quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Vinícius Mendes de Oliveira

Pastor em Vila Velha - ES


“SÊ PROPÍCIO A MIM, PECADOR”

Deus espera dos que se aproximam dEle humildade e desejo sincero por salvação.

                

INTRODUÇÃO

 A parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18:9-14) apresenta um emblemático quadro de um homem que se perde e de outro que se salva. Os dois destinos opostos são determinados pelo senso de pecaminosidade que os personagens demonstram. O fariseu era presunçoso e arrogante enquanto que o publicano era dependente e humilde. Jesus contou essa parábola porque nela encontram-se prefigurados perdidos e salvos. O Senhor queria ensinar que a salvação é gratuita e não pode ser adquirida por obras humanas. Assim, de forma muito simples e direta, a parábola do fariseu e do publicano ensina como o ser humano pode ser salvo e adverte a todos do perigo de procurar a salvação fora dos méritos de Cristo.

Portanto, é necessário que façamos uma análise com atenção dessa bela parábola de Jesus a fim de extrairmos dela lições espirituais que nos ajudem a não cometer os erros do orgulhoso fariseu e aprendermos com o humilde publicano o jeito certo de nos aproximarmos de Deus.

A ATITUDE DO FARISEU

Há alguns detalhes na oração do fariseu que evidenciam sua confiança e justiça próprias como também desprezo aos outros. Em primeiro lugar é importante lembrar que tanto a oração do fariseu como a do publicano são ambientadas no pátio do Templo, onde, pela manhã e pela tarde, por conta dos sacrifícios que se ofereciam nesses horários, o povo se reunia para adoração pública. O verso onze revela o fato de que, embora houvesse ali muitas pessoas, o fariseu se destaca do grupo, se posta sozinho, em pé, e faz uma oração, provavelmente audível. Essa atitude de separação do fariseu motiva-se pelo fato de que ele cria que a presença de pecadores ali poderia contaminá-lo. É provável que o ícone da impureza “dos outros homens” seja o publicano que também está por ali.

Dessa forma, com sua oração, o fariseu orgulha-se de sua condição deixando patente a contaminadora presença daquele miserável publicano. O fariseu, em sua oração, usa o nome de Deus como vocativo, mas o foco de sua oração não está em Deus, mas em si mesmo. Ele dá graças não por aquilo que Deus é ou faz, mas pelo que ele, o fariseu, não é e pelas boas obras que pratica. Ele dá graças a Deus pela justiça própria que ostenta, fazendo uma contundente comparação de si mesmo e suas virtudes com os outros, especialmente o miserável publicano cheio de pecados.

O Senhor disse que essa parábola foi contada porque “alguns confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (Lucas 18:9). Nesse resumo, vemos o problema central que determinou a perdição do fariseu: justiça própria e consequente desprezo aos outros. Essa é a fórmula da perdição. A verdade é que confiança e justiça próprias mascaram a realidade de que a pessoa está perdida, desviando seus olhos do Salvador, focando nas imperfeições de quem está à volta. “Nossa única segurança está na constante desconfiança de nós mesmos e na confiança em Cristo” (Parábolas de Jesus, p. 155).

Justiça própria é resultado de uma errônea compreensão a respeito de como somos salvos. A salvação é um presente de Deus. Não é adquirida ou mesmo mantida pelas obras humanas, sobretudo porque estas, muitas vezes representam o que se passa no exterior do homem e são incoerentes com o coração. Significa dizer que através da disciplina humana alguém pode deixar de fazer coisas ruins e praticar boas coisas, mas não ter o problema do egoísmo interno resolvido. Na verdade, o senso de justiça própria leva as pessoas a fazerem as coisas certas pelos motivos errados. Esse desvio leva à desobediência a Deus, já que, quem passa determinar o que é certo ou errado não é mais o Senhor, mas o próprio coração humano.

