segunda-feira, 25 de julho de 2011


A Pedagogia das Tempestades

Felippe Amorim

Introdução



Deus tem diversas formas de nos ensinar Suas lições. Ele é um professor por excelência e nós somos seus alunos por extrema necessidade. Nesta relação professor-aluno, nós somos muito beneficiados, pois, na verdade, não sabemos nada e precisamos da sabedoria dAquele que sabe de tudo.

A história relatada em Mateus 14: 22-33 nos mostra um dos métodos de Deus para ensinar os seres humanos. Esta história acontece em três cenários distintos: A praia, o mar e o coração dos discípulos. Meditando nela conseguiremos entender como Deus trabalha a sua pedagogia.

A Praia

Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. (Mt 14: 22-23)
Jesus tinha acabado de realizar o espetacular milagre da multiplicação dos pães e peixes. Aquele evento tinha acendido a esperança daquelas quase dez mil pessoas de que finalmente o messias libertador político havia chegado. Eles tinham esperança de que se tornariam livres dos romanos, que a miséria acabaria e finalmente Israel se tornaria uma poderosa nação que dominaria as outras.

A multidão aclamava Jesus e esse sentimento também era real no coração dos discípulos. Eles também criam em um messias político. Não compreendiam que o reino de Jesus seria espiritual e não terreno.

Os discípulos queriam coroar Jesus naquele momento, Judas era o mais animado. Ele se imaginava tesoureiro do reino que seria estabelecido. As vantagens terrenas estavam diante dos olhos dos discípulos.

Mas Jesus, com sua infinita sabedoria, sabia que se ele fosse coroado seu ministério chegaria ao final precocemente.

Jesus, então, dá uma ordem aos discípulos, manda-os irem embora para o outro lado do mar. Eles não queriam ir, seus planos eram coroar Jesus rei. Para que os discípulos obedecessem à ordem, o Mestre teve que ser duro com eles. A palavra inspirada diz que Ele os obrigou a ir. Em outras traduções diz que eles foram compelidos. A questão é que para que os discípulos fossem para onde Jesus queria, foi necessário que pela primeira vez Jesus falasse de forma dura com eles.

A recusa de Jesus de coroar-se rei causou grandes dúvidas nos discípulos: “Deveriam ser sempre considerados seguidores de um falso profeta? Não haveria Cristo nunca de afirmar Sua autoridade como rei? Por que não havia Ele, que possuía tal poder, de revelar-Se em Seu verdadeiro caráter e tornar-lhes a eles o caminho menos penoso? Por que não salvara João Batista de uma morte violenta? Assim raciocinavam os discípulos, até que trouxeram sobre si mesmos grande treva espiritual. Perguntavam: Poderia ser Jesus um impostor, como afirmavam os fariseus?” (Desejado de Todas as Nações, 380). A primeira tempestade desta história não aconteceu no mar, aconteceu na cabeça dos discípulos. Eles precisavam aprender no que consistia a obra de Cristo. A cabeça dos discípulos estava em tempestade de pensamento.

Sabendo de tudo o que estava acontecendo, Jesus subiu para o monte para orar. Ele orava pela multidão e orava pelos discípulos. Ambos os grupos precisavam compreender a essência do reino de Deus.

O mar


Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais. Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas. Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? E logo que subiram para o barco, o vento cessou (Mt 14: 24-32).

Já estava quase escuro quando os discípulos partiram no barco, eles demoraram a cumprir a ordem de Jesus.

Mesmo indo para o lugar onde Jesus havia mandado, eles não estavam isentos de enfrentarem tempestades, pois, “o vento era contrário”. Na vida também enfrentamos tempestades, mesmo quando seguimos o caminho que Jesus nos indicou, pois, existe um inimigo que sopra um vento contrário. O próprio Jesus disse: “No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”(Jo. 16:33). A promessa de Jesus é companhia, não ausência de tribulações.

O vento era contrário não somente no mar, mas também no coração dos discípulos. Jesus sabia disso e queria os ensinar uma preciosa lição.

Então Jesus permitiu que a tempestade chegasse aos discípulos, ela seria seu instrumento pedagógico. O tormentoso mar, paradoxalmente, pôde aquietar a tormenta que rugia no coração deles. Do mesmo modo, às vezes nos encontramos no mar das dificuldades, nessas ocasiões Jesus usa a tormenta para nos fazer crescer espiritualmente.

Há algo curioso nesta história. A Bíblia diz que somente “na quarta vigília da noite” Jesus foi socorrê-los. Naqueles tempos a noite era dividida em quatro vigílias de três horas cada uma. Portanto, Jesus foi em direção aos discípulos por volta das três horas da manhã. Ele aparentemente demorou. Os discípulos lutaram contra a tempestade durante cerca de oito horas.

Por que Jesus demorou tanto? A primeira coisa que precisamos saber é que Jesus lá de cima do monte velava pelos discípulos, mesmo chegando apenas na quarta vigília Jesus passou a noite toda os observando e os protegendo. Não fosse isso e o barco teria afundado logo no início da tempestade, porém, Jesus queria deixa-los lutando até que eles entendessem que não poderiam vencer sozinhos.

Lá na praia os doze seguidores de Cristo achavam que eram sábios e poderosos. Achavam que poderiam entronizar a Jesus e não concordaram com o Mestre quando os mandou ir embora. O Senhor queria ensiná-los que eles não podiam nada sozinhos. Esta é uma lição que nós também precisamos aprender. Às vezes Jesus nos deixa lutando em nossas tempestades até que compreendamos que não podemos vencer sozinhos.

