sábado, 18 de junho de 2011


AS DUAS FACES DO CORDEIRO

                                   Vinícius Mendes de Oliveira
Mestrando em Ciências Sociais na UFRB
  Professor de Língua Portuguesa no IAENE
Aluno do 7º período do SALT – IAENE
vimeo@hotmail.com




“Os reis da terra, os grandes , os comandantes, os ricos, os poderosos e todo livre, se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” Apocalipse 6: 15-17

INTRODUÇÃO

O texto acima apresenta o quadro caótico em que estará o mundo e a situação de desespero de grande parte da população nos momentos que antecedem imediatamente a volta de Jesus. O verso 17 revela a imagem de Jesus, o Cordeiro, irado, vindo nas nuvens do céu para executar o Seu juízo. Milhares de pessoas se encontrarão perdidas, pessoas estas de todas as classes sociais, que clamarão aos montes e rochedos “caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono”.
 Tal situação, então, faz emergir a séria pergunta que finaliza o capítulo seis de Apocalipse, onde, nos versos 12 a 17, aparece o sexto selo. Diante de tamanha perdição em que estão submetidos, os perdidos dramaticamente perguntam: “quem é que pode suster-se?”. O livro do Apocalipse não deixa sem resposta essa questão. No capítulo sete, o apóstolo João apresenta três características daqueles que passarão incólumes pelo caos em que o mundo estará nos momentos antecedentes à volta de Jesus e esclarece qual o motivo por que essas pessoas não sofrerão a ira do Cordeiro, mas usufruirão de Sua amorável proteção.

SELAMENTO

            O capítulo sete de Apocalipse inicia a resposta à pergunta que finaliza o capítulo anterior apresentando quatro anjos que estão neste planeta, evitando que o mundo seja completamente devastado até que outro anjo pudesse assinalar a fronte dos fiéis com o selo do Deus vivo (Ap 7: 1-2). O anjo assinalador diz, no verso 3: “Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus.”
            Esse texto começa respondendo a pergunta do capítulo seis, apresentando claramente que haverá um grupo de selados, os quais são chamados de “servos do nosso Deus.” Esse grupo, frente ao terrível drama pelo qual o mundo passará, estará seguro, mesmo diante das provas, pois estarão protegidos por Deus e Seus anjos.
            A pergunta que surge, no entanto, é: qual é o selo que distinguirá os protegidos servos de Deus dos desesperados perdidos descritos no final do capítulo seis de Apocalipse?
            O apóstolo Paulo em Efésios 1: 13 e 4:30 diz: “em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.” Os textos acima são claros em apresentar o Espírito Santo como o agente selador, ou seja, o crente só recebe o selo de Deus através do Espírito Santo. Assim, fica claro que o selamento é produto da ação de Deus no ser humano e não de um esforço humano para alcançar mérito diante de Deus, habilitando-o para a salvação.
            Nesse momento, no entanto, é importante refletirmos sobre qual é, de fato, a obra do Espírito Santo na vida do crente para compreendermos o que o Espírito sela na vida de um servo de Deus. Em Ezequiel 36: 26 e 27, lemos: “Porei dentro de vós o meu espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardareis os meus juízos e os observareis.” O profeta Ezequiel nesses versos deixa claro qual é a obra do Espírito no coração: fazer um transplante de coração do fiel, inscrevendo nesse novo coração os estatutos e juízos de Deus que são termos sinônimos para lei. Assim, o profeta quer evidenciar que Deus deseja uma obediência que não seja externa, mas que seja produto de um coração transformado. Sobre esse mesmo tema, Jeremias 31: 33 diz: “Porque esta á a aliança que firmarei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” Portanto, conforme, os textos acima, a obra do Espírito Santo, ou o seu selo, tem que ver com a inscrição da imutável e eterna Lei de Deus no coração, transformando a obediência a Deus em algo que procede de um coração “transplantado” que obedece por amor e não por obrigação. Isaías 8: 16 também menciona o tema do selamento da lei: “Resguarda o testemunho, sela a lei no coração dos meus discípulos.” Dessa forma fica claro que o agente selador é o Espírito Santo e que o que Ele sela está diretamente relacionado à Lei de Deus.
            O selamento é a obra em que Deus diferencia claramente aqueles que lhe pertencem em relação àqueles que escolheram espontaneamente não serem de Seu povo. O selo, portanto, é um sinal distintivo. Falando sobre a obra de Deus em distinguir o Seu povo, Ezequiel 20: 12 diz: “ Também lhes dei os meu sábados, para servirem de sinal entre mim e eles para que soubessem que eu sou o Senhor que os santifica.” Nos versos 19 e 20, Ezequiel completa: “ Eu sou o Senhor, vosso Deus; andai nos meus estautos, e guardai os meus juízos, e praticai-os; santificai os meus sábados, pois servirão de sinal entre mim e vós para que saibais que eu sou o Senhor que os santifica.” Nesses textos, Ezequiel apresenta o sábado como um claro sinal distintivo entre Deus e Seu povo. Foi o mesmo Ezequiel quem apresentou o Espírito Santo como agente selador da lei no coração. No entanto, nos versos acima, o profeta destaca, da lei, um mandamento para funcionar especificamente como sinal entre Deus e Seu povo, sem, obviamente, desconsiderar os demais mandamentos como esclarece Ezequiel 20:19.
            O questionamento que surge, portanto, agora é: por que o quarto mandamento foi destacado por Deus para ser o selo distintivo entre Si e Seu povo? A resposta encontra-se no próprio quarto mandamento: “Lembra-te do dia de Sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e fará toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.” (Êxodo 20: 8 -11)
A imagem que é evocada com o tema do selamento é a de um proprietário de gado marcando seus animais, para diferenciá-los dos que não lhe pertencem. É por isso que o mandamento do sábado é tão importante nesse contexto, pois é o único entre os demais, que apresenta claramente o nome de Deus, (Senhor, teu Deus), o mandamento diz qual a jurisdição em que atua o Senhor, (os céus e a terra) e apresenta ainda Deus como o criador de todas as coisas. Esses dados presentes no quarto mandamento caracterizam efetivamente um selo, pois evidenciam plenamente quem é Deus, mostra quais são os “limites” de sua atuação e  garante que Deus é o dono de cada um de nós por ser o nosso criador. Assim, é explicada a escolha de Deus pelo quarto mandamento como Seu selo diferenciador sobre Seu povo. Só a atuação do Espírito Santo no coração permite esse reconhecimento do senhorio de Cristo, mesmo que tal atitude coloque o cristão na contramão do mundo.