É possível nesse momento propor uma relação entre a desastrosa oração do arrogante fariseu e a oferta de Caim, que levou vegetais para a adoração, porque era agricultor. Deus não havia pedido isso, mas era isso que seu coração pedia para entregar. É importante lembrar que o sistema levítico previa ofertas de alimentos vegetais, mas estas não eram para expiação, pois “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). As ofertas de vegetais, ou primícias, eram prescritas para que o ofertante pudesse expressar gratidão a Deus (Deuteronômio 26:10), mas não serviam para expiação. É interessante notar que o fariseu inicia sua oração se referindo a uma suposta gratidão: “Ó Deus, graças te dou...” da mesma forma que Caim, que apresentou uma oferta dos frutos da terra usada para demonstrar gratidão. Isso indica que Caim se aproximou de Deus não sentindo sua necessidade de salvação, mas “apresentou sua oferta como um favor feito a Deus, pelo qual esperava obter a aprovação divina”( PP. 72). Foi exatamente isso que o fariseu fez. Ele “agradeceu” pelo privilégio de não ser pecador – logo, não carecido da graça de Deus, segundo seu pensamento – e listou suas obras a fim de que elas fossem aplaudidas por Deus e pelos homens, colocando-o num patamar superior aos outros.

A oferta de Caim e a suposta gratidão do fariseu desviaram o foco de ambos do propósito de Deus para o ser humano. Os dois acharam que poderiam fazer alguma coisa para agradar a Deus. Estavam exercendo uma religião pagã, tentando comprar o favor do Senhor. O que eles não sabiam é que Deus fez o homem propício a Si por Seu próprio ato de amor ao entregar Seu filho para morrer, substituindo a morte dos pecadores. Era isso que Deus queria ensinar a Caim e Abel; era isso que estava sendo ensinado no pátio do Templo quando o fariseu e o publicano foram até lá com o propósito de orar (Lucas 18:10)

ATITUDE DO PUBLICANO

De repente a cena muda de foco na parábola. Jesus concentra-se no outro personagem: o publicano. A postura desse homem como também sua oração resumem a atitude de uma pessoa que vence na vida espiritual. O verso treze revela que ele também ficou afastado das outras pessoas, mas seu motivo era totalmente contrário ao do fariseu. Enquanto este se orgulhava de sua condição, o coletor de impostos não se considerava sequer apto para estar próximo às demais pessoas. Seu pecado está patente. Ele era exatamente aquilo de que havia sido acusado. Não havia como esconder. Ele estava ali em busca de misericórdia.

O mais importante, na verdade, era o que estava acontecendo no Templo naquele momento; o que motivava aquela reunião de oração. Aquela era a hora do sacrifício. Quem se dirigia ao pátio do Templo naquele momento visualizaria uma cena estranha e profundamente simbólica. No centro do pátio, havia o altar de sacrifícios, os adoradores então se aglomeravam em torno desse móvel e podiam ver um cordeiro despedaçado sobre o altar e o sangue escorrendo do corpo inerte do animal. Logo o animal seria queimado e uma fumaça densa tomaria conta do ambiente. O cordeiro esquartejado no altar representava a morte substitutiva de Cristo por conta de nossos pecados. Essa cena era a evidência de que o pecado é real na vida de todo ser humano e de que todos precisam dessa morte substitutiva.

O que determinou a vitória do publicano foi contemplar essa cena, reconhecendo seu pecado. O texto diz que ele não levantou os olhos aos céus. O fariseu absorto em si mesmo não pode contemplar o sacrifício, tampouco entender seu significado. Na verdade não se sentia necessitado daquele sacrifício. Estava trazendo sua própria oferta, como fez Caim.

O texto diz que o publicano, por outro lado, clamava pela propiciação divina. Reconhecia que a Lei de Deus exigia sua morte e que seu pecado causava ira em Deus. Contudo, clamou para que aquele sacrifício oferecido fosse também por ele. A sua oração é uma síntese do Salmo 51, no qual Davi reconhece seu terrível pecado, clama por misericórdia e por transformação.

O publicano orava batendo no peito. Esse gesto só era usado em ocasiões de extremo desespero como o luto, por exemplo. Os judeus piedosos costumavam cruzar as mãos sobre o peito, mas bater no peito não era corriqueiro na oração. Dificilmente esse ato era praticado por homens. Era mais comum em mulheres em situação de total desespero. Um antigo comentário judaico sobre Eclesiates 7:2 lança luz sobre esse inusitado gesto do publicano:

“R. Mana disse: E os vivos colocarão isto no seu coração; estes são os justos que colocam a sua morte contra o seu coração; e por que eles batem sobre o coração? Como a dizer: ‘Tudo está aí,” (nota:... os justos batem sobre o coração como fonte de anseio pelo mal.) (Midrash Rabbah, Ecl. VII. 2,5, Sonc., 177). (Apud, Kenneth Bailey, As Parábolas de Lucas, p. 337)

Ao bater no peito, portanto, ele dizia “eu não quero esse coração.” Ele reconhecia que “do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15:19). Dessa maneira, manifestou o desejo de que Deus lhe fizesse um transplante de coração para que ele deixasse de ser aquilo que tinha sido (Jeremias 31:33).

