segunda-feira, 21 de maio de 2012

Paulo e Marcos:

modelos para as escolhas ministeriais

(Título na Revista Ministério (Mai-jun/2012): Escolhas Pastorais)

Felippe Amorim



            Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (João 16:33). Estas palavras de Cristo são reais para todos os cristãos, mas para os ministros do evangelho elas se tornam especialmente verdadeiras.

            A vida ministerial é recheada de aflições por diversas razões. O ministro é um ser humano e por isso sofre as aflições e desafios espirituais como consequências naturais do pecado. Porém na vida de um pastor há um agravante. O inimigo sabe que se fizer um pastor vacilar na fé levará junto muitas de suas ovelhas, e por isso envia aflições e desafios adicionais para a vida dos ministros.

            Nesse caso, a preocupação do pastor não deve ser se as dificuldades chegarão ou não. É certo que elas virão. O foco do pensamento deve estar em como o pastor reagirá perante as dificuldades.

            No livro de Atos encontramos um episódio que nos ajuda a meditar mais profundamente neste assunto. Está escrito: E, partindo de Pafos, Paulo e os que estavam com ele chegaram a Perge, da Panfília. Porém João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém. (Atos 13:13)

            Uma leitura atenta desse verso nos ajuda a perceber que está estabelecida uma oposição entre dois personagens: Paulo e João Marcos. A palavra “porém” deixa isso bem claro. Percebemos Paulo indo e Marcos voltando. Esse dois personagens tiveram atitudes contrárias diante do mesmo desafio que era continuar a pregar o evangelho. Analisemos cada um deles.


Paulo

            O apóstolo Paulo é um grande exemplo de diligência no trabalho do Senhor. Esta é uma característica que Paulo já tinha mesmo antes de sua conversão. Era um diligente perseguidor. Quando ele se tornou um mensageiro de Deus essa característica se maximizou.

            O caminho que aquele grupo de missionários estava tomando rumo a Perge era um prenúncio de dificuldades. Perseguições, privações financeiras, pouco conforto. Para Paulo, no entanto, estas dificuldades não eram motivos de desmotivação para o trabalho.

            Para as dificuldades financeiras o apóstolo dos gentios apresentava a sua diligência no trabalho. Em Atos 18:1-3 lemos: “E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. E, achando um certo judeu por nome Áqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas”. 

            Paulo não tinha dificuldades em trabalhar fazendo suas tendas para não onerar a igreja, embora ele tivesse plena consciência de que Deus autorizava a igreja a sustentar seus ministros: “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho (1 Coríntios 9:14). O apóstolo não tinha medo de trabalho e também não visava lucro ao pregar o evangelho. As dificuldades financeiras não o assustavam.

            Além das dificuldades financeiras Paulo também sabia que corria risco de vida. Por várias vezes ele correu riscos por causa do ministério. Foi apedrejado, insultado, várias vezes tentaram assassiná-lo, mas diante de tudo isso ele dizia: Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro (Filipenses 1:21).

            O apóstolo dos gentios foi um exemplo de entrega total e irrestrita ao trabalho de Deus: “Quando os ministros, hoje, acham que estão sofrendo grandes agruras e privações da causa de Cristo. Visitem em imaginação, a oficina do apóstolo Paulo, tendo em mente que, enquanto esse escolhido homem de Deus está moldando as tendas, está ganhando o pão para o seu sustento, por seus próprios labores. No cumprimento do dever, enfrentava ele os mais violentos opositores, silenciando-lhes a orgulhosa jactância, e então reassumia seu humilde emprego de fazedor de tendas. Seu zelo e diligência deveriam ser uma reprovação à indolência e comodidade egoísta dos ministros de Cristo. Qualquer trabalho que beneficie a humanidade ou promova o avanço da causa de Deus deve ser considerado honroso”  (Ellen White. Paulo: o apóstolo da fé e da coragem, 106). Eis um paradigma para as escolhas ministeriais!


