segunda-feira, 25 de julho de 2011


A Pedagogia das Tempestades

Felippe Amorim

Introdução



Deus tem diversas formas de nos ensinar Suas lições. Ele é um professor por excelência e nós somos seus alunos por extrema necessidade. Nesta relação professor-aluno, nós somos muito beneficiados, pois, na verdade, não sabemos nada e precisamos da sabedoria dAquele que sabe de tudo.

A história relatada em Mateus 14: 22-33 nos mostra um dos métodos de Deus para ensinar os seres humanos. Esta história acontece em três cenários distintos: A praia, o mar e o coração dos discípulos. Meditando nela conseguiremos entender como Deus trabalha a sua pedagogia.

A Praia

Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. (Mt 14: 22-23)
Jesus tinha acabado de realizar o espetacular milagre da multiplicação dos pães e peixes. Aquele evento tinha acendido a esperança daquelas quase dez mil pessoas de que finalmente o messias libertador político havia chegado. Eles tinham esperança de que se tornariam livres dos romanos, que a miséria acabaria e finalmente Israel se tornaria uma poderosa nação que dominaria as outras.

A multidão aclamava Jesus e esse sentimento também era real no coração dos discípulos. Eles também criam em um messias político. Não compreendiam que o reino de Jesus seria espiritual e não terreno.

Os discípulos queriam coroar Jesus naquele momento, Judas era o mais animado. Ele se imaginava tesoureiro do reino que seria estabelecido. As vantagens terrenas estavam diante dos olhos dos discípulos.

Mas Jesus, com sua infinita sabedoria, sabia que se ele fosse coroado seu ministério chegaria ao final precocemente.

Jesus, então, dá uma ordem aos discípulos, manda-os irem embora para o outro lado do mar. Eles não queriam ir, seus planos eram coroar Jesus rei. Para que os discípulos obedecessem à ordem, o Mestre teve que ser duro com eles. A palavra inspirada diz que Ele os obrigou a ir. Em outras traduções diz que eles foram compelidos. A questão é que para que os discípulos fossem para onde Jesus queria, foi necessário que pela primeira vez Jesus falasse de forma dura com eles.

A recusa de Jesus de coroar-se rei causou grandes dúvidas nos discípulos: “Deveriam ser sempre considerados seguidores de um falso profeta? Não haveria Cristo nunca de afirmar Sua autoridade como rei? Por que não havia Ele, que possuía tal poder, de revelar-Se em Seu verdadeiro caráter e tornar-lhes a eles o caminho menos penoso? Por que não salvara João Batista de uma morte violenta? Assim raciocinavam os discípulos, até que trouxeram sobre si mesmos grande treva espiritual. Perguntavam: Poderia ser Jesus um impostor, como afirmavam os fariseus?” (Desejado de Todas as Nações, 380). A primeira tempestade desta história não aconteceu no mar, aconteceu na cabeça dos discípulos. Eles precisavam aprender no que consistia a obra de Cristo. A cabeça dos discípulos estava em tempestade de pensamento.

Sabendo de tudo o que estava acontecendo, Jesus subiu para o monte para orar. Ele orava pela multidão e orava pelos discípulos. Ambos os grupos precisavam compreender a essência do reino de Deus.

O mar


Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais. Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas. Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? E logo que subiram para o barco, o vento cessou (Mt 14: 24-32).

Já estava quase escuro quando os discípulos partiram no barco, eles demoraram a cumprir a ordem de Jesus.

Mesmo indo para o lugar onde Jesus havia mandado, eles não estavam isentos de enfrentarem tempestades, pois, “o vento era contrário”. Na vida também enfrentamos tempestades, mesmo quando seguimos o caminho que Jesus nos indicou, pois, existe um inimigo que sopra um vento contrário. O próprio Jesus disse: “No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”(Jo. 16:33). A promessa de Jesus é companhia, não ausência de tribulações.

O vento era contrário não somente no mar, mas também no coração dos discípulos. Jesus sabia disso e queria os ensinar uma preciosa lição.

Então Jesus permitiu que a tempestade chegasse aos discípulos, ela seria seu instrumento pedagógico. O tormentoso mar, paradoxalmente, pôde aquietar a tormenta que rugia no coração deles. Do mesmo modo, às vezes nos encontramos no mar das dificuldades, nessas ocasiões Jesus usa a tormenta para nos fazer crescer espiritualmente.

Há algo curioso nesta história. A Bíblia diz que somente “na quarta vigília da noite” Jesus foi socorrê-los. Naqueles tempos a noite era dividida em quatro vigílias de três horas cada uma. Portanto, Jesus foi em direção aos discípulos por volta das três horas da manhã. Ele aparentemente demorou. Os discípulos lutaram contra a tempestade durante cerca de oito horas.

