terça-feira, 30 de agosto de 2011

Retrato de um Pastor
(texto publicado na Revista Ministério de Set-Out / 2011)


Felippe Amorim


Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero com eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória. (I Pedro 5: 1-4)

Introdução

Na Bíblia podemos encontrar exemplos de diversas pessoas que dedicaram sua vida ao ministério pastoral. Timóteo, Paulo, Jesus – o Supremo Pastor, dentre outros. O apóstolo Pedro recebeu sua ordenação ao ministério do próprio Jesus quando conversava com Ele às margens do mar da Galileia: “pastoreai as minhas ovelhas” (João 21:16).

Ao escrever sua primeira carta, Pedro dirige conselhos espirituais para diversas classes da igreja. Os pastores, líderes da igreja, não foram esquecidos pelo apóstolo. No capítulo 5:1-4 ele se dirige especificamente aos pastores. Nesses breves e profundos versículos, Pedro deixou estabelecidos a identidade, o trabalho e a recompensa do pastor. Palavras às quais todos aqueles que almejam ou exercem o ministério devem estar muito atentos.


A identidade do pastor



No verso 1, Pedro apresenta-se aos líderes aos quais escreve. Em sua apresentação podemos claramente observar as credenciais com as quais um pastor deve se identificar. No início de sua apresentação o apóstolo usa a expressão “presbítero com eles”(v.1). Pedro se mostra igual a todos os outros líderes para os quais escreve.

Uma característica que deve fazer parte das credenciais de um pastor é a humildade. O pastor não deve achar-se superior aos outros pastores, muito menos aos membros da igreja. Com tristeza ouvi o lamento de um membro de uma igreja que recebeu uma severa repreensão de seu pastor por tê-lo chamado de “irmão”. Se os pastores não são também “irmãos”, o que são finalmente?

Pedro continua se apresentando. A expressão que ele usa agora é “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (v.1). Ninguém melhor que ele poderia usar esta expressão. Pedro esteve bem perto de Jesus na maioria dos momentos de sofrimento do Salvador na terra. Mas esta frase deve levar-nos a refletir em nossa vida. O pastor deve ser uma testemunha de Jesus. Seus olhos devem estar em todos os momentos de sua vida fixos no Mestre. Testemunha no sentido de quem fala a respeito, mas, também no sentido de quem conhece.

Não temos o privilégio que Pedro teve de contemplar a Jesus pessoalmente. Mas podemos contemplá-lo pela fé através das páginas das Escrituras Sagradas. O estudo da Bíblia deve ser a ação mais frequente da vida pastoral. Ellen White comenta: “Fato lamentável é que o progresso da causa seja prejudicado pela falta de obreiros instruídos. Muitos carecem de requisitos morais e intelectuais. Eles não exercitam a mente, não cavam em busca dos tesouros ocultos. Visto que apenas tocam a superfície, adquirem unicamente o conhecimento que à superfície se encontra” (Obreiros Evangélicos, 93). O pastor é uma testemunha por conhecer profundamente seu Mestre.

As palavras introdutórias de Pedro continuam. Ele se auto-denomina “co-participante da glória que há de ser revelada”. Percebe-se em suas palavras uma firme esperança no glorioso futuro prometido por Jesus. Além de participar da glória, o apóstolo entende que é co-participante do sofrimento de cristo: “Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.”(I Pe. 2:21). Isso também fica claro em I Pedro 4:13 onde lemos: “mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis”. A vida pastoral não é feita apenas de momentos de felicidade. As aflições certamente farão parte da jornada de um líder, pois o líder maior, Jesus Cristo, passou por muitas aflições. O prêmio final deve ser a grande motivação do ministro.

O trabalho do pastor

Após apresentar as credenciais espirituais do ministro, Pedro começa a expor seus conselhos. O primeiro deles é: “Pastoreai o rebanho”(v.2). Este mesmo conselho já havia sido dado por Paulo (Atos 20: 28) e por Jesus(João 21:16). Quando nos voltamos para a figura do pastor cuidando de suas ovelhas no campo, entendemos o conselho. Pastorear significa alimentar e cuidar do rebanho.

O pastor alimenta sua igreja quando sobe ao púlpito com uma mensagem retirada da Bíblia. O sermão deve ser guiado pelo conselho paulino: “prega a palavra”(II Tim. 4:2). Histórias engraçadas ou comoventes podem entreter, mas só a palavra de Deus alimenta.

O cuidado do pastor é feito mais eficazmente de forma individual. É no contato do pastor com a ovelha que são detectadas as feridas e as debilidades da ovelha, e assim o pastor pode exercer seu cuidado de forma mais efetiva. A visita pastoral à casa do membro é um excelente momento para que isso aconteça. Todo o cuidado com os membros da igreja é pouco, pois somos sub-pastores cuidando das ovelhas do Supremo Pastor (João 10: 14 e 21: 15)

Pedro passa para um próximo tópico de seus conselhos sobre o trabalho pastoral. Ele fala que o trabalho deve ser “não por força, mas espontaneamente”(v.2). A alegria deve permear a vida ministerial. Fazer o trabalho que Cristo fazia deve ser motivo de prazer no trabalho. Aliás, se o trabalho não for espontâneo, com alegria, não será aceito, pois o único serviço que Deus aceita é aquele feito com alegria (2 Cor. 9:7).