Depois de uma noite de luta finalmente acabaram as forças deles. A demora de Jesus fez com que eles percebessem o quanto necessitavam do seu Senhor. Quando eles perceberam que não podiam sozinhos, então Jesus veio. Quão bom seria se nós nos rendêssemos a Jesus logo no início de nossas lutas!

Jesus foi encontrá-los andando sobre o mar. A tempestade ainda estava muito intensa, mas Jesus anda sobre e dentro da tempestade. “Tende bom ânimo” e “não temais”. Estas foram as ordens dadas por Jesus enquanto a tempestade ainda estava forte.

Estas mesmas ordens são dadas a nós. Mesmo no meio das aflições não precisamos ter medo. O segredo estava na frase: “SOU EU”. É a presença de Cristo que garante paz em meio à tempestade.

Neste momento da história se destaca a figura do sempre pronto a falar: Pedro. A frase que ele falou pode traduzir-se também assim: "já que és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas". Pedro não tinha dúvida de quem era o que lhes tinha aparecido. Embora inicialmente os discípulos tenham gritado com medo de um fantasma. Logo identificaram Jesus como aquele que caminhava sobre o mar, de outro modo Pedro nunca se teria atrevido a sair do barco para tentar caminhar sobre as ondas encrespadas pelo vento.

Pedro saiu do barco por fé. A fé o sustentou sobre as águas do mar de Galileia. Mas essa fé só foi ativa enquanto ele manteve os olhos fixos em Jesus.

Nunca precisamos temer enquanto mantemos os olhos em Cristo e confiamos em sua graça e poder. Mas quando nos olhamos a nós mesmos, aos que nos rodeiam, e às dificuldades que nos circundam, temos muitas razões de ter medo.

Ellen White descreve assim aquele momento: “Olhando para Jesus, Pedro caminha firmemente; como satisfeito consigo mesmo, porém, volta-se para os companheiros no barco, desviando os olhos do Salvador. O vento ruge. As ondas encapelam-se, alterosas, e interpõem-se exatamente entre ele e o Mestre; e ele teme. Por um momento, Cristo fica-lhe oculto, e sua fé desfalece. Começa a afundar. Mas ao passo que as ondas prenunciam morte, Pedro ergue os olhos para Jesus e brada: "Senhor, salva-me!. Jesus segura imediatamente a estendida mão, dizendo: "Homem de pequena fé, por que duvidaste?”

A tempestade só cessou completamente quando Jesus entrou no barco. Assim também será em nossa vida, apenas quando o Senhor estiver dentro do nosso barco é que teremos as nossas tempestades espirituais acalmadas.

O Coração



Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus. (Mt 14:33)

O objetivo de Jesus com tudo isso era alcançar o coração dos discípulos. Este é o terceiro cenário desta história.

Somente depois de enfrentar uma tempestade e de quase perderem a vida é que eles finalmente entenderam o que Jesus queria ensiná-los. Foi nesta ocasião quando os discípulos confessaram pela primeira vez que Jesus era o Filho de Deus e o adoraram na forma em que os homens adoram a Deus.

Jesus queria ensiná-los sobre a verdadeira adoração e usou a tempestade como instrumento de ensino.

Quando Deus permite tempestades em nossa vida ele quer nos ensinar algo. Quer nos ensinar dependência, por exemplo, pois,” os que deixam de compreender sua continua dependência de Deus são vencidos pela tentação” (Desejado de Todas as Nações, 264)

Da próxima vez que enfrentarmos as tempestades da vida não devemos mais perguntar “por que?” mas “para que?”. Se estivermos dentro da tempestade neste momento, oremos da seguinte forma: “Senhor, o que queres me ensinar através deste problema”. Nunca devemos nos esquecer de que Jesus está conosco dentro da tempestade nos prometendo: “Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador” (Isa. 43:1-3). Aprendamos com a pedagogia das tempestades.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vinícius Mendes de Oliveira
Formando em Teologia pelo SALT -IAENE
Professor de Língua portuguesa no IAENE
Mestrando em Ciência Sociais pela UFRB



A GRATIDÃO É A RESPOSTA


“Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua Fe te salvou.” Lucas 17:17-19

A gratidão é a resposta imediata de uma pessoa que reconhece que recebeu a graça de Deus. A graça vem de Deus. Essa é a parte dEle. A gratidão deve brotar como resposta no coração humano. Essa é a nossa parte. No relato da cura dos dez leprosos, Jesus, usando a recorrente fórmula de declaração de salvação, diz ao leproso agradecido: “a tua fé te salvou.” O interessante é que não foi apenas o samaritano que foi curado da lepra, os outros nove também foram, mas apenas ele foi declarado salvo por Jesus. Apenas ele compreendeu o propósito maior por detrás da cura física que havia recebido.

Isso ensina que a graça de Deus é universal, ou seja, Ele a despeja sobre todos, mas só os que demonstram completa gratidão poderão usufruir da salvação. Ensina também que a obediência que Deus deseja que tenhamos é produto da recepção da graça no coração. Se for motivada por qualquer outra coisa, não pode ser recebida por Deus.