GRANDE TRIBULAÇÃO

“Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação,...” Apocalipse 7: 13-14
            O apóstolo continua descrevendo os salvos e, no texto acima, apresenta uma importante característica que será verificada na vida daqueles que estarão salvos por ocasião da volta de Jesus e que poderão suportar os eventos finais que antecedem a volta do Senhor.
            O texto revela que haverá na identidade do fiel povo de Deus o traço de ter sido perseguido. Naturalmente, essa perseguição é produto da obediência a Deus. “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fonte, para que ninguém possa comprar ou vender senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome.” (Ap 13: 16 -17) O texto acima apresenta todas as classes de pessoas recebendo sob imposição a marca da besta. Esta imposição restringe a liberdade de comprar e vender para aqueles que rejeitam receber a marca sobre a mão direita (representando o trabalho) e sobre a fronte (representando a consciência), caracterizando assim uma real perseguição sobre os que se mantiverem fiéis a Deus, rejeitando a marca da besta.
            A pergunta que surge, então, nesse momento é: o que é a marca da besta? A resposta a essa questão será clara se entendermos que Satanás é o grande contrafator. Ou seja, se o selo de Deus é a obediência ao quarto mandamento, que se refere à observância do sábado, que é um dia da semana, a marca da besta precisa ser a obediência a um mandado que se refira a um dia, neste caso, o domingo. Apocalipse 14:8 diz: “Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição.” O texto acima indica que a obra de Babilônia é prostituir as verdades apresentadas na palavra de Deus e isso é exatamente o que o catolicismo romano fez com lei de Deus, no que diz respeito ao quarto mandamento que requer a observância do sábado, modificando para o domingo (Dn 7:25). Conforme Apocalipse 13, essa mudança se tornará em um decreto dominical. Quando isso ocorrer, estará estabelecida a marca da besta. A aceitação da marca da besta resultará em  “benefícios” temporais humanos. Mas essa decisão determinará uma posição definitiva contra Deus, selando o destino dessas pessoas e atraindo sobre elas as sete e últimas pragas. “Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro.” (Apocalipse 14: 9-10) O texto esclarece que receber a marca da besta vai resultar em condenação por parte dos infiéis a Deus.
            Na sequência, agora se referindo, ao povo de Deus, o apóstolo João diz: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.” (Apocalipse 14:12) O termo utilizado para se referir aos cristãos é “perseverança”. Naturalmente, a não aceitação da marca da besta resultará em terrível perseguição contra o povo de Deus, mas a consciência de que estão seguindo a Palavra de Deus e que a provação que passam não pode ser comparada “com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8: 18) está no foco da visão do remanescente de Deus. Outra certeza que o povo de Deus terá é a de que as pragas e a perdição eterna são muito piores, logicamente, do que a provação por causa da fidelidade a Deus pela qual passarão. Isso faz com que sejam perseverantes em guardar os mandamentos de Deus (porque estão selados pelo Espírito Santo) e continuem crendo em Jesus como seu salvador pessoal (Apocalipse 14:12).

