domingo, 25 de agosto de 2013

Até que a morte os separe
Lições da família de Adão e Eva


            Existem duas instituições criadas por Deus no Éden que persistem até hoje. Uma delas é o sábado como dia separado por Deus para adoração. Mesmo com tantos ataques sofridos ao longo dos séculos, o dia de guarda não foi esquecido pelos cristãos que estão dispostos a seguir o que a Bíblia diz.
            A outra instituição criada no Éden que persiste até hoje é o casamento. Tanto quanto o sábado, o casamento vem sofrendo com os ataques do inimigo de Deus, mas, assim como o sábado, o casamento persiste e é mantido por todos aqueles que se submetem à palavra eterna.
            O primeiro casamento foi instituído e realizado por Deus. Ele criou e Ele espera que nós respeitemos esta instituição sagrada. Neste texto vamos aprender algumas lições úteis para os casamentos modernos com o casamento de Adão e Eva.
           
Não é bom que o homem esteja só

Tudo que Deus criou era perfeito. Nem uma sombra de mal havia em toda a Terra até então. Com o seu ato criativo Deus quis ensinar lições para nós. Vamos observar o trecho da Bíblia que descreve os momentos finais da semana literal da criação, focando sobre o casamento de Adão e Eva.
“E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele” (Gênesis 2:18).
Embora tudo fosse perfeito, ainda faltava algo para que ficasse completa a criação. O “não bom” era referência ao fato de ainda faltar algo. Havia uma coisa "não boa” na criação perfeita. O “não bom” era o fato de o homem estar só.
Isso me chama muito a atenção. Adão estava na companhia de todos os animais, dos próprios anjos e poderia ter a presença de Deus face a face, mesmo assim, ainda sentia falta de algo. A companhia de Deus e dos anjos não era suficiente para Adão. “O homem não foi feito para habitar na solidão; ele deveria ser um ente social. Sem companhia, as belas cenas e deleitosas ocupações do Éden teriam deixado de proporcionar perfeita felicidade. Mesmo a comunhão com os anjos não poderia satisfazer seu desejo de simpatia e companhia. Ninguém havia da mesma natureza para amar e ser amado”[i].
Também me chama a atenção o fato de que, embora Deus soubesse que o homem sentiria falta da mulher, Deus deixou o homem sentir falta primeiro para só então cria-la. Essa foi a estratégia de Deus.
Adão recebeu de Deus a incumbência de dar os nomes aos animais (v. 19-20). Fico tentando imaginar Adão nomeando cada par e cada vez que ele acabava de nomear percebia que todos os animais tinham uma companheira, mas ele estava sem ninguém que fosse igual. Deus sabia que o homem precisava da mulher, mas deixou que o homem percebesse isso. Mesmo em um estado perfeito o homem é incompleto sem a mulher. Essa é uma realidade que os homens precisam internalizar, aceitar e desfrutar todos os dias.

