terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fidelidade a toda prova


Felippe Amorim


Introdução

Dentre as figuras que marcaram o triste cenário da segunda guerra mundial, destacam-se os pilotos japoneses conhecidos como Kamikazes. Eles partiam de suas bases com os aviões carregados de munição e com uma certeza no coração: nunca mais retornariam para casa.

Após descarregarem toda a munição contra seus inimigos, os pilotos Kamikazes apontavam os próprios aviões em direção ao alvo e faziam um mergulho mortal com a intenção de destruir o máximo possível de bases militares, navios ou qualquer outro equipamento de guerra do inimigo.

Conta-se a história de um desses pilotos que antes de atingir um porta-aviões americano teve o avião abatido e ao cai no mar sobreviveu. Ele ficou muito triste porque não conseguiu dar a sua vida nesta missão que ele considerava tão nobre.

Embora os motivos destas ações suicidas sejam passíveis de discussão, sem dúvida estas histórias são de extrema coragem e amor por uma causa. Estes pilotos não temiam dar a própria vida por aquilo que acreditavam.

Na Bíblia encontramos uma história de muita coragem e amor pela causa de Deus e que deve motivar cada cristão a repensar a sua vida e o quanto têm se entregado à causa do evangelho.

Em Daniel 3: 1-7 lemos o seguinte: O rei Nabucodonosor fez uma estátua de ouro, cuja altura era de sessenta côvados, e a sua largura de seis côvados; levantou-a no campo de Dura, na província de babilônia. Então o rei Nabucodonosor mandou reunir os príncipes, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os juízes, os capitães, e todos os oficiais das províncias, para que viessem à consagração da estátua que o rei Nabucodonosor tinha levantado. Então se reuniram os príncipes, os prefeitos e governadores, os capitães, os juízes, os tesoureiros, os conselheiros, e todos os oficiais das províncias, à consagração da estátua que o rei Nabucodonosor tinha levantado; e estavam em pé diante da imagem que Nabucodonosor tinha levantado. E o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós, ó povos, nações e línguas:

Quando ouvirdes o som da buzina, da flauta, da harpa, da sambuca, do saltério, da gaita de foles, e de toda a espécie de música, prostrar-vos-eis, e adorareis a estátua de ouro que o rei Nabucodonosor tem levantado. E qualquer que não se prostrar e não a adorar, será na mesma hora lançado dentro da fornalha de fogo ardente. Portanto, no mesmo instante em que todos os povos ouviram o som da buzina, da flauta, da harpa, da sambuca, do saltério e de toda a espécie de música, prostraram-se todos os povos, nações e línguas, e adoraram a estátua de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado.

O cenário

A campina de Dura estava repleta de autoridades vindas de todos os lugares do império babilônico. A intenção de Nabucodonosor era espalhar a adoração àquela imagem pelo máximo de lugares possível e por isso convidou todas as autoridades do império. Por algum motivo que desconhecemos o profeta Daniel não estava naquele lugar, mas seus três fiéis amigos, Sadraque, Mesaque e Abednego, foram convidados. Satanás sempre enviará convites para que os fiéis filhos de Deus façam coisas más.

Logo que chegaram àquela campina todos puderam contemplar a magnífica escultura de aproximadamente trinta metros de altura e três de largura erigida por Nabucodonosor. Se prestarmos atenção no relato bíblico, perceberemos que por várias vezes é repetida a expressão “que o rei Nabucodonosor tem levantado”. Aquela estátua fora estabelecida para exaltar o nome de Nabucodonosor em direta oposição ao nome do Deus verdadeiro, o qual havia dado o sonho da imagem algum tempo antes para o rei. Além disso, o império babilônico também estava mostrando para todos, o quão rico e poderoso era. Ao invés de apenas a cabeça de ouro (como mostrado no sonho do capítulo dois), toda a estátua era de ouro puro, um recado de que a babilônia seria eterna.

Uma grande orquestra foi organizada e a ordem era que todos ao ouvirem o som dos instrumentos deveriam curvar-se e adorá-la. Seria uma grande festa de blasfêmia ao nome de Deus. O arauto avisou que a pena para quem não obedecesse seria a fornalha ardente. Mas nem todos os convidados estavam dispostos a obedecer à ordem do rei.

A Cena

A orquestra tocou, chegara o momento de todos adorarem a estátua que tinha sido esculpida. Imagine a pressão de grupo que os três hebreus sofreram. Milhares se ajoelhando, será que apenas os três seriam os diferentes?

Aquele era um momento onde eles poderiam ter tomado algumas atitudes para fugir daquela situação constrangedora. Eles poderiam ter disfarçado e dado um jeito de fingir que estavam ajoelhados apenas por um momento. Eles poderiam ter racionalizado: “Deus conhece meu coração, sabe que estou me ajoelhando, mas não é para adorar a estátua” ou “vou procurar um lugar onde ninguém me conhece, me ajoelho e depois peço perdão a Deus, Ele sempre perdoa mesmo...” ou ainda “Deus não quer que eu morra, então vou apenas me abaixar para não me expor ao perigo”.