O episódio da cura dos dez leprosos evidencia como pode ser produzida no coração uma fé genuinamente grata pelo dom da salvação oferecido a nós. Deus sempre nos atrai, muitas vezes usando nossas necessidades humanas e exercita nossa fé, provando se de fato confiamos em Sua Palavra. A partir disso, Sua expectativa é que compreendamos o presente da salvação sem o qual não poderíamos viver, e devotemos nossa vida de forma irrestrita ao Senhor, através de uma obediência motivada por amor.

A ISCA

Os dez leprosos, pelas leis de higiene, não podiam se aproximar de ninguém. Respeitando essas leis, eles se dirigem a Jesus, à distância, imaginando que Cristo fosse um ser humano como os outros, passível de contaminação. Eles gritam em busca de misericórdia, imaginando, quem sabe, que Cristo pudesse curá-los fisicamente ou amenizar seu sofrimento. A postura deles, no entanto, é bem diferente de um leproso que se aproximou de Jesus o suficiente para ser tocado pelo Senhor. Esse indivíduo reconhecia a Cristo como Messias e exerceu uma fé genuína. Mas os dez leprosos ficaram de longe com medo de contaminar Jesus com sua lepra.

O pecado é exatamente assim, afasta as pessoas de Deus. No lamaçal do pecado, muitos são levados a crer, por Satanás, que não são dignos de se aproximar de Jesus. Assim o inimigo tem vitória. Mas, quando uma alma vacilante, mesmo distante, considerando-se indigna, clama a Jesus, não fica sem resposta do Mestre.

Essa distância de Cristo também pode simbolizar os motivos errados que nos levam a buscar a Jesus. Alguém que se relacione com Cristo apenas por conta das contingências humanas, não conseguirá chegar próximo do salvador para vê-lO de perto, experimentá-lO e vivenciar todas as maravilhas da presença de Cristo. Ficam, à distância, gritando por uma migalha de Sua misericórdia, quando poderiam se aproximar, com fé, reconhecendo que a sua oferta é muito maior do que nós queremos inicialmente. Ficam esperneando pelos desejos de um coração não regenerado, quando o que Cristo pode oferecer é a real necessidade que possuem, mas não conseguem enxergar. Não é esse tipo de relacionamento que Deus deseja ter conosco. Ele quer que nós nos aprofundemos em Sua vida, que O contemplemos bem de perto e sejamos salvos, que prossigamos em conhecê-lO. Mas uma busca baseada apenas nas superficialidades da vida, por mais que sejam coisas importantes e reais (como a lepra daqueles dez, ou as suas dívidas e desilusões amorosas, por exemplo) jamais dará ao ser humano aquilo que Deus deseja muito oferecer: a salvação.


O EXERCÍCIO DA FÉ


Essa busca egoísta, no entanto, não é desconsiderada por Deus. O verso 14 diz que quando Cristo ouviu aqueles gritos, à distância, respondeu, dizendo a eles que podiam se mostrar aos sacerdotes, que atuavam também como uma espécie de ficais da vigilância sanitária, verificando se alguém que se dizia curado, realmente, estava.

O fato é que quando Jesus pediu para aquele grupo ir aos sacerdotes eles ainda eram leprosos. A estratégia de Cristo, com isso, era estimular a fé daqueles homens. O Senhor desejava ensinar que, quando pedimos algo a Deus que está prometido em Sua palavra devemos ter a certeza de Sua resposta. O Senhor não aprecia pessoas duvidosas que vivem em busca de sinais para que possam crer. A Palavra de Cristo deve ser suficiente para nós. A fé vê o invisível, ouve o inaudível e apalpa o intangível. A fé é obedecer a Deus, mesmo que isso pareça estranho. É por isso que aqueles que andam pela fé estão na contramão do mundo. Seria uma situação ridícula para aqueles indivíduos mostrarem-se para os sacerdotes estando ainda leprosos. Mas o texto diz que eles foram e, na ida, foram curados.

Essa situação torna clara nossa necessidade de confiarmos irrestritamente na Palavra de Deus. Todos estamos doentes com a lepra do pecado e, de uma forma ou de outra, muitas vezes clamamos para que Deus nos limpe desses pecados, mas a impressão que temos, às vezes, é a de que não somos ouvidos. Os pecados são recorrentes é parece que nunca vamos vencê-los. As promessas da nova Aliança dão conta de que nós seremos vencedores e que a Lei de Deus estará em nossos corações, produzindo uma obediência completa a Deus. Esse é o tempo em que devemos reclamar insistentemente essas promessas e nos apropriarmos delas. Devemos, a exemplo dos dez leprosos, agir com base nessas promessas. Não podemos duvidar de Deus, pois Ele já proveu todos os meios para nossa redenção: Seu precioso sangue na Cruz e Seu Espírito regenerador.


O VERDADEIRO PRESENTE


Com a cura da lepra, Jesus queria levar os dez leprosos a entender a necessidade que tinham de salvação. Mas apenas um deles, o samaritano, compreendeu isso. Todos os dez haviam sido objeto da graça de Cristo, mas apenas ele se apropriou dela. O detalhe é que a graça de Deus não era o milagre da cura. Isso era apenas a isca para que aquelas mentes concretas pudessem ser encaminhadas para o Reino espiritual de Deus. No entanto, infelizmente, como os nove leprosos, a maioria das pessoas se contenta com as benesses materiais providas pelo evangelho, sem considerar que estas são iscas para atraí-los a um relacionamento íntimo com o Salvador.