Ao fazer sua oração, o publicano pede que Deus o cubra, que a justiça de Cristo esteja entre ele e a ira divina e que ao mesmo tempo essa justiça seja impregnada em si e que ele seja confundido com Jesus, recebendo o tratamento que o Senhor merece. Ele usa a palavra “propício”, que é uma direta referência ao propiciatório – móvel do Templo que cobria arca da aliança, simbolizando a interposição que Cristo faz entre o pecador arrependido e a santidade de Deus. Assim, o propiciatório simbolizava a imputação dos méritos de Cristo sobre o pecador, fazendo com que o pecador não fosse visto como tal por Deus, mas que o Pai visse Jesus, porque este se coloca entre a santidade de Deus e o pecador. O propiciatório também simbolizava a comunicação das virtudes de Cristo para o pecador arrependido, uma vez que todos aqueles que recebem a graça da propiciação manifestarão na vida o caráter de Jesus.

Portanto, quando o publicano clama por propiciação está pedindo a justiça de Cristo em sua vida. Essa justiça que substitui a morte do pecador e o habilita a ser como Cristo. Ou seja, a propiciação, transforma completamente o caráter. Assim, o publicano não está contentado com uma religião externa, aparente. Ele deseja uma religião profunda, proveniente do coração. Ele evoca as graças da nova aliança, que segundo Jeremias 31:33, configura-se da seguinte forma: “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel depois daqueles dias diz o Senhor: Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei, eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.”

Na oração de Davi no Salmo 51, a qual o publicano está se referindo, no verso 10, lemos: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.” O clamor de alguém realmente arrependido não é apenas por perdão, mas também por santificação, por uma fé inabalável. Da mesma forma que o perdão é divino, o poder para ter uma vida santa também o é. O verbo que aparece na oração de Davi é criar (bara), o qual tem apenas Deus como sujeito. É o mesmo verbo usado para se referir a Deus como criador do mundo físico. Deus criou todas as coisas através do intercurso de Sua Palavra. Para criar, Deus apenas precisa falar. Na criação de um novo coração no ser humano, não é diferente. Deus fala e o que não existe passa a existir. Não importa quão pecador alguém seja, quão distante tenha ido e tenha se afastado de Deus, a Palavra de Deus é capaz de fazer qualquer pessoa se tornar semelhante a Jesus, de forma milagrosa.

CONCLUSÃO

Deus deseja ardentemente, portanto, efetuar essa obra em cada um de nós. No entanto, isso só será possível se o pecador se aproximar do Senhor com humildade, reconhecendo sua terrível condição e focando-se apenas nos méritos do sacrifício expiatório de Cristo. O fariseu não foi justificado porque, ao contrário disso, seus olhos estavam voltados para suas “boas obras” em comparação com os pecados dos outros. O publicano, por outro lado, reconheceu sua indignidade e só teve voz para clamar por propiciação uma vez que entendeu que a única esperança que tinha estava na morte substitutiva do cordeiro.

Foi por isso ele desceu justificado. No verso 14, não se usa mais a palavra publicano. Quando aquele homem desceu do Templo, ele não era mais um publicano. Ele subiu para o templo humilhado e desceu justificado. O fariseu subiu exaltado e desceu condenado.

Isso ensina para todos nós a receita da salvação, que consiste em reconhecer a nossa condição de pecadores, clamar pela infinita misericórdia de Deus, receber Seu perdão e permitir que Ele santifique completamente nossa vida como produto inevitável do perdão que Ele nos deu.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A escolha certa
Felippe Amorim



Algumas coisas são comuns a todos os seres humanos. Uma delas é a capacidade de escolher. Esta é uma das características que nos diferenciam do restante da criação. Todos os dias fazemos diversas escolhas. Escolhemos a roupa que usamos, o caminho que trilhamos para o trabalho, o canal de televisão que assistimos, o que comemos e etc. Todas as escolhas que fazemos sempre serão acompanhadas de consequências. Boas escolhas resultarão em boas consequências e vice-versa.