A criação da Mulher

            Adão sentiu muito a falta de uma companheira e Deus logo completou seu plano criando a mais bela obra de sua criação: a mulher.
            Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada (Gênesis 2:21-23).
            Para criar o homem Deus sujou a sua mão de barro, mas na criação da mulher Ele fez uso de algo mais requintado. Embora também tenha usado barro, Deus utilizou um elemento especial: as duas costelas de Adão. Não foi por acaso que Deus pegou a costela. Havia uma lição a ser aprendida neste ato.
“Eva foi criada de uma costela tirada do lado de Adão, significando que não o deveria dominar, como a cabeça, nem ser pisada sob os pés como se fosse inferior, mas estar a seu lado como igual, e ser amada e protegida por ele. Como parte do homem, osso de seus ossos, e carne de sua carne, era ela o seu segundo eu, mostrando isto a íntima união e apego afetivo que deve existir nesta relação”[ii].
Há uma poesia de autor desconhecido que faz eco com o que Ellen White falou. “A mulher foi tirada não da cabeça do homem para governar ele, não dos pés para ser pisada por ele, mas do seu lado, de sob o seu braço, para ser protegida, e de perto do seu coração, para ser amada”. É exatamente isso. Deus estava ensinando aos maridos que a mulher deve ser amada, protegida e amparada como parte de seus corpos. O amor dado à esposa deve ser equivalente aos cuidados que Deus teve em criá-la.
Certa vez ouvi que existem três tipos de relacionamentos entre um casal: O relacionamento “Varão”, neste “manda ele e ela não”. O relacionamento “Varela”, neste “manda ele e manda ela” e o relacionamento “Varunca”, no qual “manda ela e ele nunca”. É uma brincadeira recheada de verdades. Encontramos por aí estes três tipos e sem dúvida o “varela” é o que mais se aproxima do ideal. Uma relação em que os dois opinam e decidem as questões é o mais saudável para todos.
Deus quis ser mais claro quanto ao tratamento que o homem deveria dar à sua esposa. A norma é amá-la como a si mesmo. O apóstolo Paulo escreveu o seguinte: Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo (Efésios 5:28). Ninguém (são) maltrata a si mesmo. Todas as vezes que o casal se desentender (isso acontecerá com qualquer casal humano), este princípio deve entrar em prática. Na hora de discutir algum assunto difícil (eles aparecerão, tenha certeza), este princípio deve guiar a conversa. Dessa forma nunca haverá agressão física, verbal ou psicológica, pois, ninguém trata mal a si mesmo.

Aspectos importantes do casamento

            Quando Deus celebrou o primeiro casamento deixou algumas orientações importantes implícitas no relato da primeira “cerimônia”. Podemos vê-las lendo o episódio bíblico.
Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne (Gênesis 2:24).
O primeiro aspecto importante deixado por Deus é deixar pai e mãe. Moisés, inspirado por Deus, falou sobre a figura dos pais dos noivos em uma passagem em que eles ainda nem existiam. Adão e Eva não tinham pais para deixar, mas Deus já estava esclarecendo como isso seria importante.
Podemos falar de, pelo menos, quatro aspectos da separação que os noivos devem ter dos pais. A primeira é a separação física. Diz o antigo ditado popular: “quem casa quer casa”. Ter o seu lugar é algo importantíssimo para os recém-casados. Morar com parentes nesta ou em qualquer outra fase do casamento acarreta prejuízos para o casal.
Mesmo que seja uma pequena casa bem simples, é melhor que morar com os pais. O casamento exige privacidade, o que não é possível de forma completa na casa dos pais.
A segunda forma de separação que se faz necessária para um casal é a emocional. Os pais já cuidaram dos problemas dos filhos durante toda a fase de crescimento e amadurecimento. Depois do casamento o casal deve cuidar dos próprios problemas. Uma dica: leve para os seus parentes somente as coisas boas do seu casamento. As coisas ruins guardem para vocês somente. Assim vocês pouparão muita dor de cabeça. É lógico que o casal pode procurar alguém de confiança para momentos de aconselhamento, mas nada de ficar levando e trazendo problemas do casamento para os parentes.
A terceira forma de separação é a econômica. O casal deve cuidar das próprias contas. Claro que receber presentes e ajudas esporádicas dos pais não é pecado, mas o casal só deve casar quando puderem viver com os próprios rendimentos, sem onerar os pais com mais uma família para sustentar.
A quarta forma de separação é a espiritual. Os pais podem e devem orar por seus filhos depois de casados, podem aconselhar também, mas o casal deve cuidar da sua vida espiritual, deve desenvolver a espiritualidade entre eles de forma autônoma.
Aqui eu quero deixar um conselho para as mães de noivas e noivos: deixem o casal viver em paz. Não interfira na vida deles a menos que eles solicitem e, mesmo assim, sejam sábias para não entrar mais do que o necessário e saudável. Quem quer a felicidade dos filhos segue essa dica.
Deus estabeleceu mais parâmetros para o casamento quando disse “una-se à sua mulher”. Aqui Ele estabeleceu a monogamia e a heterossexualidade como paradigmas para o casamento abençoado por Deus. Ele confirmou esses aspectos no Novo Testamento: “Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne (Marcos 10:7-8).
Deus criou Adão e Eva. Um HOMEM para uma MULHER. Qualquer coisa que fugir deste padrão é pecado, portanto, contra a vontade de Deus.
O relato de gênesis continua dizendo: “E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam” (Gênesis 2:25). Isso conota intimidade. Deus espera que todo casal casado seja muito íntimo um do outro, porém a primeira intimidade necessária não é a física, mas sim a emocional. Quando um casal é amigo um do outro, confidente um do outro, quando eles conseguem se divertir um na presença do outro, então, a intimidade física é uma consequência natural. Caso esta ordem não seja respeitada, certamente ocorrerão problemas mais cedo ou mais tarde.
Há ainda mais um aspecto importante do casamento. A promessa feita no altar deve ser perpétua. Salomão falou algo sobre prometer e não cumprir: “Melhor é que não votes do que votares e não cumprires” (Eclesiastes 5:5). Geralmente não há ninguém armado no altar obrigando os noivos a dizerem “sim”. A promessa foi espontânea e, de acordo com o verso acima, deve ser cumprida.
O salmo 15 descreve as características daqueles que serão cidadãos do céu. Uma delas está no verso quatro: “aquele que jura com dano seu, e contudo não muda”. Os cidadãos do céu quando prometem algo (inclusive amar eternamente alguém) cumprem sua promessa mesmo com prejuízo próprio. Está difícil manter o casamento? Se você é cidadão do céu, vai continuar firme à sua promessa mesmo assim. Duro isso, não?