Por que Jesus demorou tanto? A primeira coisa que precisamos saber é que Jesus lá de cima do monte velava pelos discípulos, mesmo chegando apenas na quarta vigília Jesus passou a noite toda os observando e os protegendo. Não fosse isso e o barco teria afundado logo no início da tempestade, porém, Jesus queria deixa-los lutando até que eles entendessem que não poderiam vencer sozinhos.

Lá na praia os doze seguidores de Cristo achavam que eram sábios e poderosos. Achavam que poderiam entronizar a Jesus e não concordaram com o Mestre quando os mandou ir embora. O Senhor queria ensiná-los que eles não podiam nada sozinhos. Esta é uma lição que nós também precisamos aprender. Às vezes Jesus nos deixa lutando em nossas tempestades até que compreendamos que não podemos vencer sozinhos.

Depois de uma noite de luta finalmente acabaram as forças deles. A demora de Jesus fez com que eles percebessem o quanto necessitavam do seu Senhor. Quando eles perceberam que não podiam sozinhos, então Jesus veio. Quão bom seria se nós nos rendêssemos a Jesus logo no início de nossas lutas!

Jesus foi encontrá-los andando sobre o mar. A tempestade ainda estava muito intensa, mas Jesus anda sobre e dentro da tempestade. “Tende bom ânimo” e “não temais”. Estas foram as ordens dadas por Jesus enquanto a tempestade ainda estava forte.

Estas mesmas ordens são dadas a nós. Mesmo no meio das aflições não precisamos ter medo. O segredo estava na frase: “SOU EU”. É a presença de Cristo que garante paz em meio à tempestade.

Neste momento da história se destaca a figura do sempre pronto a falar: Pedro. A frase que ele falou pode traduzir-se também assim: "já que és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas". Pedro não tinha dúvida de quem era o que lhes tinha aparecido. Embora inicialmente os discípulos tenham gritado com medo de um fantasma. Logo identificaram Jesus como aquele que caminhava sobre o mar, de outro modo Pedro nunca se teria atrevido a sair do barco para tentar caminhar sobre as ondas encrespadas pelo vento.

Pedro saiu do barco por fé. A fé o sustentou sobre as águas do mar de Galileia. Mas essa fé só foi ativa enquanto ele manteve os olhos fixos em Jesus.

Nunca precisamos temer enquanto mantemos os olhos em Cristo e confiamos em sua graça e poder. Mas quando nos olhamos a nós mesmos, aos que nos rodeiam, e às dificuldades que nos circundam, temos muitas razões de ter medo.

Ellen White descreve assim aquele momento: “Olhando para Jesus, Pedro caminha firmemente; como satisfeito consigo mesmo, porém, volta-se para os companheiros no barco, desviando os olhos do Salvador. O vento ruge. As ondas encapelam-se, alterosas, e interpõem-se exatamente entre ele e o Mestre; e ele teme. Por um momento, Cristo fica-lhe oculto, e sua fé desfalece. Começa a afundar. Mas ao passo que as ondas prenunciam morte, Pedro ergue os olhos para Jesus e brada: "Senhor, salva-me!. Jesus segura imediatamente a estendida mão, dizendo: "Homem de pequena fé, por que duvidaste?”

A tempestade só cessou completamente quando Jesus entrou no barco. Assim também será em nossa vida, apenas quando o Senhor estiver dentro do nosso barco é que teremos as nossas tempestades espirituais acalmadas.

O Coração



Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus. (Mt 14:33)

O objetivo de Jesus com tudo isso era alcançar o coração dos discípulos. Este é o terceiro cenário desta história.

Somente depois de enfrentar uma tempestade e de quase perderem a vida é que eles finalmente entenderam o que Jesus queria ensiná-los. Foi nesta ocasião quando os discípulos confessaram pela primeira vez que Jesus era o Filho de Deus e o adoraram na forma em que os homens adoram a Deus.

Jesus queria ensiná-los sobre a verdadeira adoração e usou a tempestade como instrumento de ensino.

Quando Deus permite tempestades em nossa vida ele quer nos ensinar algo. Quer nos ensinar dependência, por exemplo, pois,” os que deixam de compreender sua continua dependência de Deus são vencidos pela tentação” (Desejado de Todas as Nações, 264)

Da próxima vez que enfrentarmos as tempestades da vida não devemos mais perguntar “por que?” mas “para que?”. Se estivermos dentro da tempestade neste momento, oremos da seguinte forma: “Senhor, o que queres me ensinar através deste problema”. Nunca devemos nos esquecer de que Jesus está conosco dentro da tempestade nos prometendo: “Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador” (Isa. 43:1-3). Aprendamos com a pedagogia das tempestades.

Um comentário:

Rubia disse...

Eu assisti o Pr Felipe na TV BN e esse texto moeu minha alma. Me fez entender as tempestades que já enfrentei nos mares da vida. E isso acalmou meu coração. Eu queria muito compartilhar a pregação com minha filha que está passando por algumas tempestades e achei esse blog . Que Deus abençoe seu trabalho .