quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A escolha certa
Felippe Amorim



Algumas coisas são comuns a todos os seres humanos. Uma delas é a capacidade de escolher. Esta é uma das características que nos diferenciam do restante da criação. Todos os dias fazemos diversas escolhas. Escolhemos a roupa que usamos, o caminho que trilhamos para o trabalho, o canal de televisão que assistimos, o que comemos e etc. Todas as escolhas que fazemos sempre serão acompanhadas de consequências. Boas escolhas resultarão em boas consequências e vice-versa.

Na Bíblia encontramos muitos exemplos de boas escolhas e também de más escolhas. Quero focar um bom exemplo neste texto. O profeta Daniel foi um homem que fez muitas escolhas. Aqui colocaremos nosso foco sobre uma delas.


Momento de escolher


Daniel e seus três amigos haviam acabado de chegar a Babilônia como cativos de Nabucodonosor e por suas excelentes qualidades foram escolhidos como integrantes do grupo que estudaria para servir o rei no palácio.

Naquela situação eles foram colocados diante de diversas escolhas: Adorar a Deus ou aos deuses babilônicos, manterem-se firmes nos princípios ou relativizá-los, serem diferentes ou assemelharem-se aos outros jovens, enfim, foram muitas questões. Gostaria de focalizar uma das muitas decisões que eles tomaram: a escolha da alimentação que eles ingeririam.

Em Daniel 1:5 lemos: “Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas iguarias da mesa real e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, ao cabo dos quais assistiriam diante do rei”.

            Em contraste com este texto lemos em Daniel 1:8: “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se”. Daniel já havia colocado previamente em seu coração a decisão de manter-se fiel a Deus. Não foi uma decisão de última hora.

            O texto é bem claro quando diz que ele foi “pedir” ao chefe dos eunucos permissão para não comer. Foi um pedido com humildade, o que certamente ajudou na decisão positiva a seu respeito. No entanto, a proposta de substituição da alimentação foi acompanhada de firmeza e confiança em Deus e em suas promessas. Daniel cria piamente nos bons resultados daquela dieta especial.

            Há uma pergunta importante para fazermos a esta altura do texto: Por que Daniel se recusou a comer naquele banquete?


Questões envolvidas.  


            Encontramos o primeiro motivo para a recusa de comer aquela comida na expressão: “não contaminar-se”. Primariamente a questão tinha relação com questões religiosas. A comida sobre a mesa havia sido oferecida aos deuses babilônicos e comê-la significaria participar da adoração pagã. Esse foi um forte motivo para sua recusa. Porém, este não foi o único motivo.

Daniel sabia que tipo de alimento era melhor para ele. Alguns pensam que Daniel estava recusando a comida apenas por aspectos religiosos. Como dissemos, primariamente ele estava preocupado com estas questões cultuais. Mas não era somente isso.

Outros pensam que Daniel recusou comer porque sobre a mesa existiam apenas carnes imundas. Se esta fosse a preocupação de Daniel, ele teria sugerido que servissem para eles alguns dos animais limpos relacionados em Levíticos 11. Mas não foi isso que aconteceu.

O pedido de Daniel foi específico. Ele queria Legumes e água, ou seja, queria comer o que originalmente Deus havia escolhido para os seres humanos. Encontramos a dieta original de Deus em Gênesis 1:29: “E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento”. A palavra original utilizada para “legumes” em Daniel capítulo 1 é “Zeroim”. Esta é a palavra hebraica utilizada para se referir aos alimentos de Gênesis 1:29.

Daniel, iluminado por Deus, sabia que precisava ter uma mente mais clara e um corpo mais saudável para vencer as batalhas que viriam. Ellen White afirma que a temperança na alimentação era um hábito do profeta: “Daniel poderia haver encontrado uma desculpa plausível para desviar-se de seus estritos hábitos de temperança; mas a aprovação de Deus era para ele mais cara do que o favor do mais poderoso potentado terreno - mais cara mesmo do que a própria vida” (Conselho Sobre Saúde, 64).

Inspirada por Deus, Ellen White resume o que aconteceu naquela sala de banquete: “A Daniel e seus companheiros, logo ao princípio de sua carreira, sobreveio uma prova decisiva. A ordem de que seu alimento deveria ser suprido da mesa do rei foi uma expressão do favor real, bem como de sua solicitude pelo bem-estar deles. Mas, sendo uma parte oferecida aos ídolos, o alimento da mesa real era consagrado à idolatria; e, participando da generosidade do rei, estes jovens seriam considerados como se estivessem unindo sua homenagem aos falsos deuses. Sua fidelidade para com Jeová proibia-lhes participar de tal homenagem. Tampouco ousavam eles arriscar-se aos efeitos enervantes do luxo e dissipação sobre o desenvolvimento físico, intelectual e espiritual” (Educação, 55).