Deus é capaz de resolver qualquer problema

            Há esperança para qualquer casamento, mesmo aqueles que aparentemente estão acabados. Nada é impossível para Deus. Ele ressuscitou mortos e pode ressuscitar casamentos mortos também. “A oração é resposta para cada problema da vida. Ela nos põe em sintonia com a sabedoria divina, a qual sabe ajustar cada coisa perfeitamente. Às vezes deixamos de orar em certas circunstâncias porque, a nosso ver, a situação é sem esperança. mas nada é impossível para Deus. Nada é tão emaranhado que não possa ser remediado; nenhuma relação humana é tão tensa que Deus não possa trazê-la à reconciliação e à compreensão; nenhum hábito é tão profundamente enraizado que não possa ser vencido; ninguém é tão doente que Ele não possa curar. [...] Se alguma coisa nos causa preocupação e ansiedade, paremos de propagá-la e confiemos em Deus por restauração, amor e poder[iii]” 
            Se há dificuldades em seu casamento, coloque-o e coloque-se nas mãos de Deus e permita que Ele faça a reconstrução do casamento. Eu poderia contar para você muitas histórias de casamentos que estavam dados por perdidos e que foram refeitos pelo poder de Cristo. Se cada um fizer a sua parte, Deus sempre faz a dEle e qualquer (qualquer mesmo) problema pode ser superado.
Que tal entregar o seu casamento nas mãos de Deus hoje? Se ele está bem, vai melhorar cada vez mais. Se ele não está bem, Deus poderá reconstruí-lo e deixá-lo em perfeito estado.





Lições que aprendemos com a família de Adão e Eva.

1.      O casal deve ter uma vida autônoma em todos os aspectos da vida
2.      Deus espera que os casamentos sejam feitos dentro dos parâmetros estabelecidos por Ele. Assim Ele pode abençoar.
3.      Casamentos que estão em crise podem ser refeitos pelo poder de Deus.
4.      Casamentos mortos podem ser ressuscitados pelo poder de Cristo.








[i] Ellen White. Patriarcas e Profetas, 46
[ii] Ellen White. Patriarcas e Profetas 46
[iii] Ellen G. White. Review and Herald, 07 de outubro de 1865 

domingo, 11 de agosto de 2013

Uma Família que abençoa o mundo
Lições da família de Abraão


A história de Abraão ocupa muitos capítulos da Bíblia. Nela encontramos diversas lições importantes para a vida cristã. Quero, no entanto, focalizar o olhar para os textos que tratam da experiência familiar do patriarca.
Mesmo fazendo este corte na história de Abraão, ainda ficaríamos com muitos textos para explorar, então selecionei algumas passagens que nos darão um panorama da família de Abraão e dos quais tiraremos algumas lições e princípios para as nossas famílias. Começarei falando sobre o chamado de Abraão.