Mas um rompeu a barreira do natural e manifestou fé, uma fé que alcançou a graça de Deus. O presente estava nas mãos de Cristo sendo oferecido para todos, mas apenas esse leproso samaritano teve o braço da fé para agarrá-lo. O verso 15 diz que ele voltou. Nem se menciona que ele tenha ido aos sacerdotes, ao que tudo indica quando ele percebeu que a mancha da lepra tinha saído de sua vida, deu meia volta, correu para onde Jesus estava e passou a glorificar a Deus em alta voz.

Esse é o resultado natural de uma vida que se apropria da graça de Cristo: um espetáculo de louvor a Deus. Ninguém cala uma pessoa salva por Jesus. O mundo percebe a diferença. Ele emite altos louvores ao seu Senhor. Ele se prostra, reconhecendo o senhorio de Cristo na vida e agradece.

Esse é a conceito-chave desse texto: gratidão. A gratidão é a resposta natural que alguém emite em relação ao recebimento da graça de Deus. Ser grato é reconhecer que o que foi recebido é imerecido. Com relação ao presente da salvação é entender que, se não fosse por Cristo, estaríamos perdidos, e que Jesus salvou a nossa vida. Então, a gratidão diz: “Deus, eu estou aqui, com tudo o que sou. Não mereço estar aqui, mas o Senhor me salvou, por isso me entrego completamente, sem reservas”. Isso é gratidão. Gratidão não é a hipocrisia das palavras. Gratidão é uma completa obediência a Cristo já que Ele pagou o preço pelo qual nós fomos salvos e, por isso, é o nosso Senhor. Uma pessoa realmente grata pelo presente da salvação que recebeu devotará sua vida a Deus em completa obediência e esta não lhe parecerá pesada. Não ficará questionando as ordens divinas, tentando relativizá-las, mas se subordinará inteiramente a Deus e perguntará ainda o que poderá fazer em resposta a esse amor tão grande e imerecido. Perguntará e responderá como o salmista: “Que darei ao Senhor por todos os Seus benefícios? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o Seu povo.”

O detalhe é que esse leproso que expressou gratidão era samaritano. Talvez isso ajude a explicar sua atitude. Os outros nove talvez por serem judeus imaginassem que eram dignos da cura e que a única dificuldade que tinham na vida era lepra, resolvido isso estavam muito bem. Mas o samaritano entendeu que sua necessidade era muito maior do que a cura. Ele precisava de salvação. A atitude dos nove fechou-lhes o céu. A atitude do samaritano fez dele um salvo.

A oferta graciosa de Cristo é para todos, mas apenas aqueles que com fé se aproximam de Deus serão salvos. Muitos se contentam com um relacionamento superficial com Jesus, desejando apenas bênçãos materiais. Entretanto a salvação só pode ser acessada por pessoas que com fé se dirigem a Deus e entregam plenamente sua vida em gratidão irrestrita.

quarta-feira, 13 de julho de 2011


José: Forte ou Fraco?

Felippe Amorim




INTRODUÇÃO



O perdão ilimitado de Deus é uma das grandes e maravilhosas mensagens da Bíblia. Há perdão para qualquer pecado, desde que confessado e abandonado. Essa é uma verdade confortadora para nós, seres humanos falhos.

Infelizmente, algumas pessoas deturpam as verdades bíblicas e fazem do perdão de Deus uma autorização para viverem no pecado. Alguns chegam ao cúmulo de “programarem” o pecado e também o pedido de perdão. Não é assim que deve ser a vida do cristão.

O pecado na vida do cristão deve ser um acidente e não uma constante. Assim João expôs este assunto: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 Jo. 2:1). O ideal da vida cristã é não pecar, o perdão é a solução de Deus para quando não conseguirmos atingir este ideal.

Deus deixou em Sua palavra princípios que, se seguidos, podem nos fazer mais resistentes ao pecado. A vida de José é, sem dúvida, uma rica fonte dos princípios divinos para este assunto.

Um dos episódios mais significativos da vida deste patriarca foi relatado na Bíblia da seguinte forma: “José foi levado ao Egito; e Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda, egípcio, comprou-o da mão dos ismaelitas que o haviam levado para lá. Mas o Senhor era com José, e ele tornou-se próspero; e estava na casa do seu senhor, o egípcio. E viu o seu senhor que Deus era com ele, e que fazia prosperar em sua mão tudo quanto ele empreendia. Assim José achou graça aos olhos dele, e o servia; de modo que o fez mordomo da sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha. Desde que o pôs como mordomo sobre a sua casa e sobre todos os seus bens, o Senhor abençoou a casa do egípcio por amor de José; e a bênção do Senhor estava sobre tudo o que tinha, tanto na casa como no campo. Potifar deixou tudo na mão de José, de maneira que nada sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia. Ora, José era formoso de porte e de semblante. E aconteceu depois destas coisas que a mulher do seu senhor pôs os olhos em José, e lhe disse: Deita-te comigo. Mas ele recusou, e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe o que está comigo na sua casa, e entregou em minha mão tudo o que tem; ele não é maior do que eu nesta casa; e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto és sua mulher. Como, pois, posso eu cometer este grande mal, e pecar contra Deus? Entretanto, ela instava com José dia após dia; ele, porém, não lhe dava ouvidos, para se deitar com ela, ou estar com ela. Mas sucedeu, certo dia, que entrou na casa para fazer o seu serviço; e nenhum dos homens da casa estava lá dentro. Então ela, pegando-o pela capa, lhe disse: Deita-te comigo! Mas ele, deixando a capa na mão dela, fugiu, escapando para fora” (Gn. 39: 1 – 12).