Na Bíblia encontramos muitos exemplos de boas escolhas e também de más escolhas. Quero focar um bom exemplo neste texto. O profeta Daniel foi um homem que fez muitas escolhas. Aqui colocaremos nosso foco sobre uma delas.


Momento de escolher


Daniel e seus três amigos haviam acabado de chegar a Babilônia como cativos de Nabucodonosor e por suas excelentes qualidades foram escolhidos como integrantes do grupo que estudaria para servir o rei no palácio.

Naquela situação eles foram colocados diante de diversas escolhas: Adorar a Deus ou aos deuses babilônicos, manterem-se firmes nos princípios ou relativizá-los, serem diferentes ou assemelharem-se aos outros jovens, enfim, foram muitas questões. Gostaria de focalizar uma das muitas decisões que eles tomaram: a escolha da alimentação que eles ingeririam.

Em Daniel 1:5 lemos: “Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas iguarias da mesa real e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, ao cabo dos quais assistiriam diante do rei”.

            Em contraste com este texto lemos em Daniel 1:8: “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se”. Daniel já havia colocado previamente em seu coração a decisão de manter-se fiel a Deus. Não foi uma decisão de última hora.

            O texto é bem claro quando diz que ele foi “pedir” ao chefe dos eunucos permissão para não comer. Foi um pedido com humildade, o que certamente ajudou na decisão positiva a seu respeito. No entanto, a proposta de substituição da alimentação foi acompanhada de firmeza e confiança em Deus e em suas promessas. Daniel cria piamente nos bons resultados daquela dieta especial.

            Há uma pergunta importante para fazermos a esta altura do texto: Por que Daniel se recusou a comer naquele banquete?


Questões envolvidas.  


            Encontramos o primeiro motivo para a recusa de comer aquela comida na expressão: “não contaminar-se”. Primariamente a questão tinha relação com questões religiosas. A comida sobre a mesa havia sido oferecida aos deuses babilônicos e comê-la significaria participar da adoração pagã. Esse foi um forte motivo para sua recusa. Porém, este não foi o único motivo.

Daniel sabia que tipo de alimento era melhor para ele. Alguns pensam que Daniel estava recusando a comida apenas por aspectos religiosos. Como dissemos, primariamente ele estava preocupado com estas questões cultuais. Mas não era somente isso.

Outros pensam que Daniel recusou comer porque sobre a mesa existiam apenas carnes imundas. Se esta fosse a preocupação de Daniel, ele teria sugerido que servissem para eles alguns dos animais limpos relacionados em Levíticos 11. Mas não foi isso que aconteceu.

O pedido de Daniel foi específico. Ele queria Legumes e água, ou seja, queria comer o que originalmente Deus havia escolhido para os seres humanos. Encontramos a dieta original de Deus em Gênesis 1:29: “E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento”. A palavra original utilizada para “legumes” em Daniel capítulo 1 é “Zeroim”. Esta é a palavra hebraica utilizada para se referir aos alimentos de Gênesis 1:29.

Daniel, iluminado por Deus, sabia que precisava ter uma mente mais clara e um corpo mais saudável para vencer as batalhas que viriam. Ellen White afirma que a temperança na alimentação era um hábito do profeta: “Daniel poderia haver encontrado uma desculpa plausível para desviar-se de seus estritos hábitos de temperança; mas a aprovação de Deus era para ele mais cara do que o favor do mais poderoso potentado terreno - mais cara mesmo do que a própria vida” (Conselho Sobre Saúde, 64).

Inspirada por Deus, Ellen White resume o que aconteceu naquela sala de banquete: “A Daniel e seus companheiros, logo ao princípio de sua carreira, sobreveio uma prova decisiva. A ordem de que seu alimento deveria ser suprido da mesa do rei foi uma expressão do favor real, bem como de sua solicitude pelo bem-estar deles. Mas, sendo uma parte oferecida aos ídolos, o alimento da mesa real era consagrado à idolatria; e, participando da generosidade do rei, estes jovens seriam considerados como se estivessem unindo sua homenagem aos falsos deuses. Sua fidelidade para com Jeová proibia-lhes participar de tal homenagem. Tampouco ousavam eles arriscar-se aos efeitos enervantes do luxo e dissipação sobre o desenvolvimento físico, intelectual e espiritual” (Educação, 55).


