majestade para ter a real dimensão da sacralidade e responsabilidade de sua missão. Qualquer que saia para o trabalho de Deus sem passar tempo contemplando-O terá grandes possibilidades de fracassar em seu trabalho.

O profeta estava lidando com as duas dimensões de Deus. Sua Imanência e Sua transcendência. Estes dois atributos reais de Deus precisam ser compreendidos da maneira correta. Não podemos perder o ponto de equilíbrio entre eles.

Se apenas considerarmos a imanência de Deus, ou seja, sua proximidade com o ser humano, corremos o risco de cometer o erro de muito cristãos no mundo evangélico. Para este grupo, Deus é o “amigão”, “Deus é dez”. A falta de compreensão a respeito da imanência divina chega a tal ponto que a vontade de Deus se confunde com a vontade do ser humano. Quando se chega nesta situação, o cristão pensa que Deus gosta do que ele gosta. Sendo assim, posso comer qualquer coisa, beber qualquer coisa, ouvir qualquer coisa, cantar qualquer coisa, pois se Deus está “em mim”, deve gostar de tudo o que eu gosto.

Do outro lado estão aqueles que desvirtuam a compreensão da transcendência de Deus. Para estes, Deus está tão distante que não se importa com aquilo que se passa comigo, tudo o que Ele quer é me pegar no erro para me castigar. Esse outro extremo também deve ser evitado.

Biblicamente, Deus está próximo de nós o suficiente para ouvir nosso choro, sentir nossas dores e atender nossa oração, porém Ele também é o Soberano do universo e, portanto, merece todo o nosso respeito, obediência e veneração.

Foi exatamente uma cena de adoração e respeito que Isaías viu ao contemplar o trono de Deus. Os serafins se comportavam perante Deus com extrema reverência. A Bíblia os descreve contendo seis asas, com duas cobriam o rosto, com duas os pés e com duas voavam. Além de O reverenciarem como seu corpo, suas palavras também eram de louvor, clamavam: “Santo, Santo, Santo”. Apesar de serem seres perfeitos e espetaculares, os anjos estavam admirados com Deus, não consigo mesmo. O culto de adoração a Deus deve ter o foco nEle e não em nós. O que acontece no culto deve ter a intensão primária de agradar a Deus e não ao adorador.

Todos aqueles que aceitam o chamado para a missão precisam primeiro passar pela experiência de contemplar a Deus. Sempre que agimos assim somos impelidos a louvá-Lo, assim como os anjos o fizeram.

No entanto, não temos acesso físico ao trono de Deus, então como contemplamos a Deus? A Bíblia nos apresenta pelo menos três formas através das quais podemos comtemplar ao Senhor.

“Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19:1). Através da criação podemos contemplar a Deus. Certamente Deus não está nas árvores, plantas ou animais. Mas quando olhamos para a natureza, nos lembramos de que há um criador que nos ama e nos salva.

Uma segunda forma de contemplarmos a Deus é através do Estudo da Bíblia. Em João 5:39 lemos: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim”. Ao entrarmos em contato com a palavra de Deus podemos contemplá-Lo e perceber sua santidade.

Na igreja, ao nos reunirmos com nossos irmãos, também podemos, pela fé, contemplar ao nosso Deus, “pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” ( Mt 18:20). O salmista disse: “Assim no santuário te contemplo, para ver o teu poder e a tua glória” (Sl 63:2). O momento em que os cristãos estão reunidos como comunidade fraternal é um excelente momento para contemplar a Deus.


Reconhecer a sua condição



Ao contemplar a Deus a reação de Isaías foi a que qualquer ser humano terá quando verdadeiramente se defrontar com o Senhor: “Então disse eu: Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!”(Is. 6:5)

Quando o profeta se viu perante Deus, foi inevitável a comparação. A santidade do Pai revelou a pecaminosidade do homem. Quanto mais próximos de Deus estamos, mais reconhecemos a nossa condição de pecadores. “Não permitamos que Deus seja desonrado pela declaração de lábios humanos: "Estou sem pecado, sou santo." Lábios santificados nunca pronunciarão palavras de tanta presunção. ”(Atos dos Apóstolos, 562)

Se tivermos que nos comparar com alguém, devemos nos comparar com Deus e não com outros seres humanos. Quando nos comparamos com Deus percebemos a nossa real condição. Mas quando nos comparamos com outros seres humanos corremos o risco de nos considerarmos bons, consagrados, santificados e nos sentirmos melhores que outros. A comparação “Deus x Homem” é a única verdadeiramente útil para o cristão.

Quando o profeta fez esta comparação a sua reação foi a única possível “Estou perdido!”. Ele sabia que se dependesse de suas obras ele estaria condenado eternamente à morte. Os lábios de Isaías eram impuros e ele percebeu isso quando viu o contraste entre seus lábios e os lábios dos serafins. Dos lábios dos anjos apenas saíam louvores a Deus, mas, certamente, como muitos de nós, os lábios de Isaías já haviam falado vaidade, ou seja, engrandecimento próprio.

“A humilhação de Isaías era genuína. Quando o contraste entre a humanidade e o caráter divino se lhe tornou patente, ele se sentiu inteiramente ineficiente e indigno” (Obreiros Evangélicos, 22).

Porém, todas as vezes que o ser humano se sente indigno dessa forma, abre espaço para que Deus atue em sua vida. Foi isso o que aconteceu com o profeta, o verso seis relata: “Então voou para mim um dos serafins, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz”. Arrependimento e confissão são acompanhados da atuação de Deus para justificar e santificar.



Justificação e santificação



“E com a brasa tocou-me a boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e perdoado o teu pecado.”(v. 7)

Todo esse processo pelo qual Isaías passou resultou em um trabalho que Deus executou no profeta e também pode fazer em nós. Este trabalho é feito em duas fases. A primeira é o perdão dos pecados. Deus está atento à confissão dos nossos pecados e está pronto a nos perdoar. Isso é justificação.

A segunda fase está intimamente ligada à primeira. Logo que o pecado é perdoado Deus retira a iniquidade de nós. Isso é Santificação. As duas fases são executadas por Deus.

Ser pecador não é o maior problema do homem. O grande problema é ser pecador e não reconhecer sua condição, se arrepender e confessar. Quando seguimos este processo Deus nos garante a remissão de nossa condição.
Conclusão



Após passar por estes três estágios então Isaías conseguiu ouvir o convite de Deus para a missão. Temos o privilégio de “ir por Deus”. A missão é dEle, nós temos o privilégio de sermos seus representantes. Mas apenas estaremos aptos para isso quando comtemplarmos a Deus diariamente, reconhecermos nossa condição pecaminosa e nos entregarmos a Ele para que seja feito o necessário trabalho de justificação e santificação.

“A brasa viva é um símbolo de purificação, e representa também a potência dos esforços dos verdadeiros servos de Deus. Àqueles que fazem uma tão completa consagração que o Senhor possa tocar-lhes os lábios, é dito: Vai para a seara. Eu cooperarei contigo”. (Obreiros Evangélico, 23). Temos uma necessidade urgente de consagração. Há uma missão para cada um de nós: cumprir a missão de Deus, pregando o evangelho em todo o mundo. Deus hoje pergunta novamente: Quem irá por nós? Espero que nossa resposta seja: “Eis-me aqui, envia-me a mim”.







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