Uma rasteira da vida

José era o filho preferido de Jacó, nascido de sua esposa amada o pai dava uma atenção especial para ele. Por exemplo, certa vez Jacó fez uma capa especial e a deu a José, o que provocou muito ciúme em seus irmãos.

Mas na vida de José aconteceu algo que é comum entre os seres humanos. Ele estava em um lugar confortável, tinha toda a atenção que poderia ter, morava em segurança com seus pais, mas a vida deu uma rasteira nele, de filho preferido de Jacó ele passou a ser um escravo no Egito.

As vezes acontece isso em nossa vida. Temos um emprego estável, uma família feliz, uma boa saúde, mas de repente uma dessas coisas ou todas elas nos são tiradas pelas circunstâncias da vida. José passou por isso. Em um espaço de dias, ele saiu da casa do pai para a casa dos escravos, passou da condição de livre para cativo, saiu de sua terra para um lugar distante e desconhecido.

Hoje nós sabemos que Deus tinha um plano a executar através de toda esta tragédia que acontecia na vida de José, mas certamente enquanto ele vivia aqueles momentos muitas dúvidas pairavam em sua cabeça e ele se sentiu golpeado pela vida.

A ASCENSÃO


Apesar de toda a angustia pela qual passava a Bíblia diz que “O Senhor era com José”. Aí está o segredo desse jovem que naquele momento tinha aproximadamente 18 anos. Não importa o quão difícil é a situação pela qual passamos, o que importa é com quem passamos por este situação. Quem está com o Senhor tem paz na tempestade.

É interessante observarmos uma coisa. A Bíblia começa descrevendo José por sua condição interior. Estar com o Senhor é essencialmente uma condição interna.

A Igreja Adventista tem falado ultimamente muito sobre reavivamento e reforma. São duas necessidades urgentes dos cristãos modernos. Mas esta sequência precisa ser respeitada. Primeiro a comunhão com Deus deve acontecer para que depois as reformas possam ser realizadas. Reforma sem reavivamento vai gerar legalismo. Reavivamento sem reforma é apenas “fogo de palha”.

Na vida de José vemos claramente o processo correto acontecendo. Após a Bíblia descrever a situação interna dele, passa a descrever a parte exterior do jovem. O versículo seguinte começa dizendo: “Vendo Potifar que o Senhor era com José”.

Aqui percebemos claramente a situação interior sendo retratada no exterior. José não forçava uma aparência de cristianismo. A comunhão que ele tinha com Deus era facilmente percebida por quem o observava.

É útil que pensemos um pouco em quem viu que o Senhor era com José. Potifar era um pagão, certamente idólatra, pois era um egípcio. Não tinha o temor do verdadeiro Deus, mas até um pagão percebeu que aquele jovem era diferente. Dentre todos os escravos, José se destacava moralmente e quando Potifar precisou de alguém de confiança para administrar sua casa, foi o jovem diferente que ele buscou.

Por mais que o mundo critique o cristão, sempre que precisam de pessoas confiáveis os procuram. Portanto, não devemos ter vergonha ou medo de sermos diferentes. Os jovens devem mostrar a diferença de ter Cristo na vida ao estudarem, trabalharem, namorarem ou fazerem qualquer outra atividade. As pessoas devem “ver” Cristo em nós.

Precisamos lembrar que para aqueles que não conhecem a Cristo, nós somos “Cristo”. Que tipo de “Cristo” temos sido? O que as pessoas estão vendo em nós? Quando andamos na nossa vizinhança, na faculdade, no trabalho, o que as pessoas dizem ao nosso respeito?

José ascendeu no trabalho, virou mordomo de Potifar, porque nele se via a Cristo. Deus abençoou Potifar por causa de José. Deus abençoou um ímpio por causa de um jovem justo.


A Prova



A Bíblia diz que José era “Formoso de porte e de aparência”. Todo o período de escravidão não retirou de José o porte de um filho de Deus. Não devemos permitir que as pancadas que levamos da vida nos façam perder a noção de quem somos. Somos príncipes, filhos do Rei do universo.

Todos perceberam que José era um jovem especial, inclusive a esposa de Potifar. Ela começou a encher a cabeça do jovem fiel de propostas indecentes de adultério e fornicação. Satanás lançou sobre José uma tentação que tem levado muitos jovens cristãos a se afastarem de Deus: a sexualidade ilícita. O relato inspirado diz que todos os dias ela o importunava.

José era exatamente como qualquer outro jovem saudável. Possuía todos os hormônios e desejos que qualquer rapaz normal possui, fisicamente ele era igual a todos, mas espiritualmente tinha qualidades que o tornavam especial. A resposta de José nos dá uma pista de quem ele era: “Mas ele recusou, e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe o que está comigo na sua casa, e entregou em minha mão tudo o que tem; ele não é maior do que eu nesta casa; e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto és sua mulher. Como, pois, posso eu cometer este grande mal, e pecar contra Deus?” (Gn. 39: 8-9).