A vontade de Deus para seus filhos


            Deus tem planos para todos os aspectos da vida de seus filhos, inclusive para a alimentação. Como filhos, temos o dever de nos submetermos à vontade do Pai celestial. A história de Daniel nos dá uma importante evidência de qual é a vontade de Deus para seus filhos em relação ao que devem comer.

            Mas Deus, em sua misericórdia, conhecendo o coração humano, resolveu ser mais específico e em 1963 deu uma série de visões à sua mensageira através das quais poderemos retirar todas as nossas dúvidas.

            Comentando a respeito do que alguns cristãos pensam em relação à decisão de Daniel, Ellen White escreveu: “Há muitos entre os professos cristãos hoje que denunciariam Daniel como tendo sido demasiado minucioso, julgando-o estreito e fanático. Consideram de mínima consequência a questão de comer ou beber, para que se reclame uma posição assim decidida - posição que envolve o provável sacrifício de toda vantagem terrena. Mas os que assim arrazoam verificarão no dia do juízo que viraram as costas a expressas exigências de Deus, tendo colocado sua opinião como norma do que é direito ou errado. Descobrirão que o que lhes parecia sem importância não era assim considerado por Deus. Suas exigências devem ser obedecidas religiosamente. Os que aceitam qualquer dos Seus preceitos e a eles obedecem por ser-lhes assim conveniente, ao passo que rejeitam outros porque sua observância demandaria sacrifício, rebaixam a norma do direito, e por seu exemplo levam outros a levianamente considerar a santa lei de Deus. "Assim diz o Senhor" (Zac. 8:3) deve ser nossa regra em todas as coisas” (Conselhos Sobre Regime Alimentar, 30).

Alguns costumam argumentar que foi Deus quem permitiu comer carne, portanto, isso não seria algo negativo. A Inspiração responde: “Depois do dilúvio o povo comeu à vontade do alimento animal. Deus viu que os caminhos do homem eram corruptos, e que o mesmo estava disposto a exaltar-se orgulhosamente contra seu Criador, seguindo as inclinações de seu coração. E permitiu Ele que aquela raça de gente longeva comesse alimento animal, a fim de abreviar sua vida pecaminosa. Logo após o dilúvio o gênero humano começou a decrescer rapidamente em tamanho, e na extensão dos anos” (Spiritual Gifts, vol. 4, págs. 121 e 122).

Deus não deixou margem para dúvidas. A vontade dele é que, de forma equilibrada e fazendo as devidas substituições, nos abstenhamos do alimento cárneo. Ellen White reforça: “Aqueles que professam crer na verdade devem guardar cuidadosamente as faculdades do corpo e da mente, de maneira que Deus e Sua causa não sejam de maneira alguma desonrados por suas palavras ou ações. Os hábitos e costumes devem ser postos sob sujeição à vontade de Deus. Cumpre-nos dispensar atenta consideração a nosso regime alimentar. Foi-me mostrado claramente que o povo de Deus deve assumir atitude firme contra o comer carne. Daria Deus por trinta anos a Seu povo a mensagem de que, se quiser ter sangue puro e mente clara precisa abandonar o uso da carne, se Ele não quisesse que eles dessem ouvidos a essa mensagem? Pelo uso de alimentos cárneos a natureza animal é fortalecida e enfraquecida a espiritual” (Carta 48, 1902 em Conselho Sobre Regime Alimentar, 383).


 Resultados da escolha certa.



Daniel e seus três amigos escolheram as coisas certas. O alimento que eles comeram contribuiu para o seu destaque físico e intelectual frente aos outros estudantes. “No fim dos dez dias, a sua aparência era melhor; estavam eles mais robustos do que todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei” (Dn 1:15) e “em toda matéria de sabedoria e de inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino” (Dn 1:20). Ao escolherem a dieta original de Deus, eles receberam os benefícios físicos, intelectuais e espirituais.

            O contrário também é verdade. Quando escolhemos nos alimentar mal, as consequências nos alcançarão. Sofreremos efeitos tanto espirituais quanto físicos. “Quando nossa mente está embotada e parcialmente paralisada pela doença, facilmente somos vencidos pelas tentações de Satanás. Comer alimento insalubre para satisfazer ao apetite tem a positiva tendência de pôr em desequilíbrio a circulação do sangue, acarreta a debilidade nervosa, e em resultado há grande falta de paciência e de verdadeira, nobre afeição. A força constitucional, assim como o tono da moral e das faculdades mentais, são debilitados pela condescendência com o apetite pervertido”  (Nos Lugares celestiais, M.M. 1968, 193).

