segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


 Oração
A maior necessidade do Cristão.

 Felippe Amorim
Pastor na Associação Norte Catarinense

            Existem algumas modalidades esportivas bastante interessantes. Uma delas é o mergulho em apneia. Estes atletas desafiam seus pulmões passando vários minutos embaixo da água sem nenhum tipo de equipamento de respiração. Os maiores atletas deste esporte conseguem passar entre cinco a sete minutos sem respirar. Ninguém conseguiu mais que isso.
            O motivo deste tempo relativamente curto (tente passar tanto tempo sem respirar e você não considerará tão curto assim.) é que o ser humano não consegue viver sem respirar. Qualquer período pequeno sem oxigênio no cérebro pode causar danos irremediáveis para a pessoa.
            Quando os praticantes deste esporte estão na ativa sempre estão assistidos por médicos e outros profissionais para evitar danos pela falta de oxigênio. O oxigênio é essencial à vida humana.
            Assim como o oxigênio é para a o corpo, existem alguns elementos que são essenciais para a vida espiritual e a oração é um dos mais importantes.

Jesus nos ensinou a orar

            Não há um exemplo maior de uma vida de oração que a vida de Jesus. Várias passagens bíblicas nos mostram como a oração era uma parte importante do ministério de Cristo. Lemos assim: E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus (Lucas 6:12).
            Apenas essa declaração já deveria ser suficiente para nos convencer de que deveríamos gastar (acho que a palavra mais adequada é investir) tempo em oração. Se Jesus Cristo, o próprio Deus encarnado, precisava passar tempo em oração, quanto mais eu e você, que somos cheios de tendências ruins e facilmente caímos em pecado, deveríamos passar tempo em oração pedindo misericórdia e força a Deus.
            Às vezes penso que nós, seres humanos, nos achamos mais fortes espiritualmente que Jesus. Talvez não falemos isso, mas agimos como se fôssemos. Falo isso porque observo Jesus que sem tendência para o pecado, passava horas buscando poder em oração. Ao contrário de Jesus, nós, que se nos descuidarmos (aliás, até cuidando), caímos constantemente em pecado, mesmo assim, não buscamos amparo na oração. Isso é atitude de quem se acha muito forte.
Há vários textos na Bíblia que registram Jesus orando, confira cada um desses momentos e depois compare com os seus momentos de oração (Lc. 3:21, 5: 16, 9: 18, 28-29 ; 11:1 ; 22: 41-46 ; 23: 34,46). Eu comparei com os meus e fiquei envergonhado.
O corpo de Cristo “tinha sido afetado pelo pecado, mas não infectado pelo pecado” [i], mesmo assim encontramos passagens como essa: “E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só” (Mateus 14:23). Sempre antes de uma grande decisão ou evento Ele se retirava para momentos de oração. Se Cristo necessitava, quanto mais nós.
Ellen White escreveu algumas coisas sobre a oração que me arrepiam e me deixam preocupado. Leia com atenção: “A oração é a respiração da alma. É o segredo do poder espiritual. Nenhum outro meio de graça a pode substituir, e a saúde da alma ser conservada. A oração põe a alma em imediato contato com a Fonte da vida, e fortalece os nervos e músculos da vida religiosa. Negligenciai o exercício da oração, ou a ela vos dediqueis de quando em quando, com intermitências, segundo pareça conveniente, e perdereis vossa firmeza em Deus” [ii]. Quando leio este texto chego a ter uma “falta de ar” espiritual ao avaliar o quão pouco tenho enchido meus pulmões espirituais de ar puro.
Ela ainda acrescenta: “Que cada respiração seja uma oração” [iii], e adverte: “A oração é a vida da alma. A oração da fé é a arma pela qual podemos resistir com êxito a todo assalto do inimigo” [iv]. Essa relação entre a respiração e a oração é uma figura perfeita para nos falar do quão essencial ela é. É algo do qual não podemos ficar muito tempo separados.
Se você não encontra nenhum motivo em você mesmo para orar, então ore porque é um mandamento de Deus para a sua vida. Paulo escreveu: “Sejam alegres, em qualquer situação; orem o tempo todo; deem graças a Deus, não importa o que aconteça. É como Deus quer que vocês, que pertencem a Cristo Jesus, vivam neste mundo” (1 Tess. 5:16-18 – A mensagem). O apóstolo repetiu este conselho: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” (Filipenses 4:6).