A lista de recomendações continua. O final do verso dois nos diz que o pastor não deve trabalhar por ganância. O dinheiro não deve estar entre as motivações para o trabalho. Deus provê tudo aquilo que o pastor precisa, para que ele trabalhe motivado pela salvação de almas.

Parece que Pedro deixou para arrematar os conselhos com uma das mais importantes facetas do ministério pastoral. “Não por dominação, mas sendo modelos do rebanho”(v.3).

O trabalho do pastor não deve ser exercido a partir de um autoritarismo quase militar, o ministro não “manda” na igreja. Ele é servo de Deus, designado para cuidar da igreja. A autoridade do pastor é moral e espiritual, e por isso Pedro termina seus conselhos falando que o ministro deve ser um exemplo de cristão. São abundantes os texto sagrados que falam que o líder deve ser modelo (Tito 1:7, 1 Tes. 1: 7; 2 Tes. 3: 9; 1 Tim. 4: 12; Tito 2: 7).

A mesa do pastor deve ser exemplo para os membros, assim como a roupa, as palavras, as reações, as músicas, os relacionamentos. O pr. Paulo entendia muito bem isso quando disse: “Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo”(1 Cor. 11:1).

Ellen White escrevendo sobre as características de um ministro estabeleceu 7 Requisitos essenciais para a vida do pastor:

1 – Simpatia: Necessitamos mais da simpatia natural de Cristo; não somente simpatia pelos que se nos apresentam irrepreensíveis, mas pelas pobres almas sofredoras, em luta, que são muitas vezes achadas em falta, pecando e se arrependendo, sendo tentadas e vencidas de desânimo. (Obreiro Evangélicos, 140)

2 – Integridade: Necessitam-se neste tempo homens de coragem provada e firme integridade, homens que não temam erguer a voz na defesa do direito. (Obreiro Evangélicos, 141)

3 – União com Cristo: Uma ligação vital com o Sumo Pastor, há de fazer do subpastor um representante vivo de Cristo, uma verdadeira luz para o mundo. (Obreiro Evangélicos, 142)

4 – Humildade: Os que possuem mais profunda experiência nas coisas de Deus, são os que mais se afastam do orgulho e da presunção. (Obreiro Evangélicos, 142)

5 – Fervor: O meditar somente não satisfará a necessidade do mundo. Religião não deve ser em nossa vida uma influência subjetiva. Temos de ser cristãos bem alerta, enérgicos e ardorosos, cheios do desejo de comunicar aos outros a verdade. (Obreiro Evangélicos, 143)

6 – Coerência: Não importa quão zelosamente seja advogada a verdade, se a vida diária não testemunhar de seu poder santificador, as palavras faladas de nada aproveitarão. Uma conduta incoerente endurece o coração e estreita o espírito do obreiro, colocando também pedras de tropeço no caminho daqueles por quem ele trabalha. (Obreiro Evangélicos, 144)

7 – A vida diária: O pastor deve achar-se livre de toda desnecessária perplexidade temporal, a fim de se poder entregar inteiramente a sua santa vocação. Cumpre-lhe orar muito, e sujeitar-se sob a disciplina de Deus, para que sua vida revele os frutos do verdadeiro domínio de si mesmo. Sua linguagem precisa ser correta; nada de frases de gíria, nem de palavras vulgares devem-lhe sair dos lábios. Seu vestuário deve estar em harmonia com o caráter da obra que está fazendo. Esforcem-se os pastores e professores por atingir a norma estabelecida nas Escrituras. (Obreiro Evangélicos, 14)

Pesa sobre os ombros do ministro uma grande responsabilidade. Por isso a comunhão com Cristo deve ser muito almejada.

A recompensa do pastor


Diante de tanta responsabilidade, seria no mínimo estranho se Jesus não estabelecesse um pagamento para os ministros. Não me refiro simplesmente ao salário do qual é digno o trabalhador (I Tim. 5:18). Me refiro a um prêmio maior.

I Pedro 5:4 diz: “Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória”. A frase é afirmativa. Logo que Jesus voltar, Ele garante: “recebereis”. Há uma recompensa guardada para todos aqueles que forem fiéis e certamente os pastores estão incluídos (Mat. 5: 12; 2 Cor. 4: 17; 2 Tim. 4: 8). Todos os pastores que foram fiéis em seu trabalho um dia receberão a coroa das mãos do Supremo Pastor. E para este grupo ainda há uma recompensa especial: ver aqueles que Jesus colocou sob sua responsabilidade também recebendo a coroa da vida das mãos do Bom Pastor, nosso Senhor Jesus Cristo.

Todos os pastores devem trabalhar no presente com o seu coração no futuro. Naquele glorioso dia, todas as angústias, todos os desafios, a vida abnegada, muitas vezes, sangue, suor e lágrimas serão recompensados. Todos seremos ovelhas do Grande Pastor e nunca mais sofremos os efeitos do mal. Somente felicidade, para sempre.





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