Nenhuma dessas justificativas foi usada. Aqueles três jovens não tinham medo de serem os diferentes. Aliás, eles devem ter ficado em pé, com o peito estufado, mostrando exatamente a quem eles pertenciam.

Logo a notícia de que os três jovens hebreus não tinham se prostrado chegou aos ouvidos de Nabucodonosor, provavelmente levada por um grupo de invejosos que não suportavam o sucesso notório que aqueles jovens tinham desde que chegaram como escravos nas terras babilônicas.

Neste momento algo estranho aconteceu. O rei havia dito que “qualquer que não se prostrar e não a adorar, será na mesma hora lançado dentro da fornalha de fogo ardente. (Daniel 3:6)”. Mas não foi o que aconteceu. O rei ofereceu uma segunda chance para os três. Provavelmente porque aqueles jovens faziam parte do grupo dos mais inteligentes e eficientes dos seus funcionários, Nabucodonosor havia descoberto isso ainda no início da história dos hebreus como cativos babilônicos (Daniel 1:20) e não os queria perder.

O rei ofereceu uma segunda chance de os jovens se ajoelharem e escutou uma das mais lindas declarações de fé contidas na Bíblia: “Ó Nabucodonosor, quanto a isso não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e de tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantastes” (v. 16-18).

Que resposta magnífica! Aqueles rapazes não eram fiéis a Deus por estarem interessados em ganhar algo em troca. Diferentes de alguns cristãos, se Deus os abençoasse eles seriam fiéis, mas se, por acaso, Deus resolvesse não derramar nenhuma benção sobre eles, continuariam sendo fiéis ao Senhor. Isso é fé! Nossa fidelidade não deve estar condicionada a coisas que Deus fará por nós, mas àquilo que Deus já fez por nós na cruz do calvário. Para eles era mais importante o compromisso com Deus que a própria vida. Eles não negariam o nome de Deus ao se prostrarem diante da estátua.

Em nosso falho julgamento, diante de tanta fidelidade, o livramento da fornalha seria a melhor recompensa, não? Se nós fossemos os escritores dessa história talvez neste momento desceriam poderosos anjos do céu e livrariam aqueles jovens da fornalha, mas isso não aconteceu e os três foram jogados em uma fornalha sete vezes mais aquecida, tão mortal que os homens que os lançaram não suportaram a temperatura.

As “estátuas” mudam.

Ao longo da história da humanidade sempre existiram “estátuas” diante das quais o inimigo de Deus tentou os fiéis a se prostrarem, basta seguirmos um pouco na linha do tempo e as descobriremos.

Os apóstolos, por exemplo, foram tentados a renunciar a sua fé para pouparem suas vidas. Mas firmemente preferiram morrer das piores mortes a negar a Cristo. Dos apóstolos, apenas João morreu naturalmente, mesmo assim por ter escapado de um caldeirão de óleo fervente.

Se avançarmos um pouco mais na história encontraremos novas histórias de fiéis que não se prostraram às “estátuas” do mundo.

Sob o julgo do imperador Marco Aurélio (162 d.C) muitas pessoas foram martirizadas por sua fidelidade a Cristo. “As crueldades executadas nestas perseguições foram de tal calibre que muitos dos espectadores estremeciam de horror ao vê-las, e ficavam atônitos diante da coragem dos que a sofriam. Alguns dos mártires eram obrigados a passar, com os pés já feridos, sobre espinhos, cravos, conchas afiadas, etc. Outros eram açoitados até que seus tendões e veias ficassem expostos, e, depois de haverem sofrido os mais atrozes tormentos já inventados, eram mortos das maneiras mais terríveis” (John Fox. O Livro dos Mártires, 11).

Outro relato impressionante é o que encontramos na seguinte carta do ano 112 d.C.: “Nesse ínterim, segui os seguintes procedimentos com relação aos que se me apresentam como cristãos. Perguntei-lhes, pessoalmente se eram cristãos. Aos que confessavam, perguntei-lhes duas, três vezes. Os que não voltaram atrás foram executados. Qualquer que fosse o sentido da sua fé, sabia que sua pertinácia e obstinação tinham de ser punidos. Outros, possuidores da cidadania romana, mantiveram-se na loucura e foram enviados para julgamento em Roma. Os que negavam serem, ou terem sido cristãos, se evocassem os deuses, segundo a fórmula que lhes ditava, e se sacrificassem, com incenso e vinho, diante da sua imagem, que trazia comigo para tanto, juntamente com estátuas de outras divindades; se, além disso, blasfemassem Cristo – atitudes que, diz-se, não são possíveis de obter de verdadeiros cristãos –considerei apropriado liberar [...]A questão pareceu-me digna da sua atenção, em particular devido ao número de envolvidos. Há muita gente, de toda idade, condição social, de ambos os sexos, que estão ou estarão em perigo. Não apenas nas cidades, como nos vilarejos e no campo, expande-se o contágio dessa superstição. Parece-me, entretanto, que se possa delimitá-la e corrigi-la. (Carta de Plínio ao Imperador Trajano, 112 d.C.)