Cabe agora a cada um de nós decidirmos que tipo de alimentos iremos ingerir. A questão principal é: Escolheremos aqueles que mais nos agradam ou aqueles que mais agradam a Deus? Que Jesus Cristo nos ajude a escolher a opção certa.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


Alívio na angústia

Felippe Amorim



A Bíblia é um livro espetacular. Nela encontramos mensagens para a maioria das ocasiões pelas quais passamos. Há mensagens para quem está alegre, para quem sente dor física ou emocional, para quem está em pecado ou em desespero.

Também encontramos mensagens para quem está aflito por causa de problemas. Uma das mais maravilhosas é esta: “Entregue os seus problemas ao Senhor, e ele o ajudará; ele nunca deixa que fracasse a pessoa que lhe obedece” (Sal 55:22)[1].



Os problemas recaem sobre todos


            Há uma riqueza de mensagens neste pequeno verso bíblico. A primeira que encontramos é que neste mundo sempre enfrentaremos problemas. Mesmo estando ligados a Cristo não nos imunizaremos contra as dificuldades. Justos e injustos sofrem neste planeta como consequência do pecado que habita aqui.

      O próprio Cristo nos advertiu: “No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo” [2]. Por isso, não devemos nos revoltar contra Deus por passarmos por problemas, eles não são enviados por Ele, são resultado do pecado que nossos primeiros pais escolheram e, algumas vezes, de nossas próprias escolhas. A consciência de que os problemas virão nos ajudará a enfrentá-los. Portanto, quando as dificuldades chegarem devemos correr para Deus e não para longe dEle.

Na Bíblia temos um exemplo claro de como as situações difíceis atingem até os mais fiéis seguidores de Cristo.  A descrição que a Bíblia faz de Jó é impressionante. Ele era “integro e reto, temente a Deus e se desviava do mal” (Jó 1:1) [3]. Mesmo diante de tal conduta e comunhão ele é o exemplo de um justo que passou por muitas aflições, porém sem abandonar sua fé em Deus.

Se traduzíssemos literalmente a expressão do Salmo 55:22 “entrega os seus problemas”, teríamos a seguinte frase: “joga as tuas cargas”. Talvez esta seja a melhor expressão para a vida de muitos cristãos hoje. Vivem curvados sob cargas pesadas demais que os impedem de prosseguir. O convite de Deus é: Jogue sobre mim, meu filho, suas cargas!


Entregar a quem pode suportar


            A psicologia moderna e os livros de autoajuda dão muitas sugestões de como uma pessoa pode se livrar dos seus problemas, mas nenhuma delas é realmente eficaz. Podemos contar nossas dificuldades para nossos irmãos ou mesmo em um consultório, mas somente Deus pode receber nossos problemas de uma forma que alivie o peso em nós.

Nunca deveríamos esquecer-nos do convite divino: “Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso.[4]” (Mt. 11:28)

            O convite inspirado é para que entreguemos nossas cargas ao Senhor. A palavra “SENHOR” usada na passagem originadora deste texto é a tradução da palavra hebraica Adon que tem como correspondente grega a palavra Kyrios. Elas são o “título de Deus como dono de tudo o que existe, especialmente daqueles que são seus servos ou escravos” [5].

            Analisando por este ângulo conseguimos ver Deus como soberano e cuidador dos seus servos. Ele nos conhece, vê nosso sofrimento e angústia e como dono de tudo tem autoridade e poder para intervir. Por isso que o salmista nos convida à entrega total, porque vamos nos entregar àquele que nos criou e por isso nos conhece profundamente e está muito interessado em nos ajudar.



 Promessas aos que se entregam


            A primeira promessa do salmo 55:22 para quem entregar os problemas nas mãos de Deus é: “Ele o ajudará”. Está difícil levar os fardos? Estão pesando sobre seus ombros? A promessa divina é: O Deus onipotente ajudará. Que promessa maravilhosa!