SALVAÇÃO PELA FÉ

            A resposta à pergunta de um dos anciãos sobre quem são as pessoas vestidas de branco revela ainda outro aspecto. Diz ele: são os que “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro.” (Apocalipse 7:14) Essa característica enfatiza a fé na graça de Deus como único meio de salvação e que, apenas aqueles que forem objetos do sangue do Cordeiro, poderão estar salvos por ocasião da volta de Jesus.
            A imagem que emerge nessa passagem é a da morte do cordeiro pascal. A páscoa foi instituída na ocasião da saída do povo de Israel do Egito, quando por causa da décima praga, os primogênitos de quem não tivesse o sangue do cordeiro nos umbrais da porta da casa, seriam exterminados. Nesse sentido, a páscoa foi o ato de o anjo destruidor saltar a casa na qual havia o sangue na porta.
            O texto de Apocalipse 7:14 diz que aqueles que estarão salvos por ocasião da volta de Jesus, ou seja, os únicos que poderão suportar o caos em que o mundo estará antes do retorno do Senhor, “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro”, indicando que as pragas e a perdição final não alcançarão essas pessoas, pois elas têm a marca do sangue nos umbrais do seu coração.
O ato de lavar as vestes no sangue de Jesus remete ao perdão dos pecados que os remidos recebem de graça quando aceitam a salvação. A lavagem simboliza a remoção desses pecados e a possibilidade de ter nova vida. O texto acrescenta o fato de que as vestes foram alvejadas no sangue de Jesus. Essa imagem remete à purificação plena que o sangue de Cristo efetua na vida do crente. Isso sugere que a atuação de Deus no cristão não consiste em apenas perdoar-lhes os pecados, eliminando, assim o registro deles, mas também de transformar a vida da pessoa redimida de tal forma que não fique em seu caráter a mancha do pecado. Os que estarão salvos são aqueles que aceitam a salvação pela fé na graça de Deus e que permitem que seu caráter seja completamente transformado. Isso, no entanto, não implica impecabilidade ou uma blindagem plena contra o pecado, pois enquanto estivermos com nosso corpo corruptível estaremos sujeitos a pecar, mas implica que o sangue de Cristo produz contínuo crescimento na graça de tal forma que o caráter vai sendo gradativamente limpo das manchas do pecado.

CONCLUSÃO

            A pergunta desesperada que aprece no final do sexto selo (Apo. 6:17) é respondida claramente no capítulo sete de Apocalipse. Esse capítulo aparece como uma espécie de parênteses entre o sexto e o sétimo selo (volta de Jesus) para responder à pergunta feita no final do capítulo seis.
            A mensagem do capítulo sete é, portanto, uma mensagem de esperança para todos aqueles que desejam permanecer ao lado de Deus e receber a salvação eterna. O texto apresenta de maneira clara as características do fiel remanescente de Deus. O apóstolo lança mão de belíssimas imagens para ensinar que o povo de Deus será selado, será perseguido, mas que só estará salvo por causa do sangue de Jesus.
            O apóstolo evoca uma imagem pascoal: um cordeiro, cujo sangue é derramado para que alguém não morra. Para a pergunta “quem pode suster-se?” que se faz no final do capítulo seis de Apocalipse, a resposta definitiva é: aqueles que permitiram que o sangue do Cordeiro os perdoasse e os transformasse. Falando sobre o mesmo grupo que será salvo, Apocalipse 14:4 faz o seguinte comentário: “São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá.” Essa imagem é linda! Somente seguir a Jesus em todos os Seus caminhos poderá sustentar-nos nos terríveis momentos que o mundo passará em breve.
            O quadro que o final de Apocalipse seis apresenta é de desespero por conta do medo que os perdidos terão da ira do Cordeiro. No entanto, Apocalipse sete termina de maneira maravilhosa, descrevendo o estado perene de paz e conforto que os salvos usufruirão “pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.” (Apocalipse 7:17)
            O mesmo Cordeiro apresenta-se de forma distinta nos dois capítulos: irado no final do capítulo seis e manso no final do capítulo sete. Naturalmente, os ímpios, porque rejeitaram a salvação oferecida de graça, se encontrarão com o Cordeiro irado, enquanto os salvos serão objeto da proteção e bondade do Cordeiro. A questão que surge nesse momento é séria e de resposta pessoal: de que forma a face do Cordeiro será revelada para nós, quando Ele voltar? O desejo de Jesus é salvar a todos e que ninguém peça aos montes que os escondam da “face daquele que se assenta sobre o trono e da ira do Cordeiro.” (Apocalipse 6:16)

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