Aquela era uma decisão que definiria toda a vida futura dele. Se observarmos bem a resposta, perceberemos que a preocupação de José não estava em não desagradar homens, ele preocupava-se de verdade em não desagradar a Deus. Assim deve ser a vida de cada cristão. Em todas as nossas decisões devemos ter a preocupação de agradar primeiramente a Deus e, se possível, agradarmos também aos homens.

José possuía outra coisa que nos seria muito útil: a noção perene da presença de Deus. “Se acalentássemos uma impressão habitual de que Deus vê e ouve tudo que fazemos e dizemos, e conserva um registro fiel de nossas palavras e ações, e de que devemos deparar tudo isto, teríamos receio de pecar” ( Patriarcas e Profetas, pág. 217).

Quão bom seria se ao resistirmos à tentação pela primeira vez ela nos abandonasse, mas a tentação insiste, e a mulher insistia com José todos os dias. Um dia ela o agarrou arrancou sua roupa e ele fugiu, saiu correndo da presença da mulher.

José era fraco ou forte? Ele era fraco e tinha total noção de sua fraqueza. Sabia que se ficasse mais alguns momentos ali corria o sério risco de cair. Nós também precisamos ter a consciência de que somos muito fracos em relação ao pecado. Dessa forma faremos o possível para sempre andar longe dele e apegados ao único que tem força contra a tentação: Jesus cristo.

Preciosas Lições


Todos os dias somos tentados como José. Talvez não com a mesma modalidade de tentação, mas certamente com a mesma intensidade. O inimigo não desiste de nos vencer. Constantemente inventa novos métodos para nos derrubar. Fabrica tentações personalizadas com as quais tenta nos tirar dos braços de Jesus.

Sempre me perguntava por que a história da vida de José começava a ser contada no capítulo 37 de gênesis era interrompida pela história de Judá e Tamar no capítulo 38 e era retomada no capítulo 39. Se formos atentos, perceberemos que no capítulo 38 temos uma história de um homem que foi derrotado espiritualmente pelo pecado sexual e no capítulo 39 temos a vitória de um jovem sobre o mesmo tipo de pecado. Deus queria estabelecer uma comparação entre as duas histórias.

Judá não tinha algo que abundava na vida de José: comunhão com Deus. Na frase “O Senhor era com José” estão contidas as bases da força espiritual dele. Estudo da Bíblia e oração. É somente assim que o Senhor pode ser conosco. Não existe mágica para nos aproximarmos de Deus. É caminhando com Ele cada dia, tendo momentos de íntima comunhão que conseguiremos ter a força que estava em José. Deus quer nos dar as vitórias que deu aos heróis da fé, porém há uma parte que cabe a nós. Este é o momento de nos aproximarmos de Deus e sermos fortes em Seu nome.

quinta-feira, 7 de julho de 2011


Quem Morará no Céu?

Felippe Amorim


Introdução:


A hospitalidade é uma característica do cristão. Receber pessoas em casa geralmente é algo muito prazeroso, principalmente quando recebemos pessoas que amamos.

Infelizmente, no mundo em que vivemos não podemos abrir a porta de nossa casa indiscriminadamente. Há muita violência e isso nos deixa receosos quanto a quem irá frequentar nossa casa.

Sem dúvida, fazemos uma seleção de quem convidamos para estar conosco em casa. Que tipo de pessoa você convidaria para passar uns dias em sua casa? Que tipo de pessoa você convidaria para morar em sua casa?

Deus é o grande exemplo de hospitalidade. Mas, apesar disso, ele seleciona seus hóspedes. Deus tem uma casa temporária neste planeta, é a Sua igreja. Para esta casa Deus convida a todos. O maior pecador ou a mais inocente criança são convidados a frequentar a igreja. Mas dentro de algum tempo Deus nos levará para uma casa definitiva, que já está construída no céu. Para esta casa, Deus também convida a todos, mas não levará qualquer um. Ele fará uma seleção. O direito à entrada já foi garantido por Jesus na cruz, mas algumas características serão peculiares àqueles que desfrutarão da graça de estarem nas mansões celestiais. O salmo 15 nos diz quem morará com Jesus no céu. Neste salmo existem onze características dos que desfrutarão da eterna presença física de Jesus.


Deus é o anfitrião


Antes de apresentarmos as características dos cidadãos do céu apresentadas no Salmo 15, precisamos pensar em algumas questões importantes. A primeira coisa que necessitamos entender é que Deus é o anfitrião no céu. Como anfitrião, Ele tem todo o direito de estabelecer parâmetros para quem entrará em Sua casa. Deus é quem determina que tipo de hóspede quer receber.

Alguns creem na teoria universalista de que a morte de Jesus levará todas as pessoas, indiscriminadamente, para o céu. Mas não é isso o que a Bíblia apresenta. Percebemos claramente nas escrituras que no final dos tempos haverá um grupo de salvos e um grupo de perdidos. O pensamento de que “Deus é amor e por isso salvará a todos” não é bíblico. Deus salvará a todos que o aceitaram como Salvador e Senhor de sua vida. Aceitar Jesus como Salvador significa que entendemos que seu sacrifício foi suficiente para nos salvar do pecado e nos conduzir à vida eterna. Aceitá-lo como Senhor é submeter-se aos seus mandamentos. Todos os que morarão no céu, aceitaram, de acordo com a luz que tinham, as ordenanças de Deus em sua vida.

