sábado, 25 de junho de 2011


Livrando-se do Peso da culpa

A experiência de Davi mostra o quão prejudicial é o pecado e como podemos nos livrar dele.


Felippe Amorim



Introdução



No meio do ano passado eu e minha esposa resolvemos mudar de casa e fomos morar no terceiro andar de um pequeno prédio. Naturalmente fomos fazer a mudança. Com a ajuda de alguns amigos descarregamos os móveis de uma caminhonete e começamos a subir as escadas até o apartamento.

Confesso que subir escadas carregando móveis não é algo agradável, aliás, nunca é confortável ter um peso nos ombros.

Pode ser que algumas pessoas não carreguem pesos materiais nos ombros, mas estão encurvadas por um peso que incomoda muito mais que o físico. Estão sobrecarregadas com o peso da culpa. Este peso tem algumas peculiaridades. Quanto mais tempo fica sobre nós, mais pesado ele vai ficando. A culpa vai sugando as energias da alma até que prostra o ser humano. Outra característica desse peso é que nós não temos a capacidade de retirá-lo de nós. Apenas Jesus Cristo o pode fazer.

O rei Davi passou por uma experiência da qual podemos tirar importantes lições a respeito do peso da culpa e de como nos livrarmos dele.

O peso do pecado

“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui a iniquidade, e em cujo espírito não há dolo” (Sl. 32: 1-2). É assim que Davi começa a escrever o Salmo 32. Este é um Salmo de reminiscências, o salmista está lembrando momentos de sua vida nos quais ele passou por situações cruciais. Davi começa falando de como é bom receber o perdão. Nesse momento o rei de Israel está sentindo a felicidade que todos os seres humanos sentem quando o peso da culpa é retirado de seus ombros.

Deus oferece a cada filho Seu a oportunidade de se livrar dos pesos de culpa que carrega sobre seus ombros. Os consultórios dos psicólogos e psiquiatras estão lotados de pessoas que não conseguem ter paz devido a algo de seu passado que os perturba todos os dias. Davi sofreu disso e da experiência dele podemos retirar princípios de perdão para nossa vida.

Após falar da alegria do perdão, o homem segundo o coração de Deus começa a relembrar os difíceis momentos pelos quais passou. Ele os relata assim: Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Sl 34:3,4)

Podemos identificar alguns elementos que evidenciam a condição emocional e espiritual de Davi. Ele estava tentando encobrir algo de errado que ele havia feito, mas isso o estava destruindo internamente. A sua sensação era que seus ossos estavam se deteriorando aos poucos. Ao longo de suas atividades reais diárias, ele não conseguia se concentrar, seu trabalho estava sendo prejudicado por causa de seu sentimento de culpa.

O texto continua nos dizendo que o sono de Davi também não era mais o mesmo. A insônia sempre acompanha aqueles que carregam a carga mais pesada que alguém pode colocar em seus ombros: a culpa. Certamente seu corpo já estava cansado de não dormir em paz por longos meses.

Davi não conseguia se livrar dos pensamentos de acusação que o acompanhavam desde o momento em que ele caiu e escolheu esconder seu pecado.

O caminho para o pecado



Em II Samuel 11 descobrimos o que fazia com que a vida do rei Davi estivesse numa condição emocional tão ruim. Lá encontramos a história do pecado de Davi com Bate-Seba. É uma história que contêm mentiras, adultério, assassinatos, ociosidade e muitos outros atos pecaminosos cometidos por Davi.

Durante algum tempo me perguntei por que uma história tão vergonhosa foi registrada no livro sagrado de Deus. Até que compreendi que Deus estava querendo ensinar profundas lições aos seus filhos. São lições que podem fazer diferença entre a vida e a morte eternas.
O texto começa dizendo que “tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, Davi enviou Joabe, e com ele os seus servos e todo o Israel; e eles destruíram os amonitas, e sitiaram a Rabá. Porém Davi ficou em Jerusalem” (II Sm 11:1). Naquele momento Davi não deveria estar em casa, mas ele fez a escolha errada.

O reino de Israel passava por um momento político-social muito bom. A agricultura ia bem, a maior parte dos inimigos já tinham sido derrotados e os cofres estavam abarrotados de ouro, prata e outros bens preciosos.

Diante desta situação confortável, o rei Davi estava no auge de sua vida pública. Frequentemente recebia homenagens e aclamações por todos os seus feitos. O rei tinha uma vida muito confortável.

Se existe um lugar perigoso para o ser humano, este lugar é o “auge”. É uma posição muito almejada e também perigosa. Todos sonham em chegar no auge da vida profissional, da vida sentimental, da vida espiritual. Mas no auge, muita vezes, é o lugar onde começa o declínio, pois lá existe a tentação da acomodação, da autossuficiência , do esquecimento de Deus.

Foi no auge da carreira profissional de Davi que Satanás viu o melhor momento para derrubá-lo. Davi estava no lugar errado, era época dos reis estarem na guerra. O exército de Israel estava na guerra, mas o seu líder estava em casa, na ociosidade. Davi achava que já havia conquistado tudo o que precisava. “Foi o espírito de confiança e exaltação próprias o que preparou o caminho para a queda de Davi” (Patriarcas e Profetas, 717).