João Marcos


            A outra figura com a qual nos deparamos em Atos 13:13 é João Marcos. A atitude dele é apresentada em oposição à de Paulo. Não temos muitas informações sobre ele. Lucas ao escrever o livro de Atos não mencionou o porquê do retrocesso de Marcos, provavelmente por respeitá-lo, pois ao Lucas escrever seus livros inspirados, Marcos já havia se convertido e se tornado um escritor bíblico.

            Ellen White nos ajuda a entender porque Marcos voltou para Jerusalém: “Marcos não apostatou da fé, mas, semelhante a muitos jovens ministros, esquivou-se das dificuldades, e preferiu o conforto e a segurança do lar às viagens , labores e perigos do campo missionário . (EGW. Paulo: o apóstolo da fé e da coragem, 50)

Ao vislumbrar a possibilidade de enfrentar dificuldades, Marcos preferiu abandonar a carreira. Ele não deixou de amar o evangelho, muito menos deixou de amar a Jesus, mas não queria arriscar perder seu conforto por trabalhar na pregação do evangelho. Em outras palavras, naquele momento, Marcos preferia pregar o evangelho onde tivesse as melhores condições de vida e os menores riscos.


Qual modelo seguir diante das dificuldades?


No Brasil existem lugares onde o trabalho pastoral é premiado com muito conforto e segurança, mas também existem lugares onde o trabalho se torna penoso, menos confortável e até perigoso. Quando nos deparamos com esta possibilidade de chamado de Deus qual modelo seguiremos: o de Paulo ou o de Marcos?

Todos os ministros se defrontarão com dificuldades em algum momento do ministério. Essas dificuldades podem ser no âmbito espiritual, se configurando em lutas internas e externas, tentações etc. Podem ser dificuldades financeiras, dinheiro escasso e vida com menos conforto do que se sonhava. Poderão aparecer dificuldades familiares. Conduzir a família de forma que eles amem o ministério tanto quando o ministro às vezes se torna um tremendo desafio. Poderíamos ainda listar as lutas sociais como distância da família, separação dos amigos ou mesmo dificuldades administrativas em lidar com pessoas difíceis, tomar decisões complicadas etc.

            Quem decidir seguir o modelo de Paulo dirá como ele: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (1 Coríntios 9:16) e ainda completará “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Filipenses  1:21). Podemos escolher como Paulo e enfrentar as dificuldades que virão confiados em Jesus Cristo.

            Alguns, porém, podem escolher o modelo de Marcos: “Prefiro o conforto de casa às lutas do campo de batalha”. “Outros poderão servir à igreja neste lugar, eu prefiro ficar aqui, pois tenho mais vantagens financeiras”. “Prefiro ser pastor em determinada região porque morarei melhor”, enfim, os que escolhem como Marcos, pensam mais em si mesmos na hora de encarar os chamados de Deus do que na missão a qual se propuseram a cumprir.

Estas são duas possibilidades de escolhas (Paulo ou Marcos) com as quais todos os ministros se deparam em seu ministério.


Esperança para os desertores


            Graças a Deus a história de João Marcos não termina em Atos 13. Ele se arrependeu de sua postura e voltou a olhar mais para Cristo do que para as vantagens terrenas. Em Colossenses 4: 10-16  Paulo escreve a respeito de Marcos: Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o; E Jesus, chamado Justo; os quais são da circuncisão; são estes unicamente os meus cooperadores no reino de Deus; e para mim têm sido consolação.” Ele não era mais um desertor, agora era chamado de cooperador. Lemos ainda em II Timóteo. 4:11: “Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério”.

            O arrependimento de Marcos traz esperança para todos aqueles que necessitam mudar o seu foco ministerial de si mesmos para a pessoa de Jesus Cristo. O seu arrependimento foi tão profundo que Deus deu a ele a oportunidade de se tornar o primeiro dos evangelistas.

            Aqueles que, em algum momento da vida, ou mesmo agora, estão tomando a decisão de Marcos antes da conversão, podem como ele se arrepender e se tornarem muito úteis à obra de Deus.

Que Deus ajude a todos os seus ministros a sempre fazerem escolhas baseados no que Deus quer e não no que eles querem.

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