O chamado para abençoar famílias

Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:1-3). Este é o texto no qual foi descrito o chamado de Abraão para sua missão. Nele encontramos claramente uma ordem, uma promessa e uma bênção.
Esta é uma sequencia que fala por si mesma. As promessas e as bênçãos de Deus são consequências de seguir as ordens que Ele nos dá. Muitos querem receber as bênçãos e participar das promessas sem seguir as ordens de Deus. Isso é incoerente com o que as escrituras nos ensinam. Primeiro devemos obedecer a Deus e depois podemos reivindicar suas promessas e bênçãos.
A ordem que encontramos no trecho é para que Abraão e sua família saíssem da terra em que moravam havia tanto tempo. Esta, sem dúvida, foi a primeira e uma das mais duras provas de fé que o patriarca sofreu.
Sair da terra e se afastar da parentela era algo muito difícil para ele por alguns fatores. Primeiro: ele deixaria os parentes para trás para nunca mais reencontrá-los. Segundo: A cidade de Ur era uma das mais luxuosas e bem estruturadas da Mesopotâmia. A vida de Abraão tinha sido passada lá e deixar o conforto de Ur para peregrinar pelo deserto não era uma decisão fácil. Ele deixaria a civilização e a fartura para correr atrás de algo desconhecido.
Outro fator que dificultava a decisão de sair era a idade. Ele tinha 75 anos de idade. Mesmo para aquele tempo, em que se vivia bem mais que hoje, já era uma idade avançada. Ele deixaria o trabalho, e tudo que construíra ao longo da vida, para trás. Se ele fosse um jovem seria mais fácil tomar essa decisão, mas na sua idade seria bem difícil.
Mesmo para um jovem, a decisão de deixar o conforto da casa para cumprir a ordem de seguir para longe não é algo fácil. Quando Deus falou comigo claramente sobre ser um pastor, eu estava estabilizado no meu trabalho em minha cidade natal. As perspectivas de crescimento profissional eram boas e eu estava conseguindo ocupar um lugar bom entre os profissionais da minha área. Quando eu entendi a vontade de Deus para mim, decidi ir para o lugar onde Cristo me indicara, cursar teologia e me tornar um pastor.
Lembro-me bem do dia em que deixei minha cidade. Era uma sensação muito ruim. Deixei para trás a família, amigos e minha noiva (depois nos casamos, graças a Deus). Quando entrei na sala de embarque do aeroporto, me senti muito mal, tive ânsia de vômito e uma vontade tremenda de chorar. Foi uma decisão muito difícil. Hoje, muitos anos depois, não me arrependo de tê-la tomado, mas isso não anula a dificuldade de tomá-la.
Para Abraão deve ter sido muito mais difícil sair de sua terra e isso já dá indícios da fé que ele tinha, pois simplesmente obedeceu à ordem de Deus sem discutir.
Logo depois da ordem vem a promessa. Abraão seria pai de uma grande nação. Essa foi a segunda prova de fé desse homem. Além da idade, tinha um empecilho mais sério, sua esposa era estéril. A promessa de um filho deve ter feito o patriarca pensar em como Deus faria isso tendo ele 75 anos. Certamente ele conseguiu ver com “os olhos da fé” o cumprimento das palavras de Deus.
A bênção vem em seguida. A promessa envolvia tanto bênçãos temporais quanto espirituais. Deus prometeu que iria engrandecer o nome de Abraão. Esta promessa faz um contraste com o capítulo anterior da Bíblia. Em Gênesis onze havia um grupo de pessoas na torre de babel que queriam ter o nome reconhecido, mas, os construtores de babel pensavam que teriam o nome engrandecido desafiando a Deus, dessa forma, só conseguiram ruína. O nome de alguém só é verdadeiramente engrandecido quando se obedece à voz de Deus. Foi assim na vida de Abraão.
Perceba que a Bíblia diz que Deus tomava para si as ofensas contra Abraão. Essa é uma característica dos amigos, quando você ofende a um, ofende ao outro também. Por essa e outras coisas que o patriarca foi chamado de amigo de Deus (Tg. 2:23).
A intenção do Eterno era levar bênçãos para as famílias. Essa sempre foi a ênfase de Deus e Ele tem um motivo especial para isso. Deus sabe que se as famílias estiverem bem, seu povo estará bem e preparando-se para o reencontro no dia final. Deus foca a família. Você pode entregar a sua nas mãos dEle e ficar tranquilo que receberá um cuidado especial.