Alguns passos foram dados até a consumação do pecado. A Bíblia diz que Davi acordou tarde naquele dia. Estava dormindo quando deveria estar lutando. A ociosidade foi o primeiro erro do rei. O pecado não chega rapidamente, Satanás vai minando as forças do ser humano aos poucos. “A obra do inimigo não é feita abruptamente; não é, ao princípio, súbita e surpreendente; é uma ação secreta de minar as fortalezas dos princípios. Começa em coisas aparentemente pequenas - negligência de ser fiel a Deus e de confiar nEle inteiramente, disposição para seguir costumes e práticas do mundo” (Patriarcas e Profetas, 718).

O segundo passo de Davi rumo ao pecado foi “ver”. A palavra de Deus diz que ele viu uma mulher tomando banho. Naquele momento Davi foi tentado. Estava diante dos seus olhos a oferta de satanás, mas ele poderia recusar as insinuações do inimigo. O problema é que ele fixou seus olhos na tentação. Ele poderia ter feito como José, fugido, mas Davi se deteve contemplando aquela mulher.

Aqui há uma importante lição para nós. Cada ser humano sabe exatamente quais são as suas tentações, alguns são tentados por bebidas alcoólicas, outros por pornografia, outros por dinheiro fácil. Cada um sabe o que mais lhe tenta. Precisamos agir diferente de Davi. Não podemos fixar os olhos naquilo que nos tenta. Quanto mais distantes da nossa tentação, menor a possibilidade de cairmos.

Um momento de afastamento de Deus e Davi caiu em um buraco de pecado. Pediu informações a respeito da mulher e alguém lhe disse “Porventura não é Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu?” Percebemos claramente o que este recado dizia: “Davi, a mulher é casada”. O rei não escutou a advertência que Deus havia mandado para ele. Quando nos afastamos de Deus escutamos cada vez menos a sua voz.

Davi chamou a mulher, que veio sem resistir. Não há desculpas para Bate-Seba, ela poderia ter preferido à morte a trair seu esposo. Então, o ato pecaminoso foi consumado.

A mulher voltou para sua casa e aparentemente as coisas voltaram ao normal. Algum tempo depois chegou para Davi a notícia da gravidez de Bate-Seba. Certamente o monarca lembrou-se de Levítico 20: 10. Sabia que se seu pecado fosse descoberto ele deveria morrer.

Arquitetou um plano para conseguir um pai legítimo para aquela criança. Mandou chamar de volta Urias, marido de Bate-Seba, da guerra. Após, sem sucesso, tentar fazer com que aquele fiel soldado voltasse para sua casa e dormisse com sua esposa, encobrindo assim seu pecado, Davi envolveu todo o seu exército em um plano de assassinato. Escreveu uma carta para Joabe, seu general e a mandou por Urias, que conduziu sua própria sentença de morte. Voltou para a guerra e lá foi assassinado.

Um ano de “tranquilidade” se passou. Davi casou com aquela mulher viúva e o

bebê nasceu. Mas Deus não permitiu que Seu nome fosse envergonhado e nem que seu filho ficasse naquela situação de perdição. Davi estaria perdido enquanto não confessasse seu pecado.

O profeta Natã foi enviado por Deus e com muita habilidade, digna de imitação

pelos pregadores atuais, mostrou para o rei seu pecado e apresentou a solução. Um ano após o pecado, finalmente Davi conseguiu respirar aliviado.


Libertando-se do peso do pecado.



Na terceira parte do salmo 32 nos é revelado o segredo para nos livrarmos do peso da culpa: “Confessei-te o meu pecado, e a minha iniquidade não encobri. Disse eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado” (Sl. 32:5-6).

Confessar o pecado era o que faltava para que Davi conseguisse novamente ter paz. Só há uma base para o perdão: o arrependimento acompanhado de confissão. Precisamos, contudo, saber que o arrependimento compreende a expulsão do pecado da vida. O ato de confessar está acompanhado do ato de abandonar, pois, “a justiça de Cristo não encobrirá pecado algum acariciado” (Parábolas de Jesus, 316). Uma clara convicção do dever cristão sempre acompanha à mudança de coração" ( RH 18-12-1913).

Agora é o momento de Confessar. Podemos até pensar que o que fizemos é tão grave que Deus não nos aceitará de volta. Mas “não devemos estar ansiosos acerca do que Cristo e Deus pensam de nós, mas do que Deus pensa de Cristo, nosso Substituto. Vós sois aceitos no Amado” (Mensagens Escolhidas, vol. 2, págs. 32 e 33). Deus promete perdão para todos os que, de todo coração, confessam e abandonam seus pecados.

Depois de perdoado e aliviado do peso da culpa, Davi fez uma oração que cada um de nós deveria fazer todos os dias. “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito inabalável” (Sl. 51: 10). O pedido de perdão sempre deveria ir acompanhado de um pedido para que Deus renove e santifique o coração. Davi compreendeu que somente com um coração criado e renovado por Deus ele poderia continuar tendo uma vida sem culpa, com muita paz interior. Hoje é o dia de fazermos a oração de Davi!





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