Outro aspecto importante que devemos entender é que precisamos ter um relacionamento com a pessoa que convidamos para morar em nossa casa. Deus só convidará para morar em Sua casa pessoas com as quais Ele tem um relacionamento. Não existe cristianismo sem relacionamento com Jesus Cristo.

As Características dos cidadãos do céu


O salmo 15 começa com uma pergunta importante: Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? quem morará no teu santo monte? (Sl. 15:1). Sem dúvida essa é uma pergunta importante para o cristão e sua resposta é essencial para o destino eterno da cada um. Na sequência do texto encontramos 11 características que analisaremos brevemente a seguir.

Integridade

A primeira característica dos cidadãos do céu que o Salmo 15 nos apresenta é a integridade. Segundo o dicionário ser íntegro é ser "completo", "inteiro", "sem defeito".

Deus ordenou a Abraão, um dos personagens ideais do Antigo Testamento, que fosse íntegro (Gn. 17: l). Nós sabemos que a vida deste homem não foi uma vida perfeita, impecável. Abraão cometeu erros.

Portanto, do ponto de vista bíblico, ser íntegro não é viver em ausência de pecado. É estar completamente submisso à vontade de Deus. Ser integro é estar sempre submetido a Jesus.

O cristão íntegro entende que Deus não quer apenas uma parte de sua vida, Ele a quer completamente. Infelizmente há pessoas que se entregam parcialmente a Jesus. Reservam sua alimentação, suas músicas ou outras coisas para que elas mesmas tomem conta. Não é assim que o cidadão do céu faz, ele se entrega inteiramente a Deus e deixa com que Deus determine por onde ele anda, o que ele ouve, o que ele bebe, compra, ou seja, entrega-se integralmente a Jesus.

Pratica a Justiça

Para entendermos o que significa praticar a justiça podemos apelar para o que o apóstolo João escreveu em 1 João 3: 6- 10: “Todo o que permanece nele não vive pecando; todo o que vive pecando não o viu nem o conhece. Filhinhos, ninguém vos engane; quem pratica a justiça é justo, assim como ele é justo; quem comete pecado é do Diabo; porque o Diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo. Aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente; porque a semente de Deus permanece nele, e não pode continuar no pecado, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de Deus, nem o que não ama a seu irmão”.

Praticar a justiça é não viver no pecado voluntário. O pecado na vida do cristão deve ser apenas um acidente. Deus deixou em Sua palavra a Sua vontade revelada. Pecado é ir contra esta palavra.

Devemos seguir o que Deus determina mesmo que não seja o que nós queremos, pois a vontade de Deus sempre é melhor que a nossa.

Fala a verdade de coração.


Esta é sem dúvida uma característica desafiadora. Vivemos em uma época na qual a mentira está generalizada. Nesta sociedade os fins justificam os meios, mentir não importa muito, contanto que se leve alguma vantagem, essa é a filosofia da nossa sociedade.

O cidadão do céu preza pela verdade. Sua palavra é como Jesus determinou: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno”(Mt 5:37). O verdadeiro cristão é totalmente sincero, não trabalha com “meia-verdade”.

Ele fala a verdade de coração, ou seja, suas palavras verdadeiras derivam de um coração que está em harmonia com o criador. O cidadão do céu cuida do seu coração, seguindo a recomendação de Salomão: “Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”(Pv. 4:23)

As três primeiras características apresentadas pelo salmo 15 são internas. Deus tem uma mensagem com isso. Primeiro devemos cuidar das nossas questões internas. No movimento de reavivamento e reforma, esta sequência precisa ser respeitada. Reforma sem reavivamento prévio gera legalismo. O que importa não são formas nem cerimônias, senão o caráter que se manifesta nas ações nobres.

Não difama

O cidadão do céu não lança palavras mentirosas contra seu irmão. Falar mal do próximo, mesmo contra uma pessoa má, não é uma característica de um cristão. Mesmo ouvir a difamação já é participar deste pecado.

“Quando damos ouvidos a uma difamação contra nosso irmão, somos responsáveis pela mesma. [...] Devemos esforçar-nos por pensar bem de todos os homens, especialmente de nossos irmãos, até que sejamos forçados a pensar de outro modo. Não devemos ter pressa em acreditar em relatórios maus. Eles são muitas vezes resultado de inveja ou mal-entendidos, ou podem proceder de exageros ou de uma exposição de fatos tendenciosa. O ciúme e a suspeita, uma vez se lhes tendo dado lugar, espalhar-se-ão aos quatro ventos, como as sementes de cardo. Se um irmão se desvia, é então ocasião de nele mostrardes vosso real interesse. Ide ter com ele bondosamente, orai com ele e por ele, lembrados do preço infinito que Cristo pagou por sua redenção. Deste modo podereis salvar da morte uma alma e cobrir multidão de pecados.” (Conselho Sobre Educação. 88,89)

Obreiros fervorosos não têm tempo para demorar-se nos defeitos alheios. Contemplam o Salvador, e contemplando-O transformam-se em Sua semelhança. Ele é Aquele cujo exemplo devemos seguir na formação do nosso caráter. Em Sua vida na Terra Ele revelou claramente a natureza divina. (Testemunhos Seletos v. 3, 230)


Não faz mal ao semelhante


Na vida de um cidadão que morará no céu o fazer o bem é uma ação constante. Sua preocupação constante é como ajudar ao semelhante. Uma pergunta importante é “quem é meu semelhante?”