O prejuízo da infidelidade


            A família de Abraão tinha um lugar de destaque nos planos de Deus, porém tudo isso estava vinculado à fidelidade da família a Deus e à submissão às suas ordens. No entanto, algo aconteceu fora dos planos divinos.
Ora Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Agar. E disse Sarai a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai. Assim tomou Sarai, mulher de Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão seu marido, ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de Canaã. E ele possuiu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos. Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; o SENHOR julgue entre mim e ti. (Gênesis 16:1-5)
            O texto acima nos mostra que com Abrão e Sarai aconteceu o que muitas vezes acontece conosco. De vez em quando queremos ajudar a Deus a cumprir as suas promessas. Esquecemos que Ele não precisa de nada, muito menos de nossa ajuda.
            Sarai achava que poderia contribuir com o cumprimento da promessa ao entregar uma serva a Abrão. Essa era uma prática mesopotâmica usada em Canaã, contudo, não era uma prática de Deus. Não há problemas em usarmos as práticas e tradições do mundo desde que elas não firam os princípios de Deus. Não podemos usar indiscriminadamente as práticas da Terra, pois somos cidadãos do céu. A cultura deve sempre ser limitada pelos princípios divinos. Todas as vezes que cultura e princípios entrarem em conflito, os princípios devem prevalecer, custe o que custar.
            Sarai sofria a maldição da esterilidade e escolheu a barriga de Hagar para ter o filho da promessa. Hagar deveria ser uma boa serva, por isso, foi escolhida. Além disso, ela tinha a benção da fecundidade.
            Abrão aceitou a proposta (ele tinha a opção de não aceitar, poderia ter rejeitado esse infeliz plano). Quando Hagar ficou grávida desprezou Sarai e gerou muitos problemas para aquele lar. Lares que fogem à vontade de Deus sempre têm consequências ruins. Tristeza, ciúme, rivalidade foram efeitos no lar de Abrão. Quando a traição (física, mental ou virtual) entra em uma família, trás junto consigo uma multidão de problemas. Deus pode perdoar e refazer o lar, mas, mesmo assim, as consequências acompanharão a família por uma vida inteira.
            Deus não se satisfez com o que aconteceu na família de Abrão, mas não o abandonou. Estendeu o perdão a todos e deu mais uma chance, mas deixou um lembrete para que nunca mais Abrão tentasse ajudar Deus em sua promessa de um filho.
            O lembrete foi a circuncisão. Ela seria um sinal “in loco” da promessa de Deus. “Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência” (Gn. 17:10-12). Todas as vezes que Abrão olhasse para o seu órgão sexual lembraria que Deus iria dar um jeito de cumprir sua promessa.
            A circuncisão está relacionada à aliança entre Deu e seu povo, seria um sinal de aliança com Israel literal, representando o nascimento físico. Depois ela passou a ser um símbolo do batismo para o Israel espiritual (Gn. 17:11, Cl. 2:11 – 12, Tt 3:5, 1Pe. 3:21), que é um nascimento espiritual, além de servir como lembrança que Deus cumpriria a promessa. Sem dúvida é um lembrete da graça de Deus que deu um filho a uma mulher impossibilitada de engravidar e que também pode dar salvação às pessoas que não a merecem.