A oração muda a perspectiva dos problemas

A oração é uma forma de adentrarmos no santuário celestial. “A oração não faz Deus baixar a nós, mas eleva-nos a Ele” [v]. Não sei se você já teve a oportunidade de subir em um prédio ou uma montanha muito alta. Não gosto muito de altura, mas já tive oportunidades de estar em montanhas muito altas.
Quando olhamos de lá, carros e caminhões parecem ser formiguinhas passando numa estrada de brincadeira lá embaixo. Quanto mais alto subimos, menores as coisas parecem. É isso que a oração faz conosco em relação aos problemas. Quando olhamos os problemas do nosso ponto de vista eles aumentam de tamanho, mas a oração nos eleva a Deus e nos proporciona a oportunidade de ver a vida da perspectiva de Deus. Olhamos os problemas como quem olha de cima de uma montanha os carros minúsculos passando na estrada lá embaixo. A oração corrige meu problema visual, os problemas, não desaparecem imediatamente, mas ficam tão pequenos que se tornam insignificantes.

A linguagem deve ser espontânea

Tenho sérias desconfianças de que não praticamos mais a oração porque nós a transformamos em um momento muito chato. Usamos uma linguagem que não é a nossa cotidiana, buscamos expressões que às vezes nem sabemos direito o significado. Uma vez ouvi uma oração e quase pedi que a pessoa desse uma pausa enquanto eu ia pegar um dicionário para me ajudar a entender o que ela queria dizer.
A linguagem da oração precisa ser natural, como quem fala com um amigo. “A oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo” [vi]. Não sei você, mas quando quero falar com meus amigos (os mais íntimos) não marco hora e não fico cheio de cerimônias e linguagem rebuscada. Ligo a qualquer hora ou os encontro em qualquer lugar. Por se tratar de amigos, não importa muito onde estamos o que importa é que estamos juntos.
Em Julho de 2012 estive em Moçambique - África realizando uma série evangelística na capital do país (Maputo). Foram dias muito agradáveis ao lado daqueles irmãos. Estava pregando dentro de uma igreja e, embora fosse um país de língua portuguesa, sempre tinha alguém me traduzindo para o dialeto local, o shangana. Qualquer coisa que eu falasse alguém traduzia (os mais velhos não entendiam bem o português).
Uma coisa, no entanto, me deixava muito curioso: eles nunca traduziam a oração. Eu sempre falava pausadamente durante a oração esperando que alguém fizesse a tradução. Logo entendi que eles não traduziriam, mas a curiosidade só aumentava. Por que não traduziam a oração? Resisti à pergunta por alguns dias, até que soltei. Um dia, voltando para o hotel, perguntei ao ancião local: irmão, por que não se traduz a oração?
Ele olhou pra mim com muita simplicidade e até um pouco de espanto e me deu a resposta que me deixou bastante envergonhado. Ele disse: “Não traduzimos pastor, porque Deus entende”. Nossa, eu poderia não ter passado esta vergonha. É lógico. Aquele povo simples entendia a oração muito mais profundamente que eu, um teólogo. A oração é uma conversa com Deus. E Ele entende a nossa linguagem. Não precisamos falar bonito ou difícil para impressioná-lo. Basta que sejamos sinceros.
Experimente falar para Deus a respeito de suas frustrações, de seus desejos e sonhos. Trate com ele das questões triviais do seu dia, fale sobre amenidades, Ele tem todo o tempo do mundo para você. Estou muito convencido de que Deus se agrada muito mais de uma oração sincera do que de uma oração bonita. Simplesmente fale com ele. Ele entende!
“As maiores vitórias da igreja de Cristo, ou do cristão em particular, não são as que são ganhas pelo talento ou educação, pela riqueza ou favor dos homens. São as vitórias ganhas na sala de audiência de Deus, quando uma fé cheia de ardor e agonia lança mão do braço forte da oração” [vii].


Deus está disposto a escutar.

