Como se Faz um Pastor
(publicado na Revista Ministério set-out/2013)
(publicado na Revista Ministério set-out/2013)
Felippe Amorim
Durante os quatro anos em que estive no seminário de
teologia, escutei muitas vezes a frase “fui chamado”. Eu mesmo falei isso
várias vezes. Essa é uma frase comum nos seminários de Teologia.
Não há nenhum problema em pronunciar tais palavras,
desde que elas sejam verdadeiras. Ser chamado por Deus para o ministério
pastoral é um requisito básico para quem quer seguir este caminho, além disso,
uma vida pastoral destituída de um chamado feito por Deus será triste e
melancólica. O trabalho será sempre pesado e enfadonho, porque não haverá
alegria no trabalho.
O grande pregador e pastor Charles Spurgeon disse
certa vez: “O fato de que centenas perderam o rumo e tropeçaram num púlpito
está patenteado tristemente nos ministérios infrutíferos e nas igrejas
decadentes que nos cercam. Errar na vocação é terrível calamidade para o homem,
e, para a igreja sobre a qual ele se impõe, seu erro envolve aflição das mais
dolorosas (O chamado para o ministério. Pg. 8) Ninguém será feliz de verdade no
ministério pastoral se não tiver convicção da vocação colocada dentro de si por
Deus.
O chamado dá
sentido ao ministério
Quando
Cristo ascendeu ao céu, providenciou uma forma de não ficarmos desamparados
aqui na Terra. Ele enviou o Consolador, o Deus Espírito Santo, o qual escolhe
como distribuirá os seus dons.
“E ele
mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para
evangelistas, e outros para pastores e doutores (Ef. 4:11). O texto é claro,
Deus é quem escolhe alguns para ser pastores.
Ser pastor, portanto, é
mais que uma escolha, é vocação. “Ser pastor sem vocação é como ser membro
professo e batizado sem conversão. Nos dois casos há um nome e nada mais” (C.H.
Spurgeon. O chamado para o ministério. Pg. 9).
Certa vez um teólogo
foi indagado por um jovem sobre a sua vontade de seguir a vida ministerial e a
resposta do experiente teólogo foi: “não entre no ministério se puder passar
sem ele”. Há muita sabedoria nesta frase. Se no coração há mais opções além do
ministério, então, pode ser que não haja uma certeza do chamado. O ministério é
para quem não se vê fazendo outra coisa.
Sempre foi Deus quem
chamou seus pastores. No passado encontramos alguns exemplos. O profeta Isaías
foi chamado por Deus para o ministério. Antes, no entanto, de efetivamente
começar a trabalhar recebeu de Deus o privilégio da visão que está relatada no
capítulo seis do seu livro. É nesse contexto que encontramos o seguinte:
“Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por
nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim. Disse, pois, ele: Vai, e dize
a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não
percebeis (Is. 6: 8-9).
O chamado do profeta Jeremias é outro exemplo de
como Deus escolhe, chama e capacita seus pastores. Ele disse para o profeta:
“Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre te
santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jer. 1:5).
Encontramos ainda o chamado do profeta Ezequiel.
Deus disse para ele: “Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às
nações rebeldes que se rebelaram contra mim; eles e seus pais têm transgredido
contra mim até o dia de hoje” (Eze. 2:3). Mais uma vez encontramos Deus escolhendo
e chamando alguém para pastorear o seu povo.
O próprio Deus falou pelo profeta Jeremias: “e vos darei pastores segundo o meu coração,
os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência” (Jer. 3:15). Deus
escolhe, conhece e capacita a todos aqueles que Ele designa para o ministério.
O pastor C.H. Spurgeon,
depois de anos de experiência, estabeleceu quatro sinais da vocação ministerial
com os quais ele avaliava os jovens que demostravam interesse pelo pastorado.
1
Desejo intenso e absorvente de realizar
a obra
2
Aptidão para ensinar e outros atributos
para o ofício do instrutor público
3
Que aconteçam algumas conversões como
fruto do seu esforço
4
Que a sua pregação seja aceitável ao
povo.
Certamente essas são
características que estarão presentes na vida de todos aqueles que receberam o
chamado de Deus. É, no entanto, a certeza do chamado que dá sentido a tudo que
fazemos enquanto pastores. Deus providencia as habilidades que são necessárias.