 Segunda chance depois do pecado

            Felizmente, Deus sempre nos dá uma segunda chance (e terceiras e quartas...) e isso aconteceu com Abrão e Sarai.
Depois que eles erraram, Deus os procurou para uma nova aliança. Como símbolo dessa aliança Deus mudou o nome de Abrão e Sarai (Gn. 17). Abrão – pai exaltado – passou a ser Abrãao - pai de uma grande nação e Sarai – Minha princesa (de Abraão) – passou a ser Sara – Uma princesa (para todos os povos). Perceba que sutilmente Deus muda o foco da vida do casal deles mesmos para o Criador.
Deus sempre nos estende a oportunidade para recomeçarmos. Se o seu casamento não vai tão bem, Deus quer te dar uma nova oportunidade de recomeçar da forma certa. Se seus filhos não receberam a melhor educação que você poderia dar, ainda é possível recomeçar. Caso exista um pecado que te atormenta, ainda dá tempo de abandoná-lo e recomeçar uma vida com Jesus.
Não existe nada que seja difícil para Deus. Podemos perceber isso no episódio em que Deus visitou Abraão e Sara. “E disse: Certamente tornarei a ti por este tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho. E Sara escutava à porta da tenda, que estava atrás dele. E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia cessado o costume das mulheres. Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já velho? E disse o SENHOR a Abraão: Por que se riu Sara, dizendo: Na verdade darei eu à luz ainda, havendo já envelhecido? (Gênesis 18:10-13)
Sara duvidou de Deus. Não podemos apontar o dedo para Sara esquecendo-nos das nossas próprias dúvidas. Quantas vezes duvidamos das promessas de Deus?! No entanto, a pergunta que Deus fez para Sara pode nos ajudar também a renovar nossa fé: “Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR? (Gênesis 18:14).
            A resposta à pergunta feita à Sara é um sonoro NÃO. Nada é difícil para o nosso Deus. Algumas vezes, Ele permite que chegue o impasse para contrastar a impotência humana com a onipotência divina, porém, nenhuma situação na vida familiar é difícil demais para Deus resolver. Acredite, o poder da graça de Cristo pode transformar seu casamento que está quase acabado em algo feliz, Ele pode transformar as dificuldades do seu lar em bênçãos.

Ordenar a família

Antes de receber o cumprimento da promessa, no entanto, Deus deu uma ordem a Abraão: Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agir com justiça e juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado (Gênesis 18:19). Quero falar um pouco sobre este texto, mas antes, quero compara-lo com o verso seguinte. “Disse mais o SENHOR: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito,(Gênesis 18:20). Não há uma razão lógica para que um verso suceda o outro, a menos que Deus estivesse querendo fazer uma comparação entre as duas famílias. Enquanto Abraão estava ordenando sua família, lá em Sodoma a família de Ló se perdia exatamente por falta  de liderança espiritual.
            Abraão recebeu a função de liderar a sua família de forma que existisse nela um ambiente aberto para a entrada de Deus. A ordem dada ao patriarca deve ser seguida por cada pai moderno: “Quão poucos há em nossos dias que seguem este exemplo! Por parte de muitos pais há um sentimentalismo cego e egoísta, impropriamente chamado amor, que se manifesta deixando-se as crianças, com o juízo ainda por formar-se e as paixões indisciplinadas, à direção de sua própria vontade. Isto é a máxima crueldade para com a juventude, e grande mal ao mundo. A condescendência por parte dos pais ocasiona desordem nas famílias e na sociedade. Confirma no jovem o desejo de seguir a inclinação, em vez de se submeter aos mandamentos divinos. Assim crescem com um coração adverso a fazer a vontade de Deus, e transmitem o espírito irreligioso e insubordinado a seus filhos, e filhos de seus filhos”[i].
Quando lemos a orientação de Deus para Abraão ordenar a família, precisamos ter cuidado para não colocarmos nesta “ordenação” noções não cristãs. Eu explico. Algumas pessoas podem pensar que ordenar tem a ver com métodos violentos de agressão física. Não estamos falando de métodos ditatoriais. É preciso que haja temperança inclusive na disciplina dos filhos. Devemos evitar os extremos. Nem devemos espancar as crianças em nome da educação, mas, também, devemos lembrar-nos do conselho bíblico de que a “vara” de vez em quando é um recurso legítimo (Pv. 23:3; Pv. 13:24 ; Pv. 22:15). Reforço que o uso do castigo físico deve ser usado com muita sabedoria. Espancamento não é algo defendido pela Bíblia.
A melhor forma, no entanto, de ordenar a família é por meio do exemplo. Como diz Ellen White: “Antes que os próprios pais andem na lei do Senhor com coração perfeito, não estarão preparados para ordenar a seus filhos depois deles. Necessita-se de uma reforma neste sentido, reforma que seja profunda e extensa”[ii]. Uma mistura de firmeza com amor é a medida perfeita. Somente a escola não é suficiente para uma educação completa. A escola deve apenas completar a educação que a criança recebe em casa.