Jesus respondeu a esta pergunta com a parábola do Bom Samaritano, segundo esta história, o nosso semelhante são todas as pessoas que estão próximas de nós e são necessitadas de ajuda.

A partir deste princípio o cidadão do céu é alguém que faz bem a TODOS, sem exceção.


Não lança calúnia


O cidadão do céu vive segundo a regra de ouro: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas” (Mat. 7: 12).

“Quando alguém chega a vós com uma história acerca de vosso semelhante, deveis recusar-vos a ouvi-la. Deveis dizer-lhe: "Falaste com a pessoa interessada a esse respeito?"... Dizei-lhe que ele deve obedecer a regra bíblica, e ir primeiro a seu irmão, e dizer-lhe em particular sua falta, e com amor. Caso os conselhos de Deus fossem seguidos, cerrar-se-iam os diques à maledicência”. (Review and Herald, 28 de agosto de 1888.)

“Os pastores e leigos desagradam a Deus, permitindo a indivíduos falar-lhes acerca dos erros e defeitos de seus irmãos. Não deveriam atender a essas informações, mas sim inquirir: Acaso fizeste como manda o Salvador? Foste ter com o teu ofensor, advertindo-o de suas faltas entre ti e ele só? E recusou ouvir-te? Tomaste contigo, depois de orar sobre o caso, duas ou três testemunhas, buscando convencê-lo com ternura, humildade e mansidão, e com o coração palpitante de simpatia por ele?” (Testemunhos Seletos v. 2, 260)
Rejeita o desprezível


Essa é uma expressão muito interessante. Rejeitar o desprezível significa se afastar de coisas proibidas.

Alguns cristãos gostam de estar perto de coisas que são proibidas. Vivem se perguntando “até onde posso ir sem pecar?” Esta não é a pergunta correta. Deveríamos nos perguntar “como devo viver para estar bem longe do pecado?”

Deveríamos rejeitar tudo o que não agrada a Deus. Programas de televisão, músicas, conversas, comidas, enfim, o cristão que morará no céu é inimigo daquilo que Deus é inimigo.

Honra os que temem ao Senhor

Essa característica diz respeito a como o cristão encara as homenagens que presta a outras pessoas. O texto nos diz que nós podemos prestar homenagens. Porém, também nos é apresentado quem merece nossas homenagens.

O cristão genuíno honra aos verdadeiros seguidores de Deus. Dá mais importância à verdadeira piedade que à linhagem e à posição.

Bajular pessoas por causa de sua riqueza ou por causa de algum benefício que possa receber não é uma ação do cidadão do céu. A honra deve ser dada àqueles que temem a Deus, esse é o verdadeiro critério para as homenagens do cristão.

Mantêm a palavra mesmo prejudicado

Pode-se ter absoluta confiança no que o cidadão do céu prometeu. Ele sempre cumpre sua palavra, mesmo que sua promessa o faça ter prejuízo, ele sempre cumpre-a. Ele sempre é fiel em seus negócios, cumpre os horários combinados.

Este cristão tem a consciência de que “os cálculos de cada negócio, os pormenores de cada transação passam pelo exame de auditores invisíveis, agentes dAquele que nunca transige com a injustiça, nem abona o mal, nem passa por alto o erro” (Educação, 144).

Não empresta visando lucro


A décima característica diz respeito a não exploração dos pobres. O cidadão do céu não se aproveita de pessoas em condições piores que a dele para tirar proveito financeiro.

Isso se aplica também na hora de comprar e vender. Não se deve aproveitar-se da situação de desespero das pessoas para lucrar com isso. Os negócios precisam ser feitos com justiça nos preços e nos lucros.

Não aceita suborno

A última característica tem relação com a honestidade. Em um mundo onde a desonestidade tem virado “virtude” dos espertos, estamos precisando de mais cidadãos do céu que são honestos na hora de fazer uma prova, na hora de fechar um negócio, na hora de vender seus produtos.

Outro aspecto importante deste ponto é que o cidadão do céu faz o que é certo mesmo quando alguém lhe oferece vantagens para que ele faça o que é errado.

Poderíamos resumir estes onze pontos com uma citação muito significativa: “A maior necessidade do mundo é a de homens - homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus”. (Educação, 57)


A Fonte das características


O salmo termina de uma forma muito significativa: “Quem desse modo procede não será abalado”(v.5)

A pessoa em cujo caráter se mostra as características enumeradas nos versos 2-5 é digna de ser hóspede de Deus. Como está colocada sobre uma base segura, não será abalada. Mas qual é essa base segura. Como o cristão pode “não ser abalado”?

Mateus 7:24-25 nos diz quem é este cristão que não será abalado: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha. E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa; contudo não caiu, porque estava fundada sobre a rocha”.

Somente quando nos firmamos na Rocha, ou seja, em Cristo, é que podemos não ser abalados. Todas estas características do cidadão do céu somente são possíveis de existirem em uma pessoa se ela estiver firmada na rocha da salvação. Só Jesus conseguiu cumprir tudo perfeitamente e quando falhamos é nos méritos dEle que confiamos para continuarmos a caminhada. Confiados em Seus méritos é que viveremos aqui como cidadãos do céu e finalmente entraremos nas mansões celestiais.