            Você já teve a impressão de que estava orando para tentar convencer a Deus a fazer algo que Ele não queria fazer? Às vezes nós temos a sensação que as bênçãos que nós estamos pedindo a Deus nos são dadas contra a vontade dEle e por isso temos que insistir muito para receber.
            Deixa eu te dizer uma coisa: é apenas impressão... Na oração modelo Jesus nos ensinou a tratar Deus como “Pai nosso” e não explicou as implicações de chamar Deus de pai porque sabia que nós já temos ideia do que isso significa, pois temos o nosso pai aqui na Terra.
            Pense um pouco na relação entre pai e filho. A maior felicidade de um pai é ver seu filho bem. Não me esqueço de um episódio que vivi com meu pai. Eu estava passando por um momento bastante delicado da vida. Ele me falou algumas palavras que ficaram gravadas em minha mente: “Seu pai está aqui para ajudar você, pode contar comigo”.
            Não foi à toa que Jesus nos deu a referência do pai terrestre para que avaliemos as atitudes do pai celeste (é verdade que alguns pais modernos não podem servir como parâmetro, mas estes são exceções).
            Nosso pai celeste tem mais vontade de nos ver felizes do que nosso pai terrestre, então ore com a certeza de que Deus quer atender você, mas Ele só nos dará aquilo que for para o nosso bem.
            Uma vez estava pregando em uma igreja no interior de Sergipe e vi uma cena que me fez pensar na oração e nas respostas de Deus. O filho pequeno de um amigo estava conosco no culto. Ele soltou a mão do pai e se aproximou de uma tomada na parede. Rapidamente o pai o pegou de volta evitando aquela aproximação perigosa. A criança então começou a chorar e a pedir que o pai a deixasse colocar o dedo na tomada.
            Lógico que meu amigo continuou dizendo não ao seu filho, mesmo diante do choro tão sentido da criança. Acredito que muitas vezes acontece assim conosco. Choramos e esperneamos para que Deus nos deixe “colocar o dedo na tomada”. Assim como aquela criança, não temos ideia de como seria ruim se nosso Pai do céu dissesse sim a alguns pedidos nossos.
            Da próxima vez que você orar, faça na certeza de que Deus está te ouvindo e atenderá seus pedido de acordo com a sabedoria dEle. Nunca desista de pedir coisas a Deus. É a Ele que temos que apelar quanto às nossas necessidades, a quem mais pediríamos?
            Uma vez ouvi um pregador falando que deveríamos orar apenas agradecendo a Deus e perguntando coisas. Ele aconselhava a congregação a orar a semana toda sem pedir nada a Deus. Eu discordo completamente dele. Diante da nossa situação de pecado, miséria espiritual, necessidades físicas e emocionais, a quem mais poderíamos apelar senão a Deus? Se há alguém a quem podemos e devemos pedir coisas é a Deus.
            Imagine o quão triste seu pai ficaria se soubesse que você estava em necessidade, ele podia ajudar você, mas você não o pediu e sofreu sozinho? Embora tenhamos muitas coisas para agradecer a Deus, não há problema algum em pedir coisas a Ele. “O mesmo compassivo Salvador vive hoje, e está tão disposto a escutar a oração da fé, como quando andava visivelmente entre os homens. O natural coopera com o sobrenatural. Faz parte do plano de Deus conceder-nos, em resposta à oração da fé, aquilo que Ele não outorgaria se o não pedíssemos assim” [viii].  A resposta de Deus às nossas orações depende mais de nós do que dEle. “Se tiverdes voz e tempo para orar, Deus terá tempo e voz para responder” [ix].
            No que diz respeito à oração, precisamos dela tanto quanto do ar que respiramos, portanto, viva com seus pulmões espirituais sempre cheios da respiração da alma.














[i] Rodor, Amim A. O Incomparável Jesus Cristo – 1ª ed – Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2011. Pg. 33
[ii] Mensagens aos Jovens, 250
[iii] Ciência do Bom Viver, 511
[iv] Manuscrito 24, 1904. In ME. v.1, 88
[v] Caminho a Cristo, 93
[vi] Caminho a Cristo, 93
[vii] Patriarcas e profetas, 203
[viii]  O Grande Conflito, 525
[ix] Review and Herald, 1º de abril de 1890.

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