Promessa cumprida no tempo de Deus

            Após orientar a Abraão sobre como deveria conduzir sua família, Deus viu que ele estava pronto para receber a promessa. “E o SENHOR visitou a Sara, como tinha dito; e fez o SENHOR a Sara como tinha prometido. E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado” (Gênesis 21:1-2).
            Aquele era um nascimento especial. Deus desafiara as leis da natureza pecaminosa que impôs a esterilidade sobre Sara e fez com que ela engravidasse. O Senhor provava com aquele ato que não há situação difícil para Ele. Um casal de velhos cuja mulher é estéril, se estiverem sob as mãos do Criador, podem ser pais. Qualquer situação aparentemente insolúvel em nossa família deve ser colocada nas mãos de Deus. Ele pode resolver qualquer coisa. Assim como Deus mudou o curso natural das coisas para cumprir sua vontade na família de Abraão, também pode fazer na sua.
            Há uma expressão neste texto que precisa ser levada em conta. O texto diz que Isaac veio “no tempo determinado”. Deus nunca está atrasado, sempre é pontual. O problema é que nós não conhecemos o tempo de Deus e, às vezes, julgamos que Ele já deveria ter agido em determinadas situações em nossa vida. Se Deus ainda não resolveu sua situação difícil, se Ele ainda não cumpriu sua promessa, continue crendo. Deus age sempre no melhor momento, mesmo quando este momento não é, para nós, o mais oportuno. Nossa parte é confiar sempre.
            Embora Abraão tivesse recebido a promessa, ainda faltava uma lição essencial para o patriarca. Abraão precisava aprender a quem amar mais e foi isso que Deus o ensinou com o episódio do monte Moriá.
Abraão conhecia a voz de Deus e por isso levou seu filho para ser sacrificado. O patriarca estava disposto a obedecer à voz divina. Quero chamar a atenção, no entanto, para Isaac. Ele não havia escutado a voz de Deus, mas confiava plenamente no seu pai. Aqui vemos em Isaac o efeito de um pai consagrado a Deus. Seus filhos sabem que ele o é, e o respeitam assim. Lógico que isso acontece quando os filhos crescem vendo o pai como um homem de Deus e são educados para respeitarem a Deus e a seus pais. No monte Moriá Abraão aprendeu quem deve estar no trono da vida de um pai. Deus é o principal, os filhos não devem ocupar o lugar do Criador na vida dos pais.

Resultados permanentes

Abraão morreu sem ver cumprida a promessa de ser pai de uma grande nação, porém, morreu crendo na promessa. Eu fico imaginando o dia em que Jesus voltar, ressuscitar o patriarca e logo depois de dar um abraço em Abraão disser: Olha para esta multidão de salvos. Eis a promessa que você morreu sem ver. Será uma multidão de filhos de Abraão, tanto físicos quanto espirituais. Todos eles frutos de uma família, cheia de erros, mas que se entregou nas mãos de Deus.
Assim como a família de Abraão a sua também pode ser uma bênção para todas as nações, basta que ela seja entregue nas mãos do Criador e se submeta aos seus desígnios. Não importam os defeitos que sua família tenha, nem a quantidade de erros que já cometeram, o que importa é o quanto estão dispostos a se submeterem à vontade de Deus. Uma família que coloca Deus no trono será uma benção para muitas outras.



Princípios que aprendemos com a família de Abraão.

1-      Deus sempre cumpre a sua promessa, precisamos confiar e esperar o tempo dEle.
2-      A fidelidade entre o casal sempre é a melhor maneira de conduzir um casamento. O contrário sempre trará consequências ruins.
3-      Os filhos não podem tomar o lugar de Deus na vida dos pais.
4-      Mesmo enfrentando as dificuldades do pecado, uma família que se coloca nas mãos de Deus será uma bênção para o mundo.





[i] Ellen G. White. Patriarcas e Profetas, 142
[ii] Ellen G. White. Patriarcas e Profetas, 143