A vontade de Deus para seus filhos


            Deus tem planos para todos os aspectos da vida de seus filhos, inclusive para a alimentação. Como filhos, temos o dever de nos submetermos à vontade do Pai celestial. A história de Daniel nos dá uma importante evidência de qual é a vontade de Deus para seus filhos em relação ao que devem comer.

            Mas Deus, em sua misericórdia, conhecendo o coração humano, resolveu ser mais específico e em 1963 deu uma série de visões à sua mensageira através das quais poderemos retirar todas as nossas dúvidas.

            Comentando a respeito do que alguns cristãos pensam em relação à decisão de Daniel, Ellen White escreveu: “Há muitos entre os professos cristãos hoje que denunciariam Daniel como tendo sido demasiado minucioso, julgando-o estreito e fanático. Consideram de mínima consequência a questão de comer ou beber, para que se reclame uma posição assim decidida - posição que envolve o provável sacrifício de toda vantagem terrena. Mas os que assim arrazoam verificarão no dia do juízo que viraram as costas a expressas exigências de Deus, tendo colocado sua opinião como norma do que é direito ou errado. Descobrirão que o que lhes parecia sem importância não era assim considerado por Deus. Suas exigências devem ser obedecidas religiosamente. Os que aceitam qualquer dos Seus preceitos e a eles obedecem por ser-lhes assim conveniente, ao passo que rejeitam outros porque sua observância demandaria sacrifício, rebaixam a norma do direito, e por seu exemplo levam outros a levianamente considerar a santa lei de Deus. "Assim diz o Senhor" (Zac. 8:3) deve ser nossa regra em todas as coisas” (Conselhos Sobre Regime Alimentar, 30).

Alguns costumam argumentar que foi Deus quem permitiu comer carne, portanto, isso não seria algo negativo. A Inspiração responde: “Depois do dilúvio o povo comeu à vontade do alimento animal. Deus viu que os caminhos do homem eram corruptos, e que o mesmo estava disposto a exaltar-se orgulhosamente contra seu Criador, seguindo as inclinações de seu coração. E permitiu Ele que aquela raça de gente longeva comesse alimento animal, a fim de abreviar sua vida pecaminosa. Logo após o dilúvio o gênero humano começou a decrescer rapidamente em tamanho, e na extensão dos anos” (Spiritual Gifts, vol. 4, págs. 121 e 122).

Deus não deixou margem para dúvidas. A vontade dele é que, de forma equilibrada e fazendo as devidas substituições, nos abstenhamos do alimento cárneo. Ellen White reforça: “Aqueles que professam crer na verdade devem guardar cuidadosamente as faculdades do corpo e da mente, de maneira que Deus e Sua causa não sejam de maneira alguma desonrados por suas palavras ou ações. Os hábitos e costumes devem ser postos sob sujeição à vontade de Deus. Cumpre-nos dispensar atenta consideração a nosso regime alimentar. Foi-me mostrado claramente que o povo de Deus deve assumir atitude firme contra o comer carne. Daria Deus por trinta anos a Seu povo a mensagem de que, se quiser ter sangue puro e mente clara precisa abandonar o uso da carne, se Ele não quisesse que eles dessem ouvidos a essa mensagem? Pelo uso de alimentos cárneos a natureza animal é fortalecida e enfraquecida a espiritual” (Carta 48, 1902 em Conselho Sobre Regime Alimentar, 383).


 Resultados da escolha certa.



Daniel e seus três amigos escolheram as coisas certas. O alimento que eles comeram contribuiu para o seu destaque físico e intelectual frente aos outros estudantes. “No fim dos dez dias, a sua aparência era melhor; estavam eles mais robustos do que todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei” (Dn 1:15) e “em toda matéria de sabedoria e de inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino” (Dn 1:20). Ao escolherem a dieta original de Deus, eles receberam os benefícios físicos, intelectuais e espirituais.

            O contrário também é verdade. Quando escolhemos nos alimentar mal, as consequências nos alcançarão. Sofreremos efeitos tanto espirituais quanto físicos. “Quando nossa mente está embotada e parcialmente paralisada pela doença, facilmente somos vencidos pelas tentações de Satanás. Comer alimento insalubre para satisfazer ao apetite tem a positiva tendência de pôr em desequilíbrio a circulação do sangue, acarreta a debilidade nervosa, e em resultado há grande falta de paciência e de verdadeira, nobre afeição. A força constitucional, assim como o tono da moral e das faculdades mentais, são debilitados pela condescendência com o apetite pervertido”  (Nos Lugares celestiais, M.M. 1968, 193).

Cabe agora a cada um de nós decidirmos que tipo de alimentos iremos ingerir. A questão principal é: Escolheremos aqueles que mais nos agradam ou aqueles que mais agradam a Deus? Que Jesus Cristo nos ajude a escolher a opção certa.

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