Um pouco mais a frente na linha do tempo encontraremos os mártires do período da reforma protestante, homens e mulheres que preferiram a morte a negar a Jesus. Uma dessas histórias é a de Jerônimo de Praga em 1415. Quando o seu carrasco fez menção de por fogo atrás dele, ouviu: “Venham aqui e ateiem o fogo diante do meu rosto; se houvesse temido as chamas, não teria vindo a este lugar”. Que coragem! Que fé! Mas a história continua.


Hoje: “Estátuas” diferentes, fidelidade igual.

Hoje as “estátuas” mudaram, mas a fidelidade dos servos de Deus deve continuar a mesma. No entanto quando comparamos as histórias das opressões sofridas pelos cristãos do passado e as nossas, percebemos o quão pequenas são as provas pelas quais passamos em nome da fidelidade a Deus.

Em um futuro bem próximo, novamente a vida dos cristãos será ameaçada por causa do evangelho. Mas hoje, no Brasil, dificilmente seremos ameaçados de morte por causa de nossa fé.

O que entristece é que mesmo assim muitas pessoas negam o nome de Cristo. Enquanto nossos irmãos do passado enfrentavam fogueiras para não negar o nome de Cristo, muitos hoje O negam por muito menos que uma fogueira.

Alguns se deparam com a “estátua” da pressão dos amigos e se curvam diante dela. Outros diante da “estátua” da pressão da família negam a fé em Cristo. Às vezes é diante da “estátua” da liberação sexual que muitos jovens e adultos cristãos tem se prostrado. Talvez a “estátua” da perda de um emprego por causa do sábado seja o motivo da prostração espiritual de alguns. Estes são apenas alguns exemplos de como nós hoje negamos a Cristo por muito menos que tortura física ou qualquer outro dano que possamos sofrer.

A esta altura devemos nos perguntar: o que dava tanta força para os mártires enfrentarem aquelas situações?

Para responder esta pergunta voltaremos ao episódio da campina de Dura. A história bíblica conta que os três foram jogados na fornalha e naquele momento algo extraordinário aconteceu. “Então o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa; falou, dizendo aos seus conselheiros: Não lançamos nós, dentro do fogo, três homens atados? Responderam e disseram ao rei: É verdade, ó rei. Respondeu, dizendo: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus. Então chegando-se Nabucodonosor à porta da fornalha de fogo ardente, falou, dizendo: Sadraque, Mesaque e Abednego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde! Então Sadraque, Mesaque e Abednego saíram do meio do fogo. E reuniram-se os príncipes, os capitães, os governadores e os conselheiros do rei e, contemplando estes homens, viram que o fogo não tinha tido poder algum sobre os seus corpos; nem um só cabelo da sua cabeça se tinha queimado, nem as suas capas se mudaram, nem cheiro de fogo tinha passado sobre eles”(Daniel 3:24-27).

Esse era o segredo da fidelidade de todos os cristãos ao longo da história. Quando vamos para o fogo por causa da fidelidade a Deus, Jesus estará no fogo conosco e apenas o que nos prende será queimado. Não precisamos temer, com a força que Cristo nos dá, devemos ser fiéis e das consequências Ele cuida. Mesmo que tenhamos que enfrentar o fogo, Jesus estará conosco lá e se, por acaso, a morte for o preço, a ressurreição está garantida e a vida eterna será o nosso presente.

“Aquele que andou com os hebreus valorosos na fornalha ardente, estará com os Seus seguidores em qualquer lugar. Sua constante presença confortará e sustentará. Em meio do tempo de angústia - angústia como nunca houve desde que houve nação - Seus escolhidos ficarão firmes. Satanás com todas as forças do mal não pode destruir o mais fraco dos santos de Deus. Anjos magníficos em poder os protegerão, e em favor deles Jeová Se revelará como "Deus dos deuses" (Dan. 2:47), capaz de salvar perfeitamente os que nEle puseram a sua confiança”(Profetas e Reis, 513).

Jesus está olhando para sua igreja hoje e procurando os seus fiéis do século XXI. Será você um dos que Ele encontrará? Se entregue a Jesus e você receberá a força que não tem para ser um fiel cristão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Linda mensagem, me fez chorar... E ao mesmo tempo me deu força e esperança. Saudações.