                 Além disso, o salmista completa: “Ele nunca deixará que fracasse”. Esta é uma afirmação que não deixa margem para dúvida. O mesmo Davi afirmou algo parecido em outro salmo: “Fui moço e agora sou velho, mas nunca vi um homem bom abandonado por Deus e nunca vi os seus filhos mendigando comida” [6] (Sal. 37:25). Há vitória garantida para os que se entregam sem reservas nas mãos de Deus.

                 Com estas promessas cumpridas em nossa vida conseguiremos falar como Ellen White: “Sinto-me tão alegre de que podemos ir a Deus em fé e humildade, e fazer-Lhe súplicas até que nossa alma seja posta em tão íntima relação com Jesus, que podemos depositar nossos fardos a Seus pés, dizendo: "Eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia." II Tim. 1:12” (Medical Ministry, pág. 203).


A condição

            Essas promessas foram feitas para um grupo específico de pessoas. O salmista diz que receberá a ajuda de Deus “a pessoa que lhe obedece”. Obediência aqui tem o sentido de acatar ordem ou orientação. O profeta Jeremias nos ajuda a compreender o que isso significa: “Gostemos ou não dessas ordens, nós obedeceremos ao Senhor, nosso Deus, com quem você vai falar em nosso favor. Se obedecermos ao Senhor, tudo correrá bem para nós” [7] (Jr 42.6). É este tipo de cristão que pode reclamar a ajuda de Deus. Alguém que mesmo contra os seus gostos pessoais está disposto a obedecer às ordens dEle.

            No início mencionei a história de Jó e gostaria de retornar a ela agora. Por que ele é um bom exemplo de como o Salmo 55:22 pode se aplicar à vida de um fiel. Ele não desistiu da carreira cristã por causa dos problemas. Não blasfemou contra Deus, pelo contrário, cada vez mais estreitou os seus laços de comunhão com o Pai. O resultado foi que ele recebeu tudo o que havia perdido em dobro e um dia até os filhos terá em dobro, pois certamente os receberá de volta na ressureição dos justos.

                 Porém a maior vitória de Jó não foram os bens que ele recebeu de volta em dobro. A maior vitória de Jó ele descreveu assim: “antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos” [8] (Jó 42:5). Enquanto passava pela aflição, Jó se aproximou de Deus como nunca antes em sua vida. Este será o grande resultado na vida de quem resolver se entregar a Deus completamente, para que Ele carregue os seus fardos: conhecerá a Deus face a face.

                 Mesmo enquanto estiver passando pelo problema, aquele que decide se entregar em obediência a Jesus pode desfrutar de paz em meio a tempestade. Ellen White expressou muito bem o que isso significa: “Eu não olho para o fim, quanto a toda a felicidade; eu desfruto felicidade enquanto vou caminhando. Não obstante ter provas e aflições, olho fora delas, para Jesus. É nas passagens estreitas, árduas, que Ele está bem ao nosso lado, e podemos comungar com Ele, depor todos os nossos fardos sobre o Carregador de fardos, e dizer: "Eis, Senhor, não posso por mais tempo levar essa carga." Então Ele nos diz: "O Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mat. 11:30. Vós o acreditais? Eu o provei. Eu O amo; eu O amo. Vejo nEle encantos incomparáveis. E eu quero louvá-Lo no reino de Deus” (Life Sketches, pág. 292).
                        Estás vivendo um momento de aflição? O peso sobre os ombros está impedindo que você prossiga? Você está sem forças? Pois é assim que Deus quer receber você: “Nossa força consiste em levar nossos fardos ao Grande Portador de fardos. Deus confere honras àqueles que a Ele se dirigem dEle pedindo auxílio, crendo com fé que o receberão” (Testemunhos para Ministros, 485). O convite de Deus para você é: “Entregue os seus problemas ao Senhor, e ele o ajudará; ele nunca deixa que fracasse a pessoa que lhe obedece” (Sal 55:22). Faça isso agora


[1]Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Sl 55:22
[2]Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Jo 16:33
[3] Sociedade Bíblica do Brasil: Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.
[4]Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Mt 11:28
[5]Kaschel, Werner ; Zimmer, Rudi: Dicionário Da Bíblia De Almeida 2ª Ed. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999; 2005
[6]Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Sl 37:25
[7]Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Jr 42:6
[8]Sociedade Bíblica do Brasil: Nova Tradução Na Linguagem De Hoje. Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; 2005, S. Jó 42:5