O
chamado nos lembra da responsabilidade do ministério
A Bíblia fala dos
cristãos e especialmente dos pastores como embaixadores de Cristo (2 Co. 5:20).
Essa figura é bastante significativa para os ministros do evangelho. Primeiro
porque alguém só se torna embaixador se o convite for feito pelo governo que
ele representará. Segundo, o embaixador vive no país estrangeiro como se
estivesse no país de origem, inclusive o território da embaixada é considerado
um pedaço do país que a embaixada representa.
Outra função atribuída
aos cristãos e que se torna potencializada para os pastores é a de despenseiros
(1 Co. 4:1). O despenseiro é alguém autorizado a cuidar dos bens do nomeador,
uma espécie de administrador. No entanto, ninguém se nomeia despenseiro, ele
sempre é nomeado. Experimente nomear-se despenseiro de um rico e começar a
negociar com os bens dele. Logo descobrirão suas intensões e cortarão seus
privilégios.
Tanto o embaixador,
quanto o despenseiro são nomeados por Deus. Não escolheram a função, foram
escolhidos. É assim com os pastores, eles foram escolhidos por Deus para
representar o reino de Deus na Terra e para cuidar dos bens de Deus que são as
pessoas, a igreja, sua família e o seu próprio corpo.
Receber de Deus o
privilégio de atuar no ministério deve nos fazer valorizar a vida que temos.
Certamente não seremos ricos, mas teremos todas as nossas necessidades supridas
pela igreja de Deus. Devemos lembrar-nos de exercer com responsabilidade a
função que Deus nos confiou. “A obra de Deus não deve ser malfeita ou realizada
relaxadamente. Quando um pastor entra num campo, deve trabalhá-lo
completamente. Ele não deve ficar satisfeito com seu êxito, enquanto não puder,
mediante diligente trabalho e a bênção do Céu, apresentar ao Senhor conversos
que possuam um genuíno sentimento de sua responsabilidade, e que farão a obra
que lhes é designada” (Obreiros Evangélicos, 369).
A consciência do
chamado de Deus deve também fazer nos preparar melhor a cada dia para a nossa
função. Não podemos esquecer que o aspecto intelectual é importante, mas o
primeiro aspecto dessa preparação é a parte espiritual. “Os ministros de Deus
devem chegar a um íntimo companheirismo com Cristo, e seguir Seu exemplo em
todas as coisas - em pureza de vida, abnegação, benevolência, diligência, perseverança”
(Obreiros Evangélicos, 31).
Deus, através de sua
mensageira, nos adverte ainda: “Há necessidade de homens de fé, que não somente
preguem, mas ajudem ao povo. Homens que andem diariamente com Deus, que tenham
viva ligação com o Céu, cujas palavras tenham o poder de levar convicção aos
corações (Obreiros Evangélicos, 31).
A responsabilidade
espiritual do pastor é gigantesca. “Lembrai que a falta de consagração e
sabedoria de vossa parte poderá fazer pender a balança para uma alma, levando-a
à morte eterna. Não vos podeis permitir descuido nem indiferença. Precisais de
poder, e este, Deus está disposto a vos conceder sem restrições (Obreiros Evangélicos,
35).
O
Chamado nos dá a certeza da recompensa
Deus nunca pediu nada
de nós sem que nos tivesse dado algo antes. Quando Ele pede a dedicação de
alguém para o ministério, Se responsabiliza pela capacitação e cuidado de todos
os que se colocam em suas mãos.
Além de capacitar e de cuida, Deus também
recompensa. Em um texto escrito de maneira especial para os pastores, o
apóstolo Pedro faz uma promessa divina: “E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da
glória” (1 Pe. 5:4).
Não há dúvidas de que
todos que estão no céu depois da volta de Cristo desfrutarão de uma imensa
felicidade. Acredito, no entanto, que a felicidade dos pastores que lá
estiverem será um tanto quanto especial. Fico imaginando os pastores recebendo
muitos abraços de membros gratos por terem sido guiados no caminho certo.
Imagino ainda o Supremo
Pastor Jesus Cristo fazendo mais um chamado para os seus co-pastores. Dessa vez um chamado para contemplar o fruto
de tantos anos de esforço, suor e lágrimas. Um mar de pessoas levadas a Cristo
por meio de um ministro comprometido com o chamado feito por Deus. Vale a pena
valorizar o chamado recebido de Deus e viver uma vida de dedicação à salvação
dos outros.
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